quinta-feira, 25 de junho de 2020

E Viva os Santos Fogueteiros

 Andréia conversa com uma moradora da rua onde nasceu o fado
     Este ano não tive como fazer a fogueira que tanto gosto a saudar os santos fogueteiros, carros velhos estacionados na rua podiam causar desastres, ou sei lá, alguém vir encher-me o saco por colocar lume a lenha à beira da calçada. No jardim as plantas não permitem, na garagem ou quintal o piso seria estourado. E assim, resignei-me e passei o Antônio e o João sem alegria. Resta o Pedro, que vem aí dia 29. Quem sabe eu esteja na praia e aí simassim quem sabe posso fazer como nos tempos que morava com minha mãe, ao pé da calçada, nos fundos do quintal... Fogueira lá nunca faltou-me. Para assar carne, batata doce, milho verde... Ou simplesmente para apreciar o fogo tomando um vinho tinto, que este sim é gênero de primeira necessidade.

E a Menina Flávia traz as sardinhas.
     Há um ano comíamos caracóis na Mouraria na companhia da menina Andréia. Havia sardinhas, jogos e bandeirolas. Subimos e descemos por várias ruas, até chegar a Alfama, como essa é para turistas, voltamos a Rua do Capelão onde nasceu o fado.


"Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho"
 

   Dias depois tivemos uma bela sardinhada na casa dos Cunha.
   Apesar do decreto da república em 1910 que proíbe manifestações religiosas em Portugal fora do átrio das igreja com as festas da Agonia não há quem possa. Ah, o Norte... As tradições não morrem.


Bem, com tantas lembranças de todos os lados, reedito aqui, revisado o




Noite de São João


Dão-dão-dão!...
Bate o sino.

É noite de São João
Pula a fogueira o menino
Solta fogos o velho bonachão
Solta balão um traquino
Toca o sino o sacristão

Dão-dão-dão
Faz o badalo
Os fogos fazem chuva
Formam halo
Ilumina o céu o balão
E o sino sem parar
Dão-dão-dão!... a repicar

Crepita a lenha na fogueira ardente
O sanfoneiro faz repente
Se toma quentão, vinho aguardente...
Ignorar a quermesse? Há quem tente?
Não, não, não tem não
Pra sorrir basta o badalo
Que em noite de S. João
Repica a noite inteirinha
Dão-dão-dão
dão-dão-dão!!!...



segunda-feira, 8 de junho de 2020

Os frutos da Terra: Mamão



Hoje,  ganhei um mamão do vizinho do lado direito, outro dia foram outros três de uma só vez da vizinha do lado esquerdo. 

Simplesmente deliciosos, doces, avermelhados, com a casca lisa. Da casa de Vitória trouxe alguns que colhemos no nosso pé, os pés daqui ainda não frutificam, e assim, para o café ou sobremesa do almoço volta e meia temos mamões, essa fruta tropical tão suculenta, que com combinações de vitamina A e C fortalecem o sistema imunológico. Bendito seja, Deus salve a América tropical.

O Partido, do Vizinho, e o ainda a amadurecer, de casa.
Quando criança eu não gostava do fruto, não o comia, salvo em vitaminas onde meu pai colocava mamão, maçã, banana e um pedaço de beterraba para que ficasse também colorida. Já agora os adoro, e como começou esse gosto? Graças a Maria José Leandro Dupré e seu livro: “Na Ilha Perdida”. Foi o primeiro livro que li e que fez-me apaixonar-me pela leitura, sim, sei que já disse isso várias vezes em outros textos e até em uma entrevista, mas sempre é bom repetir. 

Bem, Henrique na ilha, perdido na ilha comeu os mamões vermelhos dados por Simão, e os adorou, creio que tenha uma descrição nele, são 42 anos desde que o li. Pois bem, comentei com minha mãe se ela os conhecia e comentei da leitura. Pois bem, tchan, tchan, tchan, tchan... Não tardou que os mamões vermelhos se materializassem na mesa de casa. Obrigado mãe, obrigado Madame Dupré. Eram os hoje conhecidos como mamão papaia.

Que cor, que sabor... E daí para o mamão formosa foi um pulo, e outros mamões, das variadas espécies, até o de corda, também chamado mamão macho já comi sem depreço algum. Na atual casa de minha mãe, havia vários pés, e uma produção farta, eram distribuídos a parentes e vizinhos, e quando levava ao Júnior ele comia junto com a comida, é muito bom mesmo, tomei-lhe o hábito emprestado.

Mas Madame Dupré escreveu também: “Cachorrinho samba na montanha” que li anos depois, hoje se não engano-me o título foi alterado para “A montanha encantada”, e cachorrinho samba é o nome da série. Pois bem, ali a turma de adolescentes presa numa gruta numa espécie de gruta aprecia junto aos anões que vivem sob a terra as iguarias: língua de frangos, e Cristas de galos... Pois bem, não é que passei incólume pela língua? Mas a crista fui de novo ter com minha mãe, e na primeira oportunidade, um frango gordo que tínhamos no quintal forneceu sua bela crista para mim ao almoço. Como diria Fernando: alimentei-me de um dos nossos irmãos animais... 

Pois bem, aí está a força da literatura na cabeça de um menino de 10 -13 anos, os livros lidos, naquela linda idade trouxeram-me sabores, experiências e memórias. Tenho pena de quem perde tanta experiência, tanta riqueza, e até o gosto dos mamões  por não gostar de ler.