terça-feira, 24 de janeiro de 2012

São Paulo 458 anos

São Paulo 458 anos

Hoje aniversário da cidade de São Paulo.

Visto preto.

Visto luto.

                Luto por todas as àrvores sãs que cortam sem motivo, ou porque as folhas caem na calçada e dá trabalho, ou porque a paisagista da prefeitura não gosta, ou para fazer mais uma vaga de estacionamento.

                Luto pelos que estacionam carros na calçada e acham que é correto, pelos jovens que ocupam as vagas de idosos nos estacionamentos de supermercados, shoppings e afins; pelos estacionamentos e pontos comerciais que fazem da calçada extensão de seus domínios.

                Luto pelos rios e corregos da cidade, que não estão morrendo, estão mortos.

                Luto pelas pessoas que usam mochilas nas costas nos corredores de metrôs e ônibus lotados e ainda assim se acreditam educados. O mesmo para as moçoilas com bolsas enormes  que enfiam à cara das pessoas sem se importar com quem está ao lado. Aliás, luto pelo transporte público sucateado, porque pobre não tem vez, melhor abrir uma nova avenida para mais carros que um corredor de ônibus, e assim melhor o trânsito, não o transporte, luto pelo descaso com a população.

                Luto pela vergonhosa câmara de vereadores; luto por quem vota em celebridades, sejam artísticas, instantâneas ou religiosas. Luto por quem cai em artimanhas políticas que apresentam candidatos antigos como se fossem novos, e pior ainda, como tábua de salvação.

                Luto pelas faixas táteis do terminal de ônibus da estação Santa Cruz do metrô, onde  a faixa de piso táctil (para cegos) leva a uma coluna, sai de trás daquela e leva à... Outra coluna.

                Luto pela falta de espaços onde o cidadão possa se apropriar deles, luto pela falta de parques, luto pela progressão escolar, que desmoraliza e desincentiva ainda mais os professores.

               Luto pela arrogância e preconceito.

               Luto pelos engarrafamentos por falta de transporte público de qualidade.

          Luto pelo metrô que segue por bairros nobres e menos populosos, mas que dão maior visibilidade que bairros populosos como o Jardim Miriam que está há poucos quilômetros do Jabaquara o que facilitaria sua inclusão no transporte público de maior qualidade.

                Luto pelas salas de cinema fechadas.

          Luto pela falta de ciclovias, pela falta de banheiros públicos decentes que evitariam a fedentina no centro.

                Luto por um teatro municipal que só é “municipal” no nome já que não serve ao povo.

                Luto pela maioria das pessoas não se importar.

                Luto por jornais que fazem campanha contra censura e demitem pela mesma causa.

               Luto pela violência, luto por policiais que fardados passeiam pela Av. Paulista e peitam e dão ombradas em transeuntes por serem “a lei”. E esquecem que por isso mesmo deviam dar exemplo.
                 
                Luto pela falta de cordialidade, de educação.

                Que o luto em sinal de pesar tenha a força de luto do verbo Lutar.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Criança feliz, é criança educada.

                Há uma tendência generalizada, a se achar que crianças são boazinhas, especialmente as mulheres com seus instintos maternais e estrogênio em abundância.

                Não são! Crianças são apenas bonitas. E olhe lá... Pois pequenos ogros estão por ai, e muitos deles em concursos de beleza infantil.

                Pais despreparados, mães culpadas por não terem tempo suficiente para se dedicar a eles, avós permissivos e encantados pelo feitiço incompreensível que os netos exercem sobre eles. Tios corujas, padrinhos deslumbrados em “ter” um afilhado.

                Todos cúmplices, todos criadores, mantenedores e fomentadores de pequenos egos que fermentam e crescem mais rápido que epidemias de conjuntivite no verão. Mais rápido que os próprios pequenos.

                Conheço dezenas de casos... A “princesinha” que pais, avós, tios, dia após dia diziam ser linda e ao ouvir repetidamente tais e tantos elogios, neles crê, e que fazem crescer no mesmo ritmo uma personalidade oposta ao elogio.

                O neto, já pré-adolescente que sempre morou com a avó, e que, após os pais separarem, cede à chantagem emocional da mãe, que o quis abortar, e vai morrar com aquela. Com ela assite filmes madrugada adentro, acorda ao meio dia, e vai almoçar... Na casa da avó. Após a sobremesa sai às carreiras e vai para lan house. Joga até o tempo acabar e retorna à casa da mãe. À hora do jantar liga ao pai que vai buscá-lo e, já jantado não se demora e volta à asa materna(?).

                Uma pequena miss diz a mãe que não quer que esta vá a festinha na pré-escola pois tem vergonha da mãe ser mais feia e mais velha  que as das coleguinhas. Pois que a mãe continue a incentivar a beleza externa e colha mais louros.

                Uma conhecida, de tempos atrás, dizia que para ser mãe se deveria fazer vestibular. É vero, os pequenos monstros, não domados, cada vez mais não tem que fazer esfoço para nada, para agradar ninguém. Apenas ser bonitinhos e engraçados...

                E antes QUE o texto fique ainda mais denso, vou concluindo com aquela “lindezinha de mamãe” que aos sete bem vividos anos disse à mãe noite dessas que não iria jantar, pois não queria ficar gorda como ela. Detalhe a mãe da “lindezinha” não pesa mais que 70 kilos distribuídos em seus cerca de 1.73m.

                São essas as que me despertam imensas saudades de Herodes...


                É óbvio que existem crianças lindas, educadas e simpáticas, muito queridas por todos e por estas, estão de parabéns os pais que lhe impõem limites, que lhes educam verdadeiramente, com conceitos morais e éticos, que ensinam respeito e bondade. Mas se não são assim... Não, não deixai que venham a mim as criancinhas...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Chupa essa manga


                Estava eu a ler Fatos de Fato, blog da Mary Miranda, e eis que um post sobre “Mangas” lembrou-me variadas mangas, de manguitas que nunca mais vi às mangas rosa de quintais alheios, cobiçadas e muitas vezes roubadas, como as mangas de fiapo da casa de D. Juscelina.Em uma  ocasião inclusive, em galho altíssimo, estava uma lá posta em sossego tal Bela Inês, dependurada e brilhante à luz do sol, e Patrícia, prima minha, a olhava cobiçando a dizer que podia cair, e... Com uma brisa rara naquele calor de Floriano, a tal manga cai, e ela corre apanhando para lavá-la e degustá-la com gosto. Lembro também das manguitas, pequeninas e cheirosas que comia quando morávamos em Minas e que meu pai na feira comprava às dúzias. Uma vizinha, excepcional, que em sua infância tinha dificuldade ao falar, sempre que íamos à feira, vinha em casa e dizia que “A mamãe mandou falar pra mandar uma manga pra ela, pra colocar na ferida de papai”. Não sei de onde ela deve ter tirado que manga poderia servir como cataplasma, e como sabíamos de certo que as mangas não seriam para curativos, sempre dávamos a ela mangas para a família toda.
 

                Já as dúzias de mangueiras de tia Maída tomam um enorme pedaço de chão na roça do “quebra cangalha” e não posso lembrar dela sem lembrar do padre que ao pedir algumas colocou dois sacos no carro dando voltas que víamos da janela, mas pra finalizar o serviço pegou apenas meio saco e passou mesmo pelo quintal da casa (na fazenda). Escorregou rolando saco, mangas e padre... Tia Maída, com seu sorrisinho malicioso de canto de boca, apenas falou sobre o castigo: “Mas que bobagem, pode pegar à vontade, que as mangas estão a fazer lama, e tem tanta gente na paróquia...”  
 
                Lembro das mangas rosa de Dona Caetana, avó da esposa de um primo, de quem eu muito gostava, e ela de mim, tanto que, mesmo em outra cidade, sempre que tinha oportunidade, ela mandava-me sacolas de manga. Quando ia visitá-los é que comíamos com gosto. Chegava às vezes de madrugada das festas, sentávamos eu e minha tia Teresa, na praça em frente a casa e às quatro de “la matina” púnhamo-nos a comer manga rosa... 

                Aliás mangas rosa me perseguiam. Quando em Recife, as mangas rosa da casa do Terceiro, que morava em Olinda, eram saborosíssimas, e ele como bom amigo sempre me dava aquelas delícias. E lembrando as mangas de sua casa não há como não lembrar que lá também havia pimenta malagueta, e que certa feita um tio dele colheu um pacotinho e o levou no bolso de trás da calça. Contou depois as peripécias de quando se sentou no ônibus que o levaria à casa e as pimentas com a pressão do peso... bem, fizeram sentir seu ardor... e ele sem lembrar a causa do sofrimento tentava se ajeitar na poltrona e mais esmagava, e nisso mais elas ardiam em uma região tão inóspita que mesmo quando “caiu-lhe a ficha” sobre o porque de seu tormento, e tirar dali o saquinho de pimentas, o mal estava feito e o pobre velhinho ficou a arder-se por horas. 

                Mas voltando às mangas lembro-me do Rogério Magri, ministro do governo Collor, que em uma viagem para reunião da OIT em Genebra na Suiça, faltou à reunião e afirmou que tinha saído para comprar... “Mangas”...
 
                Bem, ela poderia ser a fruta do pecado no lugar da maçã, que é mais seca, e a meu paladar causaria mais tentação. Mas as da casa do Sr. José, pai da Socorro Rocha, eram algumas das mais saborosas que já provei. Tinha espécies que apenas por lá vi, e eles nos mandava aos quilos; aliás tinha uma que chamávamos manga de quilo, devido a sua dimensão e peso. Muitas vezes estive debaixo daqueles pés, enquanto Socorro ou Maria José lavavam roupas com água do poço... Era realmente um pedaço de paraíso aquele quintal.
 
                Na praça atrás da Faculdade de Direito no centro do Recife, existe também dessas mangas enormes (assim como jambos roxos) e é preciso cuidado quando elas estão maduras e a cair. Em um bar que ia muito no Jockey em Teresina, acima das mesas, as mangueiras iam alto e perigosas. Mangas pairavam por sobre nossas cabeças enquanto a cajuína aplacava calor e adoçava boca e espírito. Nunca fui atingido por uma manga, fruta asiática que aqui (em que se plantando tudo dá) plantada se adaptou tão bem que parece nativa. Em boa hora um antigo prefeito de Floriano (Pi) arborizou a cidade com elas. As mangueiras, da família Anacardiaceae, estão por toda cidade, abençoada sejam.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Reflexões sobre pensamentos e ações

                Clarice  Lispector quando ia escrever um livro, exilava-se em um hotel, ainda que no bairro das laranjeiras, o mesmo em que residia. E ali, deitava a pena a folha sem preocupar-se com nada a não ser a dar cor, em forma de letras, às suas idéias.
                Tarsila, já habituada ao cotidiano de Paris, ao retornar ao Brasil trouxe seus experimentos pelo cubismo na bagagem. Aliás, cubismo que o próprio Picasso só foi experimentar ou pelo menos trazer à luz, depois da famosa “fase azul”. Afamado, afortunado...
                O processo criativo que nos chega como notícia de massa, beira o excentrismo de facto, porque parece dado livremente àqueles já abastados ou beijados pela fama.
                Pelas narrativas de cantores, compositores, atores e outros “ores” donos de outras dores, temos registros de brigas para fazer da sua arte, o que se quer, o que se acredita. Uma vez perguntada porque tinha aceitado um papel desprestigioso em um filme a atriz estadunidense Daryl Hannah, teria respondido que aceitava papéis de que não gostava por ser uma atriz que precisava trabalhar para comer...
                Nas artes em geral, no dia a dia...
                A fotografia do feio choca o gosto fácil pelo belo. O afago meigo que disfarça a mão – a mesma que apedreja – rude.
                A resposta que traz consigo novas perguntas e questionamentos, que faz mexerem-se neurônios, ao contrário das “short answers” que com suas respostas objetivas não fazem ninguém pensar nas possibilidades atrás de cada interrogação, mas trazem sim pontos finais, sem possibilidades de novos questionamentos.
                E assim se emburrece na leitura fácil do semanário que dita modas e comportamentos. Nas novelinhas que mostram que o “ficar” é mais importante que o gostar. Que o que importa não é o gasta, o quê se pode pagar e sim o comprar para mostrar aos outros que se tem.
Afinal, se o “tem olhos para ver, que vejam” se resume a pré-estréia da fita com mais efeitos “especiais”, quem é que vai ouvir?