quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ritos



Ritos servem para preservar tradições, unindo grupos, preservar e fortificar relações, propagar conceitos, e mesmo preconceitos. Mostrar tradições de antepassados, para que alguns se exibam, para que outros invejem aqueles detentores do status ali representado e queiram ocupar o lugar de destaque que é mostrado, e assim lhes rendam homenagens, rapapés, de forma a afagarem-se egos e perpetuarem sua cultura.

Muitos ritos estão em ruínas, em plena decadência, falta-lhes modernidade no ritmo e poder agregador, mas como modernizar algo que busca justamente preservar tradições?

Os bailes de debutantes, por exemplo, eram uma cerimônia onde a moça era apresentada à sociedade, pela primeira vez usava maquiagem, salto alto, entrava-se uma menina e saía uma moça. Hoje, muitas meninas pulam a etapa moça, tornam-se mulheres, tanto física e mentalmente como sexualmente. Oras, muitas hoje perdem a virgindade antes de sequer menstruarem, namoros são permitidos por pais permissivos cada vez mais cedo, e os rapazes dormem em suas casas...

Um dos grandes ritos católicos, a missa do galo, ritual celebrado por séculos à meia noite, hoje sob argumento da segurança é realizado insipidamente às 20:00hs, se muito, a mais das vezes para que os fiéis (e sacerdotes) possam estar em suas festas à hora da virada para o dia do natal, para que possam comer e rir, sem lembrar o que se celebra ali. Mas já que falamos destes, vamos aos valores outros representados no espetáculo dominical. O rito por belo que seja deveria realmente mostrar um congraçamento, e calhou de vir aqui a analogia com o rito apostólico romano, mas é apenas uma analogia que identifica mil outros ritos, religiosos ou não, basta um trocar uma nomenclatura de cargos ou expressão identificadora do ato teatral. Quem tiver olhos que veja, e quem tiver ouvidos que ouça, já diz o livro da lei da cristandade.

Bem, existe um momento no rito onde todos se “saúdam como irmãos” desejando as mais nobres e belas benesses; o cumprimento é dado com sorrisos e afagos: “A paz de Cristo” e... logo depois, na melhor hora da missa segundo um conhecido: “Vamos em paz e que o Senhor nos acompanhe!” Ainda na praça, ou mesmo no corredor do templo, já não se olha nos olhos daquele que se abraçou com fluídos salutares. Não se cumprimenta, ele já não faz parte do seu mundo. Mesmo autoridades leigas, Ministros de eucaristia, Sanyasis, Diáconos, Grãos-mestres, a mais das vezes buscam o quê? Uma projeção social dentro daquele ambiente, onde em gestos compungidos e serenos entregam “o corpo de Cristo” a seus irmãos, dão passes, passam em belas filas com ornamentos, paramentos, taças de vinho a serem distribuídas, pembas e pós, incensos e flores, e mil apetrechos dependendo de cada rito, crença ou que os valha... E depois dali? Postam-se ao mais das vezes no trono de orgulho, do Eu Sou, do estou acima de você. Não seria mais prudente e lógico quanto mais elevado espiritualmente, quanto mais próximo de Deus, que fosse mais humilde, que buscasse maior contato com seus irmãos ao invés de impostar-se como mestre e conhecedor de seus ritos e dogmas? Mas infelizmente, assim como títulos de doutorado não conferem bons modos a quem se dedica apenas à educação formal, gestos e palavras decoradas não os dão a quem não foi educado dantes.

Foto: Djair - Ilustração de painel da Biblioteca da Universidade de Coimbra - Coimbra - Portugal.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Confiança

               Um dos sentimentos mais importantes, em qualquer relacionamento... Confiança...
É ela quem nos faz permanecer em relacionamento com pessoas, grupos, trabalhos, nos faz manter empregados que têm às vezes muitas falhas, mas em quem confiamos, a quem entregamos as chaves de nossas salas, as de nossas casas, principalmente se, como eu, são descuidados que chegamos e espalhamos carteira, dinheiro, documentos e os deixamos em qualquer lugar. Sabemos que não os encontraremos ali, mas sobre uma cômoda ou em determinada gaveta.
Muitos casamentos acabam quando acaba a confiança; uma traição física, que a mais das vezes nada tem de envolvimento sentimental, mas sim de sexual, põe fim aí, exatamente no momento da descoberta que o outro não cumpriu um acordo tácito de relacionar-se apenas com o cônjuge. Amizades de anos a fio têm fim quando se descobre que aquele segredo confiado apenas àquela pessoa, foi compartilhado com terceiros, quartos e quintos, e ai, manda-se a relação para o quinto dos infernos.
Mais do que compartilhamento de segredos, a maior quebra de confiança dá-se quando se percebe que o outro utiliza-se de um relacionamento (que muitas vezes é longo, mas sem profundidade) para tirar alguma vantagem do que o outro tem, para aproximar-se de alguém que o outro conhece, para entranhar em negócios e obter vantagens pessoais, e lucro certo.
Nos dias atuais, Kali Yuga (Idade do Demônio Kali ou Idade do Vício), para os hindus, a confiança é algo difícil de conquistar e uma vez conquistada deve ser mantida como preceito, como a própria alma,pois quando se perde, dificilmente se resgata. E se a consegue resgatar, seu brilho sempre permanecerá ofuscado pela lembrança da traição passada. Afinal, mesmo nas relações saudáveis, onde se confia, volta e meia vem a dúvida... Até onde confiar? Posso realmente confiar? Quem não confia não está imune a traições, puxações de tapete ou imbróglios desta espécie. Faz parte do amadurecimento superar fins de relações, pessoais, profissionais, amorosas, mas as cicatrizes são profundas, muitas vezes originando queloides hediondos sem que se resgate a serenidade.
Mas o não confiar nunca, em nada, em ninguém (se isso é possível) não doerá mais que confiar e depois se descobrir equivocado?
É um processo de uma vida: confiar nos pais, confiar que a mãe o amamentará, que os pais o protegerão, que está seguro em casa, que o que o professor lhe ensina é correto, que seus amigos não o sacanearão, que o companheiro (a) vai se dedicar a você tanto quanto a ele, que sua religião e seu Deus o protegerão, que o seu sócio não o trairá, que seu amigo estará ali como você estaria no caso dele precisar, que a pessoa que você ama te doaria um rim se necessário fosse, que aquele amigo que propõe um empreendimento está realmente te contando a verdade sobre ele, suas consequências e riscos?
E por ai vai... Mas... Quem garante qualquer uma destas coisas?
Este texto não tem um desfecho, apenas leva ao questionamento sobre a confiança. Sobre em quem ou em que confiar. Confiança chega a ser um estado de espírito, porque às vezes você confia, mas em um determinado dia, cinza, frio, você pensa: e se não for assim? E então, confia? 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Viva Santo Antônio!

Imagem de Santo Antonio
Adquirida em Lisboa


13 de junho, dia do aniversário de Graciele, com quem não consigo mais falar, e... Dia de Santo Antônio; sempre que pude fiz fogueiras nesse dia e nos dos outros santos juninos (João e Pedro), e em outros dias, tivessem eles santos ou não. Aqui mesmo no blog já falei sobre fogueiras, mas... Hoje é dia de santo Antônio. Ano passado em Lisboa, me deparo com a igreja dele, segundo consta erigida no local onde foi a casa em que nasceu e morou. Assisti ali a uma missa e emocionado comunguei.

Bem, não é segredo que acredito em tudo, Deus e santos, e outros gênios, cristãos ou pagãos, já que para os cristãos tudo além do Cristo e seus mártires e santos é pagão. E mais abrangente, creio no Deus cristão e nos demais deuses também, Krsna, Orixás, e nem deveria, mas acredito (embora bem menos, mas mais do que deveria) nos homens também. Conheço ateus, agnósticos e fiéis de todas as vertentes, até um ateu devoto de S. Judas Tadeu e Nossa Senhora Aparecida.

Faço diferente da maioria ao comungar que, ao tomar a hóstia, já se acreditam puros e sem pecado, por terem se confessado e recitado fórmulas repetidas por séculos e “seculorum” mas enfim, quando resolvo fazê-lo, é porque estou tomado de certa emoção de embevecimento, de fé (se a isso se pode chamar assim) e aí sim, entro na fila e tomo a hóstia, preferencialmente das mãos de quem a distribui, que prefiro seja o próprio sacerdote vestido com todos os seus paramentos. A tomo porém no sentido de a partir dali me tornar melhor de alguma forma. Da mesma forma que tomaria um passe, água fluidificada ou benzida, ou doces de Cosme e Damião, ou “prachada”. Afinal, se tudo está imbuído de bons fluídos, de amor, tudo há de fazer o bem, e se o objetivo também é o de tornar-se melhor, nada vai fazer mal; é o que acredito a despeito do que achem outras crenças e seus representantes, sobretudo os mais cheios de certeza e conhecedores de seus livros de leis. Até porque muita gente os lê, decora e segue fazendo sacanagens e escrotidões às baciadas é fato, o vejo diariamente, gente que puxa tapetes e faz trapaças enquanto cita versículos sem sequer ruborizar.

Mas... É dia de Santo Antonio, então viva o santo do dia! Faço gosto que suas simpatias e tradições se mantenham, simpatias de moças casadouras, como as da faca na bananeira, do pingo de vela na bacia d’água, ou o amarrar seguido de afogamento da imagem do santo de ponta-cabeça. Que fogueiras ardam iluminando céus e aquecendo românticos, sou a favor de tradições, mais por achá-las belas e romanceadas do que por crer de fato em seus ritos, o que creio, creio eu e pronto. O que acho belo, é belo a meus olhos e se outros não o acham, paciência, certos círculos de visão só veem mesmo o material, então, lamentemos sua miopia. 

Nessa época dá-me saudade do Nordeste e de Minas Gerais, de procissões, e crendices, das abóboras, batatas doce, bananas, carnes assadas na fogueira e dos quitutes juninos. Me dá saudade de Ubatuba, onde sendo S. Pedro padroeiro dos pescadores, estes fazem festa a ele coincidindo com a pesca da tainha, que no princípio era preparada e assada por suas esposas na Ilha dos Pescadores, e servida recheada e assada na brasa, por preço vergonhosamente barato. Dá-me saudades dos pinhões que Rafael me trazia de seu sítio em Cunha, e a lembrança que eles também existem no sítio de Ana Angélica em Curitiba, então que o Santo do dia me propicie logo a ter o meu, pois faço parte do movimento dos sem sítio. Prometo fogueiras a ele.

De mais, viva Santo Antonio, Viva São João, viva São Pedro!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

E então, preparado?


Você está preparado?

Pra que? Não importa... Está ou não está?

Sente-se preparado para ir adiante, ou pretende recuar à vista do desconhecido? Arrisca-se e atira-se de cabeça, ou recua ao menor sinal de desconforto?

Medo de que a água seja fria? Medo de que sob a superfície límpida e cristalina haja um lodaçal podre onde se afunda lenta e tediosamente e nenhuma força o resgate?

Quantas oportunidades, quantas bem-aventuranças, deixamos passar por não nos sentirmos preparados! Por nos acharmos incapazes e, com isto, nada somos, senão relapsos quanto a nosso próprio destino e papel enquanto bem-aventurados moradores do planeta, devedores de responsabilidades quanto a ele e quanto aos companheiros de viagem, não no papel de protetores e acalentadores, mas de desenvolvedores de sua intelectualidade e sua capacidade de desenvolver a si mesmos...

Uma coisa é saber teorias, outra é conseguir transformá-la em prática, e assim fazer com que essa energia mude. Sim, o texto hoje está um tanto messiânico, e se não é de agrado, pode parar a leitura aqui, como me disseram ontem em tosco comentário: “Visito seu blog, mas eu sou jovem (embora a pessoa em questão já tenha a idade para ser e comportar-se como adulto) e jovem não lê textos grandes.” Olha, taí, passei a admirar aqueles que fazem plásticas e pintam cabelos ocultando anos na face e na cabeça mas a desenvolver intelecto e sabedoria. E respondi que não é o fato de ser jovem o que faz ler ou não textos grandes... Aprofundar o diálogo? Não era o caso nem valia a pena...

Geralmente atendo ao telefone, com esta palavra: “Pronto!” Uma vez, anos atrás, uma amiga daquela época, me liga e ao ouvir o meu “Pronto!” pergunta de chofre: “pronto, pra quê?” E eu imediatamente em xeque-mate: “Para o que der e vier!” E ela: “Nossa, quando liguei pro Lino, ele também atendeu falando: 'Pronto' e quando respondi pra quê, ele respondeu: 'pra tomar café'. Fiquei tão decepcionada...”

Mas para o “estar preparado” quando se está? Como se está? Para que se está? Bem, voltando ao messianismo da narrativa, sempre acreditei que as coisas acontecem. Sejam elas relacionamentos, mudanças, topadas... Pelo menos comigo, a maior parte das vezes foi assim, e acredito que se elas aconteceram, eu estava preparado para aquilo. Ou não aconteceria. Então... sim, estou... Posso arrepender-me? Sim, e muitas vezes vou... mas não seria pior lamentar não ter feito, experimentado? Então... tem-se que estar preparado até para recusar experiências, aprofundamento de relações e aprimoramentos.

Texto difícil de escrever foi este, expressando realmente o que quero passar, o que quero dizer, mas se você está preparado, vai entender. Então, se não entendeu... Prepare-se. Atire-se, creia, questione, pese, meça, recapitule, mas ao final... Esteja sempre pronto!