sexta-feira, 19 de março de 2010

Miauuuu!!!!

Atirei o pau no gato
Que assustou-se e correu
Acertei em um cachorro
Que de tão bravo me mordeu
D. Chica, dona do gato
Riu-se muito
Do que se deu
E ainda disse
Muito zangada
Teve bem, o que mereceu!
O castigo da maldade
Foi a mordida
Que doeu!




Queridos leitores, devido a curtíssimas e merecidíssimas férias, o blog entra em recesso por duas semanas. OU...
A qualquer momento extrordináriamente, com um texto extraordináio, ou ordinário mesmo!

Aproveitem para ler os antigos!





Foto: Djair - Oliver - o Gato, posto em sossego.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dia das Mulheres... Bah!

Esta semana tivemos mais um dia internacional da mulher...
Um dia... O que se faz com um dia?
Não deixa de ser uma forma de lemb-las,  de lembrar das conquistas... De lembrar os sutiãs queimados em praça pública, Mary Quant e as minissaias. Sempre há quem evoque Leila Diniz, Bette Davis...
E as Marias-ninguém, que permanecem na escravidão cotidiana? O lavar-engomar-cozinhar-servir? As conquistas não foram para todas, como nunca são.
E o que se perdeu? Com os direitos iguais acabou-se o cavalheirismo, aliás também o "damismo", pois como eles, elas também ficaram mais mal-educadas, apontam indicadores em riste, soltam pelas ruas em alto brado retumbante o palavrório chulo com que se atingem juízes de futebol e nomeiam-se genitálias de forma pejorativa.
Outro dia, no metrô lotado, enrubesci ao ouvir duas moças a comentarem o diminuto tamanho do genital de um rapaz com o qual uma delas teria saído, e ainda falava à outra: “Não tem quem diga, né?” Moças que pareciam instruídas, que estava bem vestidas, e bonitas, mas sem conhecimento do termo discrição.
Mas essas são exceções que enrubescem também outras mulheres, como as que estavam próximas e que percebi também ficarem vexadas com o indiscreto comentário.
Pelas pesquisas que se lêem em grandes veículos de comunicação, as mulheres continuam a ganhar menos que os homens, embora sua jornada possa ser maior...
São mais consumistas, embora a meu ver, apenas gastem com coisas diferentes, compram mais roupas, mas os homens consomem mais gasolina e cerveja.
No seu dia ganham rosas, mas não seria melhor ganhar em gentileza permanente? Conheço caso de chefes que dão flores de manhã e, à tarde, um esporro, para depois sair sem dizer até logo, ou bom descanso, como forma de cortesia. Também conheço outras tantas que têm o mesmo comportamento. Ou seja, cada vez mais iguais a homens, sem ter que lutar para adquirir este status quo no que diz respeito à desconsideração e deselegância.
Conheço mulheres que mantém a casa, enquanto maridos inertes as esperam chegar do trabalho para fazer jantar, e me pergunto: por que permanece nesse tipo de relacionamento?  Assim como moças bonitas, independentes e inteligentes se deixam arrastar por namorados canalhas...
Na maioria das culturas indígenas, as mulheres são as agricultoras enquanto os homens provêem a caça e a pesca, ou seja, quando não há caça são elas que provêem o lar.  Elas o mantêm. Assim como mantém casamentos e namoros naufragados. Sempre em busca de ser feliz.
Acredito que tudo seja um processo de aprendizagem, mas o caminho é longo e a redenção,lenta. Afinal, uma mulher inteligente intimida muitos idiotas, e mais ainda se for independente; se juntarmos a isso, a beleza, e todos temos algo de belo, ferrou! Por isso mesmo, ainda há tanto préconceito masculino, e se os conceitos já são insuportáveis, imagine os pré.

Mas existem as amazonas, as que se fazem por si, que vão à luta, a todas as lutas, pelos seus direitos, pelos direitos dos seus, pelo direito dos que estão aquém delas, pelo que acreditam. E por isso vale a pena comemorar, vale a pena ter um dia pra ser lembrada, ainda que na forma de uma flor recebida e que ao fim do dia estará murcha.
Obrigado a elas por continuarem a lutar, por se fazerem ouvidas, por serem fortes, por serem belas, por nos manterem, por sua alegria, amizade e incentivo.
E pela temática do texto me lembro de inúmeras delas com as quais tive a honra de conviver e, por isso mesmo, com certeza aprendi coisas, sorri de coisas, fiz outras tantas, com, por e apesar... Correndo o risco da deselegância de esquecer, e várias serão esquecidas, não citadas por questão de espaço, lembrança distância, tempo e memória, cito exemplos de mulheres a quem agradeço o ensinamento (e cito ai professoras que tive, sem as quais, e sem sua dedicação, não estaria hoje onde estou, que se não é o alto do pódium é ao menos a sombra), o companheirismo, amizade e dedicação.


Lembro de negra Graça, que foi empregada de minha tia por anos a fio, desde que me lembro, até ser morta a pauladas pelo marido que sustentava. Lembro de Tânia Macedo, de sua sapiência e humor delicioso, de Tamina, grande professora do colegial, uma senhora distinta e apaixonada pela arte do ensino, de D. Maria José, professora do terceiro ano primário, por quem devo ter sido apaixonado; lembro de Marfisía Lancellotti, que menininha de vestidinho de chita, com a mãe, chega a São Paulo e fica petrificada com a  beleza da biblioteca dos frades do Mosteiro de São Bento. E... ao tornar-se mulher dirige a Maior Biblioteca da América do Sul, aliás hoje é dia do bibliotecário, parabéns a ela e a todos. 

Lembro de Ione, minha primeira namorada, na inocência dos 12 anos, onde o máximo que fazíamos era assistir os filmes do Roxy de mãos dadas, e um ou outro beijinho fugidio, de Marta, minha primeira mulher; Lembro de Carmem e nossos 5 anos de namoro, de Eliana Asche e nossas pelejas até viramos amigos por acreditarmos nas mesmas coisas, da Carol Bratch que optou por ser feliz, da Maluce que renasceu Myrna e a quem dei sobrenome, de Katya Carnib  e d. Nair sua mãe, as quais nunca esquecerei, de minha mãe que sempre lutou e continua a lutar por meu pai, meu irmão, por mim e agora por seus netos. De Dásia que me faz rir até doer, de Socorro Rocha, que amparou a mãe que enlouqueceu quando ela mal tinha saído da primeira infância, até que a mãe, D. Francisca, que apesar da demência gostava de mim,   falecesse, de Penelópe Cruz, que como diria alguém é o mais belo animal que pode existir. De Da Guia pelada, prostituta folclórica de Floriano que reza a lenda, nunca perdeu uma briga com um homem. De “Vida de Menina”, um dos mais belos filmes brasileiros, dirigido por uma mulher – Helena Solberg, baseado nos diários de Helena Morley, e onde Ludmilla Dayer  brilha a não mais poder.
 E como ficaria imenso e cansativo o texto se continuasse a citá-las, encerro, com um poema de Adélia Prado (confesso que me controlei para não colocar também o Sexta-feira à Noite, de Marina Colassanti) e um brinde a todas vocês.  

"Um minuto de estrondo a idade reencontrada. As taças para o brinde, porque hoje sou de novo uma mulher com sutiã grená, polindo os dentes sem pressa e desenhando a boca em coração. Basta, nem só eu respondo pela fome do mundo, e vou certificar-me, se ainda me olham duas vezes, se ainda intimido, se pelo que amo ainda faço a face dos homens abrandada e ansiosa.
Enquanto dura a trégua, vou guerrear".

Fotos: 
1 - Djair - Maria Cezídia - Minha mãe.
           2 -Djair - Ana, atual esposa do Sr. Verdu (cerâmista) - "Se eu tivesse arrumado essa pretinha mais tempo, minha vida hoje estaria bem melhor.", e uma cliente  - Polo Cerâmico - Bairro Poty Velho - Teresina - PI 

sexta-feira, 5 de março de 2010

De mal a pior.

É estranho como as maneiras, boas e más mudam com o decorrer do tempo. No século XIX foi preciso uma lei para banir escarradeiras das casas e locais públicos. Em algumas culturas é falta de educação não arrotar após comer, significa que não gostou. Esquimós oferecem as esposas aos visitantes...

Mas o que se dizer de inúmeros hábitos atuais da sociedade ocidental, sobretudo da classe média? No Brasil atual é comum se estacionar nas calçadas, afinal, é para isso que elas foram feitas, não? E o pedestre que se dane. Não estaciono sobre calçadas, nem  da minha casa, mas constantemente vejo meus vizinhos e a comunidade em geral fazer isso, como se fosse a coisa mais correta a ser feita, não importando se tem uma rua larga e ampla à frente da garagem/casa. Quanto a estacionar em frente à vaga alheia então nem comentarei, já que, a mim, soa tão surreal quanto abrir sem permissão a geladeira na casa de alguém que não se conhece. Mas mesmo isto hoje parece normal.

E os que chegam buzinando para que maridos/esposas/filho/o diabo venham abrir as portas de suas garagens? Afinal custa tanto descer do carro e fazê-lo, ou apertar a campainha! Graças a Deus meus amigos sabem o quando deprecio esse “modus vivendi” e apenas uma vez, um agiu de tal modo, jamais repetindo após o pito que tive que dar. Afinal, é uma falta de educação para comigo e para com meus vizinhos, que àquela hora estavam a dormir. Ou não...

Mas dá trabalho descer e tocar campainhas. O mesmo trabalho que dá manobrar o carro e já estacioná-lo ja´no sentido que se vai tomar, ficando em paralelo à calçada, e então após fechar o portão, voltar ao carro. Mas não, se para em cima da calçada, e  tomando meia rua, atravancando o trânsito de carros e pedestres.

O que dizer das bolsas imensas que se tornaram moda após a última novela de Gilberto Braga? Podem ser vistas em reproduções baratas, e nada elegantes, usados por modelos semelhantes. E basta ir a um congresso, reunião, missa, culto ou quaisquer tipo de evento social, e lá estarão elas, ocupando uma cadeira, enquanto várias pessoas estão de pé por falta de assento. E em metrôs ou ônibus lotados, então? Companheiras das mochilas às costas, impedindo a circulação. E fico a me perguntar: existe a real necessidade de acessórios assim tão enormes, que em alguns casos chegam a esconder quem as leva? Não será mais elegante usar algo de acordo com seu tamanho e que não atravancasse caminhos e pessoas?

Será que seria prudente falar sobre a má-educação infantil, ou chocaria pais e mestres que por acharem suas crianças lindinhas não lhes cobram boas maneiras e os pequenos monstros já crescem arrogantes, sem achar que têm obrigação alguma de cumprir regras de boa convivência? Conheço algumas que, de tão mimadas, sequer cumprimentam pessoas (não tem desejo ou necessidade de agradarem ninguém, apenas serem agradadas): umas por terem barba, outras por terem cabelo branco e se dizem com medo (aos 6 anos), mas recebem todos os presentes que lhes são dados e são assunto de familiares pelas costas dos pais, os reais culpados de tanto egoísmo e maus bofes.

Outro dia, em um almoço de aniversário, fiquei passado ao ver os mais jovens correndo para pegar um lugar à mesa, deixando tios e tias a comerem de prato na mão, e os filhos do aniversariante em outro cômodo... Acho que nem é preciso comentar...

Não posso esquecer de comentar sobre os inesquecíveis "personagens"  que falam no cinema durante o o  filme. Nunca me esqueço de uma bendita, no antigo Cine Vitrine, que ao assistirmos “Minha Secretária” (Nélly et Monsier Arnaud) – Claude Sautet – França/Itália/Alemanha – 1995, soltou, a uma fileira atrás de nós, num tom como se estivesse em sua sala: “-Nossa, bem, como ele é bruto, né?”

Pois é, ela não sabe o que é brutalidade, e antes que tivesse que apresentá-la à brutalidade do não ficção, mudei de lugar, para continuar a ouví-la, mas pelo menos de forma mais abafada. Confesso que gostaria de ter os ímpetos de escândalo e mandá-la calar a boca. Mas como diz a frase, da qual, já não lembro a autoria (seria Millôr Fernandes?) “O mais inteligente cede. É nisso que se baseia a dominação do mundo pelos imbecis.”

Outra (des)feita, em uma peça (K2 - de Patrick Meyers, direção: Celso Nunes) no teatro Anchieta, enquanto no palco Gabriel Braga Nunes e Petrônio Gontijo escalavam a segunda maior montanha do mundo, uma beldade na primeira fila, abre seu celular (sem atendê-lo of course), e corta o escuro do teatro com um feixe de luz azul, tal qual empunhasse um sabre de luz Jedi. 
Mas agora no cinema também é isto, o fulano não atende, mas toda hora acende pra ver quem ligou... Put´s... Precisa comentar? Ou já basta?

Talvez porque os filhos da classe média possam fazer tudo, (afinal, tem-se que se compensar a ausência dos pais), então, “tudo que seu mestre mandar, faremos todos...”
É a má educação que vem via Televisão, os gritos constantes dos pseudo-famosos que tem que berrar o tempo todo, e que se reproduzem "nas escolas, nas ruas, campos, construções..."

Foto: Djair - Carro tomanto toda a calçada, em frente a imensa garagem (mas dá trabalho abrir o portão).

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre medos e filmes


    Esta semana ia escrever sobre a má educação das pessoas, mas ao assistir um filme na véspera, senti vontade de falar sobre ele e as impressões que me passou. Filme antigo, desses que em um filme cabe toda uma vida, com fotografia bela, figurino impecável e uma história que faz com que, dois dias depois, ainda se pegue a pensar sobre o que se viu...


    O filme? “Clamor do Sexo” – Splendor in the Grass, que narra a história de Bud (Warren Beatty) e Deanie (Natalie Wood), jovens do Kansas – E.U.A.

    Dirigido por Elia Kazan, de 1962, tendo o romance dos protagonistas como pano de fundo, é uma ode aos medos da juventude de uma época (anos de 1920), o das mulheres de se perderem na condição de vadias, o dos rapazes de fugirem aos planos paternos traçados para eles, o das famílias de classe média de verem suas filhas desgarradas e transformadas em motivo de comentários da vizinhança, ou do não cumprimento de seus planos, os filhos nascem para serem alguém e manterem ou multiplicarem seus recursos e ideologias. Afinal, se se tem medo de mudanças, o melhor meio para evitá-las é fazer com que se perpetue o que existe.

    No entanto, onde colocar o desejo que, por princípio, é mudança?

    E como tratar esse desejo, ceder a ele e correr o risco de perder-se em um universo desconhecido? A irmã de Bud, Ginny Stampe (Barbara) desafia esses conceitos e, ao enfrentar pais e sociedade, é uma moça que se entrega a todos os tipos de prazeres mundanos, e como não poderia deixar de ser, perante o público/sociedade da época, se autodestrói.

    O próprio Elia Kazan, nascido grego e desenvolvendo carreira nos “United States”, perseguido pelo comitê de investigações de atividade antiamericanas que caçava pretensos comunistas, entrega colegas, manchando para sempre sua carreira... por... Medo... Nunca filmou sobre o ocorrido. Em 1999, quando recebeu um Oscar honorário, pelo conjunto da obra, causou divisão na platéia que aplaudia ou vaiava ruidosamente.

    Mas e quando presenciamos atitudes com as quais não concordamos, que fazemos? Delatamos ou calamos? Afinal a delação passa a ser a fofoca, o falar mal de, e logo vem o “mas o que é que eu tenho com isso?” E então, a delação seria um ato de coragem ou covardia?

    Voltando ao filme, há ainda os personagens secundários, as mães, a que super-protege (de Deanie), com medo da perda da virgindade da filha, seu maior medo, e a que é passiva diante de filhos, marido, tudo e torna-se apenas um pastiche de si (a de Bud). E quantas mães não conhecemos em que as reconheceríamos?

    Lembro-me de um caso, ocorrido há cerca de uns 15 anos, ocorrido com conhecidos, onde uma avó, que criava a neta e, quando essa foi desvirginada pelo namorado, comentou: “_Ele inutilizou a menina.” Bem, pelo meu ponto de vista, ele deu-lhe uma utilidade a mais...

    Já um antigo colega de trabalho de outros tempos, Amilton, dizia: “_O problema não é dar, é alguém ficar sabendo!” Uma grande verdade dita de forma jocosa, afinal a vida sexual do outro sempre é atraente a certos círculos.

    Não temos esse medo o tempo todo? O medo de magoar a quem se gosta. O medo infundido na infância pela igreja que nos traz a culpa Judaico-Cristã do pecado original, Mea culpa, me culpa...

    Medo de frustração profissional, de não aceitação em um grupo, de se frustrar com o outro, ou de não corresponder às expectativas daquele. Não há para onde correr: os medos nos cercam por todos os lados, desde o primal medo do escuro até o medo final na hora da morte... Para onde estou indo, devem temer os agonizantes, e por isso se agarram ao corpo debilitado com suas últimas e combalidas forças. O medo que se transforma em pavor e nos faz orar com fervor.

    O receio sempre presente de se estar a fazer o que realmente é certo...

    O medo do ridículo... Como diz Oswaldo Montenegro: no  “nosso ridículo eterno, nós temos a impressão pela igreja católica que temos o pecado original, mas temos mais, temos o ridículo original (...)”

    Lembro que, ao concluir uma etapa do curso de homeopatia, tínhamos que apresentar o trabalho sobre o simillimum, que é o medicamento mais próximo possível das características do paciente, e eu deveria apresentar o Sulphur. Apresentei apenas o trabalho escrito, com a alegação que: “Sulphur não fala por timidez e medo do papelão”.*

    Sim, deve ter pessoas felizes sem quaisquer sentimentos de culpa, sem o medo presente dentro de si, e que livres disso, nunca metem os pés pelas mãos... Deve haver as centenas de milhões, mas não entre esta cadeira e este teclado.


* J. A. Lathoud. Matéria Médica Homeopática. São Paulo: Robe. 2002. 1291p

Foto: Djair - Boneco em Cerâmica do Vale do jequitinhonha.