segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Dislexia

 Dizem que para um bom entendedor, um ponto e um risco é Francisco. Eu, que nem nesse santo sou chegado, de tanto que lhe esparramaram o nome por tanto agregado esse mundo e que em nada tem com ele a ver, nunca o fui.

Do ponto, só sei que oferece risco.

Já confundi muito sorriso com amizade, já acreditei que tanta gente era o melhor amigo ou amiga.

Só faltei confundir isso com dor na bexiga, quando era ainda menos que isso.

Já pensei que amizade se pagava com respeito.

Já acreditei que amizade era favor.

Já emprestei dinheiro a gente que nem precisava, tipo o Russo, que “achava que era prova de amizade se alguém levasse embora até o que eu não tinha”... E assim fui roubado, enquanto era abraçado, muitas vezes.

Se pra bom entendedor, meia palavra basta, nem bom leitor eu sou, pois muitas vezes não compreendo frases inteiras, orações, parágrafos, capítulos... Ai de mim que não domino essa arte. Talvez por isso, o enfarte.

Não compreendo a vida, essa a que tanta gente se apega, por mais inútil e vazia que seja. Que medo é esse? Morrer? Por que não, se é inevitável? Oh morte, sê bem-vinda.  Quem sabe não seja ela a professora que vai ensinar que Francisco não passa de um ponto, no máximo um risco.

 

terça-feira, 19 de outubro de 2021

A Tosse

 

Curut, curut, curut...

A Tosse não deixa as palavras serem pronunciadas

Também ensurdece ainda mais os ouvidos – que já não são bons.

O peito arde

E dá sentido ao coloquial “arder em brasa”.

O único conforto é estar em casa

E a rima pobre começa, como a querer fugir da prosa que norteia meus textos, mas uma rima só não basta, assim como nem, apenas, um chá alivia a garganta e o peito.

Mil recomendações de cada um, e mil e um dão as receitas de cinco mil chás, e sucos variando em torno de limões, cebolas, alho, gengibre e o onipresente mel. Infusões, maceramentos e tal.

Há quem lembre o vick vaporub, o suco tonificante das imunidades... Estranhamente ninguém recomendou escalda-pés.  – Curut, curut, curut... _ Sinal de que algum conhecimento vem sendo perdido.

Mensagens de afeto, cuidado, carinho... Outras só pra constar mesmo, como quem diz “tiquei!”.  E malditas figurinhas nas redes... Ai de mim!

Como o peito, a garganta também queima, e desta feita não é azia, mas o ferimento que o ar expulso do peito faz ao passar por ela rumo a boca e narinas, como quem diz: “Não quero ficar dentro de ti!”.

Curut, curut... é seca a tosse. O ar seco, que queima as plantas, saído de nós queima gargantas. Não são brisa, mas tornados que se formam nos pulmões. Pequenos tornados à   guisa de torturas.

É assim... Curut, curut, curut, ou em tempos que aqui tudo beira aos anglicismos, cof, cof, cof pra você.

 

domingo, 10 de outubro de 2021

O texto entalado na garganta

 “Saudade é arrumar o quarto de um filho que partiu.” A frase em uma pichação em letras negras sobre um muro branco, ficava num caminho que fiz por anos do trabalho à casa...

 Quando parti, minha mãe não arrumou meu quarto. Entregou de bom grado aos usurpadores para o destruírem. A Cama e guarda-roupas de casal foram os primeiros a serem tirados para serem usados pelo filho dela e àquela que ele havia arrumado em um posto em beira de estrada. |Nem a cama onde gerou um dos filhos ele comprou. Óbvio que o parelho de som também. Não importava que ela tivesse-me convencido a pagar a metade de um outro pouco tempo antes, - aquele que o filho dela tinha comprado com um primo para fazerem festas, o negócio, como tudo que ele pôs obvio não deu certo, e ele como sempre a fez convencer-me cair em mais um estelionato, o “som” seria de nós dois. Som pago, a primeira coisa que ele fez foi colocá-lo em seu quarto que mantinha trancado a chave – Porque??? Melhor não elucubrar... Claro que como sempre ela deu todo o apoio. A ele...

 Não à toa por muito tempo acreditei até que eram incestuosos.

 A Estante, a sujeita mandou cerrar para fazer um porta panelas. Claro, com aval daquela que deveria cuidar do que ali estava. Os livros? Jogados fora, por cima do muro num terreno vizinho (como faz gente porca), depois queimados, junto com álbuns de selos que hoje valeriam uma pequena fortuna e que eu colecionava desde a infância.

 Os discos, o frigobar, o carpete que cobria o chão do quarto, o móvel de madeira sob medida para o som, tudo destruído. Como se quisessem mesmo apagar minha existência. Afinal, eu só importava na hora dos muitos golpes aplicados, o dinheiro para um freezer horizontal para o bar onde eu seria sócio, e que a sujeita depois vendeu e embolsou, o dinheiro para camas e ar-condicionado que tomaram emprestado a meu companheiro, e nunca pago, quando resolveram montar uma pensão.

 Quando resolvi construir casas para aumento de minha renda gastei todas minhas economias, eram três casas, uma o aluguel seria para minha mãe(?) e as outras duas para mim. Com as brigas constantes do casal usurpador minha mãe acabou-se por mudar para uma delas, o aluguel das outras duas ela disse, uma vez, que ainda não dava pra mandar-me, e assim, nunca os recebi, até hoje, passado um ano de sua morte, continuam a morar numa casa que é minha, e que não demonstram sinal de sair, aliás, foi ela mudar-se e lá se foram morar com ela, destruindo a casa que seria de minha mãe, e que numa maldita hora permiti que colocassem em meu nome e do filho dela, apesar de termos sido eu e ela a comprar o terreno e construir a casa. O bom gosto da sujeita deu as ordens, tiraram as portas e janelas de madeira pois iam colocar de alumínio. Sim, nem Freud explica. Quando perguntado disse que era contra, mas como sempre minha palavra nunca valeu nada, como meu dinheiro? E começaram o a obra(?) portas e janelas arrancadas, paredes derrubadas, e... desistiram, está assim há mais de 20 anos, esperando de certo que o trouxa aqui pagasse a reforma, mas dessa vez não.

 Nem a decência de limparem a casa tiveram, calcinha velha, livros didáticos antigos e toda sorte de lixo que deixaram quando saíram permanecem lá.

 Minha mãe também dizia que “existe pobreza e existe ‘mundiça’.”, tá bem ilustrado.

 Bem, teria infelicidades e pequenos golpes sofridos a escrever por horas,  mas a pichação, mote do texto, já não existe, o muro também já não existe, nem minha(?) mãe. E nem o quarto, pois deixaram que os cupins vindos da arvore de um vizinho, onde não se podia cair uma folha de uma fruteira nossa, avança-se sobre ele e... Enfim...

 “Saudade é arrumar o quarto de um filho que partiu.” A minha(?) não arrumou o meu. “Minha mãe” só teve um filho, e não fui eu.