quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Arrastando móveis

Sempre digo que têm coisas que só saem no suor. Mágoas, raivas contidas, desesperanças, cansaço mental...


Fim de ano, tempo feio, vontade de perpetuar feriados, desejo de vida nova. Nem sempre dá pra mudar as coisas, mas os móveis da sala, ou do quarto, cozinha que seja, sempre é possível. Sempre gostei de fazê-lo, já que mudar de casa é mais caro, complicado, trabalhoso.
Lembro que, ao final nos anos 1980, tinha um grupo de amigos, que sempre ia em casa, bebíamos vinho, conversávamos coisas sérias e prajalpas, ouvíamos música. Em uma destas visitas Marco, que fazia parte do pequeno grupo, comentou: “Nossa! É a primeira vez que venho aqui e os móveis não mudaram de lugar.” Ao que retruquei: “Não, é que faz tempo que não vens, os móveis já giraram 360 graus e pararam no lugar onde estavam a última vez!”

E era verdade!

Penúltimo dia do ano, resolvi mudar a sala, seguindo conselho da editora de interiores do Estadão*, Maria Eunice Fernandes. Tirei todos os móveis e quadros e recomecei sem nada na sala. O resultado, se não foi perfeito, chegou emparelhado. Tenho um móvel, herdado do Nato e da Cristina - um bufê, que nem lembro mais porque chamo de bode, em referência à velha história do bode na sala. Pesadíssimo, de madeira maciça, do qual teria sido mais fácil tirar as gavetas antes de percorrer a sala de um extremo ao outro, mas... Tirar e colocar gavetas, quem tem paciência pra isto? E aí, afastem-se sofás, potes de cerâmica, cristaleira, móvel de Cd´s, mesas de centro e canto, vaso disto e daquilo outro, mantenho os enfeites natalinos ou é melhor já bani-los, já que o aniversário do Cristo passou e faltam tão poucos dias pra desmontar? Bem, se a iluminação do jardim fica, os enfeites também, presépio, árvore, enfeites de porta, etc, etc...
Cerâmicas foram retiradas (aos montes) e algumas, depois dos ajustes, foram guardadas. Talvez precise repensar essa fixação por cerâmicas, mas estando em Diamantina, ou São João Del Rey, Bonito ou Teresina e Alcântara, quem haverá de resistir? Eu sei quem não resiste... 

Quadros mudaram de parede, plantas voltaram a postos ocupados anteriormente (como o pacová, ai de mim se o mudar de lugar, porque a adaptação dele à sala é tão perfeita, que temo pela mudança de iluminação), ou não, tapetes foram trocados de lado. Troca-se a cortina e voilá, tudo está como devia estar. Incrivelmente, com toda essa minha delicadeza de hipopótamo bêbado quebrei apenas um pires. Aleluia!

Mas o melhor de tudo é a sensação de casa nova, e as coisas que saem no suor no decorrer da mudança. Casa renovada, espírito renovado.
* O Estado de São Paulo, caderno Casa &, Domigo, 27 de Dezembro de 2009, p.04
Fotos: Djair
Cerâmicas: Vaso - Bonito - MS, Flores - S. João del Rey - MG, Bonecas - Diamantina - MG
Quadro: Óleo sobre tela, Lavadeira - Eduardo Piantino



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Classe Hospitalar - Um projeto humanizador.

Alguns colegas ao tomar conhecimento de minha participação no Projeto Classe Hospitar, tem perguntado a respeito do mesmo, então narro abaixo um pequeno panorama no qual tento mostrar um pouco deste universo.

No 9º andar do Hospital São Paulo, mais especificamente na Ala Pediátrica, funciona a Classe Hospitalar, que é um dos projetos de humanização da pediatria do Hospital Universitário, da Universidade Federal de São Paulo. O projeto que também é desenvolvido em outros hospitais cidade a fora, país a dentro, faz valer a legislação brasileira que reconhece o direito á continuidade de escolarização para crianças e adolescentes hospitalizados.

Considerada como espaço não-formal de educação*, a Classe Hospitalar é um espaço pedagógico dentro de um hospital, com propostas educativo-escolares para crianças e adolescentes, que objetiva experiências e vivências de aprendizagem; fortalecimento e manutenção de vínculos escolares, para isso procura manter o elo entre o aluno e sua escola de origem; favorecer a reinserção escolar após a hospitalização, o que contribui efetivamente contra a evasão escolar.

* “a educação não-formal abrange qualquer tentativa educacional
organizada e sistemática que se realiza fora dos quadros do
sistema formal (de ensino), para fornecer(...) aprendizagem.”

Fávero

Mais que um espaço lúdico, a classe hospitalar propicia integração social e inclusão sócio-educacional, desenvolvendo projetos pedagógicos nas áreas de linguagem oral e escrita, raciocínio lógico, desenvolvimento cognitivo, apoiando a reintegração escolar, enfatizando a cultura nacional. O projeto conta com pedagogos, professores, médicos, enfermeiros, bibliotecários e outros profissionais em seu núcleo de apoio à saúde fisica, e ao desenvolvimento educacional e cultural. Isso respeitando potencialidades e limitações, adequando-se ao seu ritmo próprio de desenvolvimento da criança e resgatando o fortalecimento do vinculo afetivo, independente do tempo em que esta permaneça hospitalizada.

O atendimento, após uma primeira abordagem/entrevista com a criança e familiares, é realizado de forma sistemática e individual ou em conjunto a depender do estado fisíco/mental e desenvolvimento escolar ,em uma sala própria ou, quando se faz necessário, no leito. O espaço fisíco conta com mobiliario adequado, livros, tv e vídeo como suporte às atividades, que sempre tem uma temática a ser desenvolvida, sejam desenhos, modelagem ou redações, tomando base em uma atividade anterior, como filmes sobre culturas diversas, ou leitura/narrativa de obra literária.

No Brasil, a primeira Classe Hospitalar surgiu na cidade do Rio de Janeiro, no início da década 1950, no Hospital Municipal Jesus, tornando-se referência nacional no âmbito da educação especial transitória por manter suas atividades em funcionamento ininterruptamente até os dias de hoje.

Maiores informações:

http://www.unifesp.br/spdm/hsp/humaniza/p35.htm

Constituição Federal de 1988 – lei 8060/90 do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente . Resolução 41/95

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD. nº9.394 de 20 de dezembro de 1996.

http://blogs.abril.com.br/professorabia/2009/02/classe-hospitalar-ha-espaco-para-professor-no-hospital-ao-abrir-porta-enfermaria-ja-foi-possivel-avistar-juliana-9.html

FÁVERO, O. Tipologia da educação extra-escolar. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, Instituto de Estudos Avançados em Educação, 1980. P.23


Foto: Ana Carolina Bracht M. Souza
Exposição de trabalhos feitos por alunos e mães, na biblioteca central da Unifesp.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Jampa


Há oito anos, quando estive em João Pessoa, os ônibus de linha da cidade tocavam MPB, em volume suave, adequado para o relaxamento e apreciação. Comprava-se do cobrador, que tinha um frigobar ao lado, refrigerantes, água e água de côco. Infelizmente isto já não existe, mas a cidade, conhecida como “porta do sol”, devido à Ponta do Seixas, localizada na praia do Seixas, ser o ponto (continental) extremo leste das Américas, opondo-se, mais diretamente na América do Sul, à Punta Gallinas na Colômbia.


O lugar onde o sol primeiro nasce (e também se põe) no continente, continua prazeiroso, barato e cheio de pequenas descobertas, como o monumento à Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, que não estava lá em minha primeira visita. O sol garantido nos dá uma malemolência gostosa e nos remente ao desejo de uma “siesta”, principalmente depois dos pratos típicos ou não, mas servidos fartamente e a preços surpreendentemente baixos se comparados aos de outras capitais nordestinas. E mais ainda se comparados aos do centro-sul do país. Cioba ou pargo, peixes do litoral da região, não podem deixar de ser apreciados tomando uma cerveja, ou mesmo um refrigerante, à beira-mar, em Manaíra ou Tambaú, sentindo o vento marítimo a bater-lhe o rosto.

Entre as lembranças, pacotes de castanhas, bonecas de pano, redes, doces, colchas de fuxico, tudo se encontra para qualquer gosto e bolso.

O Pôr do sol na praia fluvial do Jacaré, em Cabedelo, cidade vizinha onde se pode chegar de ônibus ou trem e depois uma pequena caminhada, é uma atração à parte, e se o famoso “bolero de Ravel” deixa a desejar no play-back, acompanhado do sax, mire mais no por do sol que na música. Infelizmente agora há um barco que insiste em querer aproximar-se mais do ocaso e em aparecer em nossas fotos, mas que se há de fazer? Tive a sorte de pegar uma chuva na hora do por do sol, o que fez com que ele se pusesse a nossa frente e atrás de nós um maravilhoso arco-íris inundava o céu com suas cores.

Fora isso, há os passeios aquáticos como Picãozinho e Praia Vermelha, passeios de buggy a praias próximas, inclusive a litorais de outros estados vizinhos, como os de Pernambuco e Rio Grande do Norte.

As igrejas imponentes mantêm sua beleza de tempos idos e calma dos séculos em que foram construídas, e já que não temos castelos, seria um crime deixar de visitá-las independente da religião que tivermos. Azulejos portugueses, pias batismais e/ou de água benta, fontes e pinturas sacras nos tetos são pequenos tesouros descobertos por quem adentra. O orgulho por Augusto dos Anjos ser filho da terra está presente nos nativos locais, na forma de saraus literários, organizados pela cidade por seus filhos, ou na Academia Paraibana de Letras, onde o poeta se encontra com Ariano Suassuna em um quadro a óleo de belas cores.

Em frente a uma padaria na Av. Senador Ruy Carneiro, ao final da tarde, encontra-se uma senhora a vender pamonhas e canjica (curau) não tenha dúvidas; compre e delicie-se. Não deixe de comer um prato de fava (prato local) na lagoa Solón de Lucena, tomando refresco de acerola (não o suco de polpa, mas o feito com a fruta, deixe claro). E de resto, arrisque-se pela cidade descobrindo um casarão aqui, uma praça acolá, vá de ônibus, misture-se com o povo local sempre atencioso e disposto a parar e informar-nos como fazer para chegar aos mais variados pontos.

Fotos: Djair
Por do sol - praia do Jacaré.
Arco-iris - praia do jacaré.
Igreja do Carmo - Catedral de N.S. das Mercês.
Igreja de São Francisco.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Rapidinho

Tiramos sapatos
Tomamos vinho

É fato
Você abre os braços
Já não há espinho

Só aconchego
Por isso vou
Já chego
No teu corpo

Meu ninho.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Coleções de revistas científicas – intercâmbios




Apresentado no XXIII CBBD - Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, Bonito, MS - 5 a 8 de julho de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Três brasileiros levam o sétimo Prêmio Portugal Telecom de Literatura.


"Se somos do tamanho do que vemos, os países são em boa medida do tamanho da sua cultura e do seu alcance no mundo – a cultura literária em língua portuguesa mostra que está mais viva que nunca e que é uma bandeira dos laços que historicamente unem os 250 milhões falantes do português no mundo". - Zeinal Abedin Mohamed Bava - Presidente executivo da Portugal Telecom em discurso na noite da premiação.

Três brasileiros saíram vencedores na sétima edição do prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. A cerimônia de premiação teve lugar no Espaço Fasano, no Itaim-Bibi, em São Paulo, na noite de terça, dia 10 de novembro. Enquanto quase metade do país estava às escuras, a festa de premiação seguiu noite a dentro, em um jantar e degustação de queijos e vinhos. Dos dez livros finalistas ao prêmio, oito romances, um livro de contos e um de poesia concorriam aos prêmios, que contempla três vencedores: R$ 100 mil para o primeiro colocado, R$ 35 mil para o segundo e R$ 15 mil para o terceiro.

Nuno Ramos - Nuno Álvares Pessoa de Almeida Ramos -, autor do livro "Ó" (Iluminuras, 289 páginas, R$ 44,00), é o vencedor da edição de 2009 do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. O escritor brasileiro é também artista plástico e já dirigiu três curtas-metragens. Segundo Ramos: “Funciono por hibridismo em tudo o que faço como artista plástico ou escritor. Em 'Ó' o passo inicial era o ensaio. Mas a incapacidade de ficar em um gênero só cria uma certa estranheza, uma incompatibilidade que são interessantes.”

Em conferência de imprensa, Ramos declarou que recebeu o prêmio com surpresa e afirmou que, "com a maior sinceridade, tinha a certeza de que não ia ganhá-lo".

João Gilberto Noll, autor de "Acenos e Afagos" (Record, 208 páginas, R$ 32,00), ficou com segundo lugar. Seu romance é uma epopéia dos sentidos, comandada pela fúria do corpo. É a história de um homem que abandona uma vida monótona para buscar sua verdadeira identidade e suas paixões. Representado por sua editora Luciana Villas-Boas, o autor gaúcho não compareceu à premiação por querer evitar a ansiedade.

Em terceiro lugar, Lourenço Mutarelli, autor de "A Arte de Produzir Causa sem Efeito" (Companhia das Letras, 216 páginas R$ 39,50), , mostra a relação entre pai e filho em uma realidade que se distorce. Mutarelli arrancou risos da platéia com o comentário: “Venho de uma família complicada, mas queria fazer uma ressalva: minha mulher é um anjo.” Como gosta de retratar a família em suas obras, para o autor 80% do que escreve está inspirado na sua infância. Ainda observou: “O mundo está cada vez mais careta. - Toda a hora que vou fumar tenho que ir lá fora. Ainda bem que não vim de minissaia [referência à estudante Geisy Arruda, aluna da UNIBAN, hostilizada por usar um vestido curto na faculdade]. O mundo é estranho. Mas o que acho mais estranho é que o mundo vem aceitando minhas obras" - concluiu.

A entrega de prêmios contou com a presença do secretário municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, do presidente da Portugal Telecom, Zeinal Bava, o presidente da Portugal Telecom Brasil, Shakhaf Wine, e o vice-presidente da Portugal Telecom Brasil, Abílio Martins.

O Júri final da premiação foi composto por: Antonio Carlos Secchin, Beatriz Resende, Benjamin Abdala Júnior, Leyla Perrone-Moisés, Regina Ziberman e Sérgio Sá, além dos curadores: Flora Sussekind, José Castello, Maria Lúcia Dal Farra e Selma Caetano.

Foto: Nuno Ramos - foto: Djair

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Coisas de meu pai...


Meu pai, muito raramente comia arroz, sempre a preferir massas.
E ai se a carne fosse cozida, ao olhar dele isso é " comida de mulher preguiçosa".
Lembro-me pequeno, que várias vezes meu pai sempre que queria mostrar descontentamento, fazia pirraça, pior que criança, pior que eu... Chegava a hora do almoço, e minha mãe, tendo se esmerado ao fogão, ele deixava a comida de lado, pegava duas ou três laranjas, descascava-as, cortava-as em rodela, colocava pimenta em cima, e as comia. Ficávamos todos preocupados, embora eu não entendesse muito bem o que se passava (bem dizem que crianças e cães sempre acham que fizeram algo errado, quando alguém se mostra descontente).
Certa vez, ao indagarmos o porquê daquilo, ele de pronto disse: “Boca que não merece beijo, pimenta nela!” E todos rimos muito. 

Foto: Djair - Meu Pai - Olavo de Souza

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Caminheiro


Vou seguindo
O que,
Pra onde,
Não sei
Um chamado
Um caminho
Atrás de um achado
Um carinho
Sigo rindo
Mesmo se amei,
Odiei
O mundo é lindo
Sigo em frente
Atrás de tanta coisa
De tanta gente
Estou seguindo
Vou na corrente
Ela que me leve
Que me carregue
Deixo-me ir
Sigo a sorrir
Sem discutir.

Foto: Djair
Por do Sol em Oliveira - MG.
Maio de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Caminho dos Pilões

Tinha hortênsias no jardim, laranjeira no quintal dos fundos, além da cerca de madeira nova havia uma pequenina cascata que fornecia água ao bairro.
Da varanda avistávamos ao longe a Serra do Mar, era um horizonte pleno.
Brincávamos na rua, e eu, que sempre gostei do do fogo, acendia fogueiras em tempos juninos e em outros quaisquer.

 
As galinhas de casa eram poedeiras, assim como as marrecas.
Poucas casas havia nessa época e só um ônibus servia o bairro. A alguns quilômetros uma fábrica de sardinha em lata, antes da curva que dava acesso ao rio, que nos proporcionava tardes prazeirosas sob o sol.
Na mata do morro “catávamoscoquinho a valer por entre manacás e a flora 'multimilionária'.

 
Depois de termo ido embora dali, a fábrica foi desativada. Dois anos depois havia sido invadida por sem tetos. Pouco mais de uma década passou até que eu retornasse ao lugar... Uma favela instalou-se a partir da antiga fábrica de sardinha.

 
As casas antigas do bairro, poucas restaram. E estas, em lugar dos amplos quintais, abrigavam puxadinhos e cortiços. Não há mais jardim na que residi. Hoje é uma igreja evangélica com casa do pastor ao fundo e outra depois desta. Não tem mais acesso à cachoeira, mais sei que ainda existe e resistente, abastece o bairro.

 
Mesmo o rio virou pequeno córrego e a enorme ponte de ferro que atravessávamos temerosos com receio de cair, enferrujada e decadente, quase não tem água a receber sua sombra. Acredito que mesmo os bagres, cascudos e carás tenham sumido, assim como os amigos do tempo pré-adolescente.
Das casas mais belas, as que não foram demolidas, quase nada resta do original. Porque voltar?


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Reverência

Que fazer se já não há prazer
Se vira obrigação
E não lazer
Se vem tudo por escrito
Qual avaliação com gabarito

A Obrigação da reverência
Sem nenhuma deferência

Deus salve a rainha
Só dar de acordo
Ou dar ciência

Buscar o alvorecer no companheirismo
Cumprir o dever com idealismo
Suportar o que irrita
Com gelado chopp
E batata frita


Publicado originalmente em: Antologia de poetas CEU-Aricanduva. São Paulo: 2004, 25p.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Junções II

Apesar de optar por fazer um blog de autoria exclusiva, em setembro publiquei um post com o título "junções", frase de Vitor Fasano na Novela de Glória Peres com uma outra de João Guimarães Rosa. Aqui segue, no que talvez se torne uma série, outra junção de duas frases, que a meu olhar harmonizam-se em casamento perfeito. A primeira, costuma ser atribuida a Henfil, após a publicação, na Revista Isto é, nos anos 1980, em plena campanha pelas Diretas. Quando da publicação ele mesmo informa te-lo recebido de outrem. ("Um dia em Jundiaí um puro, ao ouvir meu OPTEI pela organização do povo, me deu os seguintes versos, que passo adiante amanhã. Para ser lido dia 22 de novembro de 1982.") A segunda, de Elza Morante em "A História" "Se não houver frutos, valeu a beleza das flores... se não houver flores, valeu a sombra das folhas... se não houver folhas, valeu a intenção da semente" "Todas as sementes falharam, exceto uma, que não sei exatamente o que seja, mas que provavelmente é uma flor e não uma erva-daninha."

Foto: Djair - Florzinha rasteira no acostamento no "Caminho da Guia" em Floriano - Piauí. Desta vez a data está correta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Tropeço

O que é mais excitante: A viagem Ou o arrumar da bagagem? Quem está a esperar Ou em quem se pode tropeçar? Foto: Djair - Pescador no encontro dos rios Parnaíba e Poty em Teresina - PI, tirada a partir do restaurante flutuante..

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Prajalpa

Prajalpa – Em sânscrito quer dizer: conversa fútil e mundana, inútil para todos. Aqui leitor encontrará textos meus que refletem sentimentos e pensamentos com os quais me ocupei em algum momento. Alguns já publicados em outros veículos, outros escritos de chofre no momento da inserção, somando experiências e impressões muitas vezes contraditórias. O resultado tende a ser uma série de textos, ora apaixonados, ora irados, ora preguiçosos e malemolentes, outras vezes elaborados num "acerta aqui, conserta ali" caprichoso. Impressões e reflexões acerca do mundo que nos cerca, informações sobre o que vi ou li, reflexos de anseios, inspirações e decepções minhas... "Maior que o impulso sexual é o impulso de mexer no texto alheio". A frase do Jornalista Claudius Ceccon é de uma profundidade incontestável para quem escreve, e mesmo para muitos que apenas leem, seja prosa, poesia, crônica, o que for... Quem não sentiu vontade de dar final diferente a um romance ou novela, quem nunca achou que sua rima casaria melhor que a do outro ao final de um poema, ou ainda, pensou em um verso novo para um soneto? Caso sintas o impulso do qual fala Ceccon, use o espaço de comentários para interagir, sugerir, criticar, enfim, o que lhe apetecer. Boa viagem.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bem-vindo - Filme de Philippe Lioret



Esta semana, uma leitora, que acessou meu perfil, perguntou-me:
"_Você parou nos anos 90?"
E eu: "_como assim?" Ao que ela replicou:
"_Os filmes, você não gostou de nenhum dos anos 2000?"
Expliquei que gostei de todos os Almódovar, do último Woody Allen, dos dois do Claúdio Assis, especialmente: baixio das bestas. Mas nenhum tanto quanto os que cito no perfil, no entanto, senti vontade de falar sobre um que mexeu bastante comigo nos últimos tempos:

Bem-vindo

O drama dirigido por Philippe Lioret é “um tapa na cara”. Diferente dos filmes do gênero que trata o problema da migração humana como pano de fundo para romances, esse trata da (in)dignidade humana, da sordidez dos que se aproveitam dos miseráveis para em cima deles ganhar um pouco mais, e tem o romance como pano de fundo.
Bilal (Firat Ayverdi), o jovem refugiado curdo (iraquiano) que cruza o continente a pé a fim de chegar a Inglaterra onde espera jogar no “Manchester” ao lado de Bekman e Ronaldo é o personagem que dá voz aos imigrantes, que poderiam ser Fabiano e sua trupe (Vida Secas – Graciliano Ramos). E Simon (Vincent Lindon), o francês, ex-campeão olímpico, professor de natação, se compadece de Bilal, em princípio para mostrar a ex-esposa que distribui sopa aos “refugiados” como voluntária. São os personagens centrais num filme cru, que não tem pudor de mostrar as dificuldades criadas oficialmente como forma de manter longe os indesejados cidadãos “estrangeiros”.
Talvez ganhem mais forças os versos de Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawai): “Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui, que não passa de ilusão.” Após observar o tratamento dado a humanos, por outros humanos. A ver a tecnologia criada para manter o outro longe, e mais não digo pois só o filme pode levar ao estado de indignação em mim despertada.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Saudades da garoa...

Só tem chuva repleta de químicos e fuligem de carro
Não tem mais garoa
Quando tinha, garoa tinha acento
era "garôa".
Tem aterros
Lixo urbano
Lixo humano
Córrego canalizado
Canalha de pano passado, idiota bem arrumado.

Não tem mais garoa
Quando tinha havia menos
Indigente
Gente doente
Garotas de programa
Gente atrás de fama

Não tem mais garoa
Ainda tem gente chegando
E ainda mais querendo ir embora
De carro
De trem
De avião
A pé.
Tem roubo
De dinheiro
De gente
Não tem mais garoa
Tão bom que tivesse
Pra lavar e levar tudo
sem deixar nada.


Cansaço

Quando canso
Me calo  
Se entristeço  
Não falo
Palavras são nada  
Sentimentos pelo ralo
É constante a vontade de ir embora
Irritante  
Essa história de que homem não chora
Sou misantropo
Homem-elefante.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Rio Lindo de Janeiro


Glamour...
Copacabana Palace...
De tirar o folêgo...
Real gabinete de leitura...
Bondinho...
Barzinhos em Santa Teresa...
Arcos...
Barzinhos/antiquarios na Lapa...
Cerveja, Chopp, Chorinho...
Confeitos...
Colombo...
Fé...
Igreja de São Francisco onde Brás Cubas encontra Quincas Borba
Praia, mar...
àgua de coco...
Sol, Chuva...
Sem casamento de viúva...
O Rio de janeiro continua lindo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Livro: Gestão do conhecimento médico

Nesta quinta, dia 01/09/2009, será lançado na Livraria Saraiva Mega Store, o livro:

domingo, 27 de setembro de 2009

27 de Setembro
Dia de Cosme e Damião.
Salve Cosme! Salve Damião!
Nenhuma criança veio pedir doces, elas que venham em novembro com o anglicismo apoiado pelas instituições didatico-pedagógicas da classe média...
Minha alma se apaga se ninguém me afaga.

sábado, 26 de setembro de 2009

Palmatória

Não gosto dessa história
Que não pode bater
Como é que vai torcer o pepino com "soprinho" e alisamento
Hoje tem conselho tutelar pra tudo
E cada dia menos se sabe como criar

Dona Neide vai regalar o olhão azul
Dona Leila vai achar absurdo
"Não pode, tem que ter pedagogia."

A do chinelo doia
Mas cá pra nós
O vermelhão passava
E a gente aprendia.


Publicado originalmente em: Antologia de poetas CEU-Aricanduva. São Paulo: 2004, 25p.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Lar



Chegar em casa

Achar-te em brasa
E por falar em brasa
Achar comida quente
E por falar em mesa posta
As contas e cartas sobre a outra
E por falar em mesa de centro
Ficou lindo o jarro com as flores dentro

E por falar em flores
Viu como está belo o jardim?
E por falar em quintal
Como essa cachorra cresceu
E com licença de Adélia, a Prado...
Pra que falar em amor, "essa palavra de luxo"?

Foto: Djair - Mocinha (minha cachorra) no topo da escada. - Setembro 2008