quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Apreciações

Gosto de pessoas doces, de gente que sorri, sorri com lábios, sorri com os olhos. Gosto de gente que tem medo, que sabe guardar segredo; adoro gente que olha no olho, que não precisa fazer pose, que não vê graça em fazer cara de mau como é comum entre jovens que necessitam afirmar masculinidade que às vezes nem tem, e por isso capricham na cara de mau; também não gosto de gente sem sal, e antes que te apercebas da rima pobre, esclareço que trata-se da gente do tipo a boazinha, o subserviente.
Tenho inveja de quem escreve bem, morro de inveja de quem toca algum instrumento, de quem tem ritmo, na voz, no corpo, na alma; eu desprovido deste dom desafino até quando aplaudo, já que minhas palmas em geral acontecem em descompasso às da claque.

Me despertam pena os sem chance, os que nunca terão revanche, os sem estudo, os sem emprego, os sem água do nordeste, os alagados do sul, os sem teto, os sem terra, os garotos e garotas de frete desempregados. Os que causam escárnio.

Me dão medo os bandidos, os viciados, os falsos, os que têm complexo de inferioridade, porque estes sempre vão puxar para baixo os demais, já que não conseguem vir à tona, como náufragos, como os que se afogam acabam por matar seus salvadores, aqueles que não conseguem subir e estão sempre a denegrir alguém a fim de que estes possam estar no mesmo nível em que se encontram: o baixo. Como todos, tenho medo do mau encontro, nunca sabemos como, quando e onde ele pode acontecer, ou de que forma se pode dar. E assim morrendo de medo, mas resistindo, não coloco grades nas janelas, não subo muros, e confio que o mau encontro não se dará.

Então em vez de pensar no mal possível, melhor pensar no bem. No bem que me pode acontecer, no bem que posso fazer a outro, especialmente aquele bem mais fácil de fazer, que é o bem que fazemos àqueles que gostamos. Fazer bondades, como dizia tia Tereza, a quem não se gosta é mais difícil, e sentimo-nos como a colocar uma máscara de otário, mas se são verdades todas as retóricas sobre elevação espiritual, sobre o bem e o mal que voltam, não custa tentar no mínimo ser justo. Afinal, de quanta gente não gostamos, não vamos com a cara e de repente depois de uma conversa com aquele mudamos de impressão?

O oposto também acontece, é onde digo sempre que desconfio das amizades feitas muito rapidamente. Mal se conhece e o outro já se diz nosso maior e melhor amigo, e as vezes por momentos até o acreditamos e sentimos assim. Mas como plantas de floriculturas, que crescem e florescem à custa de adubos químicos sem enraizar-se completamente, rapidamente sucumbem, e mesmo transplantadas dificilmente voltarão a ser tão vistosas. Assim também o é com o trato dessas relações, um olhar mais atento, uma frase reveladora, um ato... e você percebe que o azul celeste ganha tons plúmbeos. E aí, já não é mais primavera ou verão na relação, que pode se manter outonal, ou cair na mais rude frieza e escuridão do inverno; torna-se uma relação cordial, que é o que teremos.


Foto: Djair - "O senhor dos gatos" Castelo de S. Jorge - Lisboa - Portugal


4 comentários:

  1. não temos tempo a perder... não tenho medo de encarar; as pessoas que nos virão; e que se irão; as que limparei da lista; importante as que ficarão.

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  2. Uauuuuuuuu muito lindo este texto. Também sou desafinada em tudo. Dias atrás estava cantando no único lugar possível, quando meu filho bate na porta do banheiro e diz: Paraaaaaa se desafina muito faz parte. grande abraço e Parabéns.

    Carminha

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  3. Lindo texto Dja, identifiquei-me com ele!!! São reflexões que todos deveríamos fazer, são os aprendizados que a vida nos proporciona, então melhor pegarmos a onda e simbora! Adorei!!! bjss

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  4. Nossa,que delicadeza de texto!
    Se a maioria do ser humano soubesse apreciar as coisas mais
    vitais,olharíamos com mais vivacidade para fora e,principalmente,para dentro de nós.

    Beijão,Dja!

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