quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Algumas palavras sobre Freedie e eu.


         Ontem finalmente fui assistir “Bohemian Rhapsody”,  já escrevi aqui sobre alguns filmes. Não sou especialista em cinema, apenas gosto de e de vez em quando algum filme me toca a ponto de querer falar sobre ele, de escrever sobre ele. 

Bhoemian Rapsody não é um grande filme. É um belo filme. As canções sobretudo já o fazem valer a pena. Toda biografia puxa um pouco a brasa para a sardinha do biografado, para além disso, a velha fórmula do cinema e dos grandes ídolos, são ídolos por morrerem no auge, sexo, drogas, Rock’n roll baby!

No mais uma história conhecida, o mocinho que enfrenta o mundo entra na sua solidão e se dá mal. Como se a liberdade fosse algo a merecer sempre um castigo.

 A cena mais picante é um beijo entre dois homens, nada que novelas já não tenham mostrado, ao menos no Brasil, em horário nobre. Daí eu não entender a revolta de parte do público paulista de quem houve notícias na imprensa e nas redes sociais de terem vaiado o filme por descobrirem ser o biografado homossexual. Mas que tipo de idiota desinformado não sabia disso e vai assistir ao filme? Enfim, quem não tem segurança de sua sexualidade está sempre incomodado com a dos outros.

A referência a apresentação do Queen no Rock’n Rio me dá alegria e uma pontadinha de orgulho...

Nos anos 1980 lembro que se atribuía a Mercury a declaração de ter tido mais amantes que Elisabeth Taylor. Já não lembro se ouvi ou li em uma dessas revistas de TV e fotonovelas que minha mãe lia, contigo, ilusão, Grande Hotel...

Também não traz grandes informações sobre Freddie. Pouco sobre a família, se atem bem mais a banda, e as músicas, e aí está grande parte de seu mérito, não o vitimiza, não explora a doença, não faz o que a revista veja fez com Cazuza. E difícil não lembrar também daquele tendo assistido o filme sobre ele, oficial... autorizado pela família... Aliás a mesma que não cumpriu seu desejo de cremação e queima das letras inacabadas. Mas deixemos aquele descansar em paz.

Lembro do dia que Freddie morreu. À época eu ainda assistia o jornal Nacional, que começava as 20h. No rádio desde bem mais cedo tocavam suas músicas, como é normal fazerem a cada morte de cantor famoso. Na sala minha mãe e eu, era uma casa alugada, numa rua chamada João Chico, que me faz lembrar o Rhadanatha, amigo Hare Krsna a me zoar dizendo que nem pra morar numa rua com nome decente... Ao final do Jornal, uma matéria longa sobre Freddie e seus últimos dias, recluso, sem querer levantar bandeiras em um tempo que a soropositividade valia por uma sentença de morte, aliás, mesmo já não sendo até hoje mete-nos medo, medo da morte, da doença de um preconceito ainda maior que o que enfrentamos diariamente, e imagens, muitas imagens, e música, dança, alegria, daquele que morreu triste, e quase só. Lembro de chorar e minha mãe dizer não entender como eu chorava por alguém que eu não conhecia e que estava do outro lado do mundo. Bem, agora estou do outro lado do mundo, e talvez ela não me conheça, será que chora se eu morrer?

Não sei, talvez eu chorasse pela solidão do outro, por ele ter tudo, ter sido tudo o que quis e não mais ser nada naquele instante. Talvez eu tivesse mais empatia a época. Talvez porque já tivesse gosto por quem luta, enfrenta, faz, trabalha, vive. Não sei... Não era propriamente um fã do Queen, embora gostasse das músicas, nunca segui sua carreira, nunca tive pôsteres no quarto como de Marina e Cazuza. Mas ali, senti tristeza por sua partida. O mundo ficou menos alegre desde então, isso é inquestionável. Enfim... Chorei.