segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Molequinhos...

Estão a espreita… O riso é contido. Fazendo uns gestos de silêncio uns aos outros com o dedo em riste em frente a boca.

Esticam o estilingue! E quebrando o silêncio o grito ecoa: “_Quebra o cu dele com uma pedra!” “_Enche o coco dele de mamona” grita o outro. “_Pega, pega, não deixa fugir não! Não deixa fugir, Não deixa...”


E o pequeno alvo, pernas pra que te quero, o mais ladino, e que vinha distraído sai correndo, põe as mãos na cabeça para protejer-se das sementes de mamona. Corre e ri, ri e corre… Grita impropérios contra o grupo armado; puxa para cima o calção largo que está a cair. O elástico já não é novo, o corpo franzino ajuda a gravidade. Ri, e corre… corre e ri…

Riem e atiram, esquecem dos bodoques e já atiram as mamonas com as mãos. Correm atrás. Os gritos, as risadas, pega, pega… Pega!


Suam, sua o que corre na frente, suam os da malta que persegue. Tanto suam como riem, como correm, como arfam já de cansaço mas não desistem, sabem que na sua vez de correr a fuga não terão trégua, então põem-se no encalço a todo fôlego. Até o alcance já não ser possível, as freadas são bruscas, com gestos de desalento, risos e palavras divertidas. Não há bulling, só brincadeira, é diversão, na próxima será um deles a fugir. E depois vão ainda correr juntos atrás de bola, de pipa, de balão, no pique-esconde, no salve latinha, ou a levar muros no garrafão.

Até que chegue enfim a derradeira corrida do dia, correrem todos ao mesmo tempo, como um enxame de abelhas, cada qual numa direção, cada qual pra seu abrigo, afinal a ordem inquestionável ecoou lá de dentro: Corre menino, que é hora do banho!


Foto: Djair - André Luis Colorido, cansado de correr.