quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Umas palavrinhas sobre exclusão de perfis




Quando deleta-se uma conta, numa rede social, é como que se fizesse um suicídio diante do grupo de pessoas que o seguem, que acompanham (ou muitas vezes não, apenas ocupam ali um espaço com uma pequena fotografia a fim de lembrar aos outros sua existência), o seu dia-a-dia, suas fotos, sua pretensa vida social e ativa, seus pensamentos, gostos, critérios, martírios e enfados cotidianos.

A exclusão dessa página é como se dissesse a eles: não aguento mais, nem a mim, e nem a vocês, e é por isso que vou-me embora. Não seria talvez para Pasárgada, pois lá até o rei já deve ter sido destronado e nem sequer se dava a conhecer, quanto mais a ter grandes amizades.

 Ao sair, sempre se lembra de quem antes abandonou a rede, como no “corvo” de Allan Poe “outros amigos voaram antes e não voltaram jamais”.

Muitas vezes, a maioria das saídas é só por um tempo. Muitas vezes excluem-se apenas as páginas falsas, que fazemos para diversão ou para o que não temos coragem de dizer sem máscaras, ou que conforme vamos dizendo sem as tais, essas já não fazem sentido, e então mata-se o heterônimo. Aí então seria o assassinato de uma persona latente dentro de nós? Não, não chegamos às faces de Eva nem à genialidade de Pessoa, mas sim, a cada ambiente, a cada espaço, somos um, temos um id e um superego sempre em guerra, e a cada vez um marcha à frente, por isso vários somos, nem sempre gostamos desses que nos formam e por eles também somos tomados, a poesia bela que escrevemos ou a rispidez que enrijece os músculos da face. E ultimamente o “livro de faces” é grande fomentador dessas nuances, por isso o suicídio (ainda que aí possa ser temporário) das nossas personalidades sociais. Na “rede”, muitas vezes sente-se enredado.