Sou a soma de muitas confusões
Eu sou o medo de ser mãe que teve a minha mãe
Sou a soma de várias contusões
Eu sou os cabarés que meu pai frequentava
Sou a solidão de minha mãe
calada
Sou a soma de diversas acusações
Eu sou o grito emudecido no silêncio da lágrima rolada
Sou a soma de variegadas imensidões
Eu sou minha trisavó caçada, acuada pelos cães, longe da tribo
Sou a soma de muitas indagações
Eu sou o desespero mudo de meu avô perdendo seu gado para seca
Sou a soma de variações
eu sou a rima do repente deste mesmo avô sentado à beira da fogueira de S. João
Sou a soma de esticadas ilusões
Eu sou as sacolas de laranjas e tangerinas que meu pai trazia da feira
Sou a soma de muitos nãos
Eu sou os vestidos de festa de minha mãe em aniversários, serestas
Sou a carga de muitos caminhões
Eu sou a vontade de viajar, do espírito nômade de meu pai
Sou um amontoado de traumas
Eu sou o abuso sofrido aos quatro anos
Sou a soma de muitos ais
Eu sou a vergonha de minha mãe, irmão e pai
Sou minha própria nação
Eu sou poesia verso e canção
Sou a soma de muitas lições
Eu sou Senhora Dupré, Hugo e Dostoiévski
Sou tanta coisa que já não sei dizer
Já que não sei, me diga você