quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Comidas, colegas e causos de infância.

Hoje no café da manhã o papo flui para comidas antigas, comidas de infância, logo: comida de pobre.
 
O item que deu início a essa sessão de rememorações foi “quitute de boi”, que é uma espécie de carne prensada que vem enlatada, e a lata quadrada é aberta por uma espécie de chave que você gira até cortar a tampa. Também vinham latas de fiambre no mesmo formato, isso lá pelo final dos anos 1970, inicio dos 1980... E era também um empurrão rumo aos enlatados estadunidenses, como as almôndegas e os feijões brancos. Tudo pronto e enlatado, moderno!


 
Na TV, “A feiticeira” há tempos já usava o nariz a fim de ligar na tomada o liquidificador e o aspirador de poeira, já que o belo nariz arrebitado não podia de vez acabar com o pó (não confundir com pós brancos e alucinantes) de sua casa ou fazer vitaminas para a família. Lá pelos anos de 1960, sua finalidade como garota-propaganda era disseminar os produtos mundo a fora. Afinal, seu marido era um publicitário que mostrava ao mundo a nova profissão e, sem eles - a profissão e os produtos, a série nem mesmo existiria. Na mesma época, "Jeannie é um gênio" popularizava a Nasa e por aí vai.
 
Mas voltando às comidas, como alguns não conheciam o dito "quitute", terei que comprar e fotografar um deles. Portanto, amanhã ou depois este texto terá ilustrações, não percam...
 
Do quitute, que falamos ser também comida de pobre, pois pobres éramos, passamos para taioba, outro desconhecido do lado direito de quem estava à mesa... Imagine então se eu falasse de vinagreira e bolo frito...

Lembrei de angú... 
 
Lembrei-me de Washington.
 
Washington era um dos coleguinhas de infância; sua mãe, que hoje percebo devia ser fã de musicais hollyoodianos, vestia-se sempre como se fosse sair e usava colarzinho de pérolas (falsas é claro) o tempo todo, talvez por assim chamar-se. Sempre bem penteada, moravam em uma das casas mais bonitas da rua. Na varanda, assim como no interior, vasinhos de flores à moda das casas de filmes das sessões da tarde.
 
Era o contrário da mãe de Kleiton. Esta, a costureira da rua e que, pelo visto, levava vida apertada, chamava-se dona Esmeralda e hoje imagino se ela tinha alguma rixa com dona Pérola, podendo então este texto chamar-se a rusga das jóias.  
    
Brincávamos na rua, já que àquele tempo poucos tinham carro na nossa, que formava um cotovelo e não tinha saída, praticamente uma vila. Em nossa infância mineira estávamos sempre a correr, pular corda, jogar queimada ou brincar de pique na rua ou a brincar em algum dos quintais vizinhos, amplos e com flores ou árvores...
 
Em geral ao tornar-se a tarde mais quente, lá pelas 15:00 ou 16:00 hs., invariavelmente ouvíamos dona Pérola que saía à janela ou varanda a gritar como se estivesse a cantar uma ária de Bizet:
“_Washingtooooooooon... Meu filhinhooooo... Venha lanchaaaaar... Tem pão com salameeeeeee, e guaranááááááá... Traga seus amiguinhooooos...”
 
Imediatamente, dona Esmeralda abria a janela, com força, que sempre batia às paredes e berrava: “_ Creitô! Vem cumê!! (Sic) Tem angu doce! Traz fi-da-puta nenhum não!!!”


Foto: Claudia Cavalcante - Lata de quitute bourbon.

17 comentários:

  1. Já conhecia esta hístória! Muito hilária! Tive o privilégio de ouvir com direito a imitação das vozes! :-)

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  2. Você é tão perfeito nas descrições que eu me transporto ao tempo em que era pobre kkkkkkkk

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  3. Concordo com Garrettimus, você contando isso pessoalmente não tem igual!

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  4. concordo com Ivone tb me transporto pra historia e fico pensando que comida de pobre o que!!!
    O pior é certo "espiritos pobres" que costumo encontrar!!

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  5. Quero agradecer ao Djair por ter me trazido folhas de TAIOBA, já que eu não conhecia. Levei para casa e no mesmo dia o meu marido já preparou. É muito bom !!! Gostei.

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  6. Amigo achei que iria encontrar lembranças de outros quitutes da infância, como maria-mole rsrsrsrs... Mas gostei, alias eu conhecia a carne enlatada como apresuntado não é a mesma coisa?Comida de pobre mais limpinha né!Flávia

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  7. O texto, a começar pelo título, é muito bom: tem ritmo e desperta interesse.
    Muito bom!
    Abraço grande,
    Tania

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  8. Achei o FIAMBRE no mercado! Tirei uma foto para você colocar no seu post. kkkkkk

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  9. Dja,
    Gostei tanto do texto que li três vezes. Imprimi, para ler depois de novo. Você esta cada dia melhor. Agora vou criar o hábito de ler sempre, porque sou meio (muito) preguiçoso. que tal reunir tudo isso em livro?
    Beijão.
    Diô

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  10. Djair,
    Amei o texto...queria ler dia desses para as professoras...posso?
    estou rindo ainda...lembrei de uma vizinha...que para chamar seus gritava de dentro de casa:
    _ Passe pra dentro Roseniiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!! Antes que seu pai pegue a peixeira!!!!!!!!!

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    1. A vontade Su, pode contar, de preferência citando a fonte. rsrsrs
      beijão

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  11. E é claro que que eu comi carne enlatada...adorava abrir as latinhas..ir enrolando...até abrir...

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  12. I’m not that much of a online reader to be honest but your blogs really nice, keep it up!
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  13. puts, ainda vende essa lata, que vinha com uma chave do lado? Dá pra uma criança de hoje em dia, o cérebro delas não estão preparados pra isso rs. Aliás, brincar na rua, cada vez vejo menos. Sou da geração dos anos 80, ainda brincávamos na rua.
    Creito foi da hora. Adoro seus textos mano, parabéns.

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    1. Vende sim Baratta, ainda chama-se Kitut de boi, e também o fiambre o apresuntado, comprei recentemente no "pastorinho" pra matar as saudades.

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  14. De, adorei!! nunca comi carne enlatada porque na minha casa tinha carne de porco da lata kkk aposto como muita gente não sabe do que se trata que é uma etapa antes dos enlatados!! uma beijoca, Le

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  15. Que delicia, lembrei e comia frita e também lembrei do ponche de frutas que tinha nas festinhas de adolescentes e vinho com água e açúcar que meu pai preparava para o almoço. Amei boas lembranças. Valeu por traze-las tão perto
    Carminha

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