A participação no evento era de 95% de mulheres, o que supõe meiguice, calma e sensatez, mas com certeza, quem já conhece uma praça povoada por pombos, como a Plaza de S. Marcos em Veneza ou a Biquinha em S. Vicente, e viveu a experiência de jogar milho/ração aos pombos, não iria estranhar o coquetel de abertura.
Várias mesas dispostas em um salão não tão grande, comidinhas e bebidinhas finas dispostas entre arranjos de flores coloridas, sob a luz relaxante de um lustre de século e meio atrás, que pendia do teto branco e refletidas pelos cristais do lustre e de espelhos ao redor da sala, dava amplitude ao um turbilhão de mulheres famélicas se descabelando por um pouco de ração.
O mesmo se repetirá nos dias seguintes, nas pausas para o café, ou como costumam dizer os adeptos do anglicismo, nos coffee-breaks, onde vi uma moça à minha frente ter a xícara de café derrubada por uma senhora que cortou a fila, empurrando a enorme bolsa sobre quem estivesse à frente, e como resultado ainda do desespero, a coitada que estava na fila educadamente, teve a mão queimada. Como digo as vezes, tem gente que se aproveita da idade para ser mal-educada.
Pessoas que tem nível superior, trabalham com informação, cultura e pelo visto... Tem fome...
A Educação, o glamour da ocasião, o bom senso são deixados de lado e... Oba!!! Comida!!!
O vestuário um show a parte. Imediatamente à minha frente, uma zebra pálida, como a tintura do cabelo, que ornava com o perfume mais doce que já senti. Ao lado, bem próxima, entre profusos e enormes babados multicores, repousava sobre o colo d’outra uma bolsa preta, enorme, de um material que não sei se era sintético ou pele de algum animal. Quase me atirei em cima da dona pois acreditei piamente estar sob ataque de um guaxinim. Bem, com a fauna e flora estampadas na roupa e o dourado das correntes e outros ornatos, não seria de estranhar. Certamente Clóvis Bornay chamaria o estranho look de “Esplendor da fauna e flora no reino de El-Dorado”. Em meio a elas, homens de terno, de calça e camisa sociais, um rapaz com bata já um tanto surrada assim como o Jeans chama atenção. Tem gente que também se aproveita da idade pra ser mal-educado.
Não me admira a colocação de uma amiga: “Não usava uma roupa desta nem pra lavar a casa com muita água sanitária.”
Um outro, antes do coquetel, ao notar na ponta oposta do salão, onde a orquestra executava uma peça de Malher, uma notável da área corre pelo salão de piso de madeira, com passos fortes, fazendo barulho semelhante a cascos de jumento. Junta-se a ela, e tome horas de papo fútil.
Ah, a subserviência e o puxa-saquismo... O que seria dos que amam paparicos, sem eles? E tome papo durante a sessão de música clássica... Ai de mim...
Foto: Djair - Tapete de Corpus Christ, feito com alimentos - Morro do Ferro - Oliveira - MG