“Bitu era pequeno, pequeno...
Fofinho era gordinho, gordinho...
Mas Zecão era grande, muito grande...”
E aí...
Aprendi a ler...
Sim, foi com a história dos três cabritinhos e da onça gabola...
Vieram daí a pouco os livros de comunicação e expressão, que era como chamávamos a matéria ora denominada “Português”: o nome da língua, da última flor do Lácio, inculta e bela, como disse Olavo Bilac. Lembro bem do livro João-de-barro de Domingos Paschoal Segalla. Foi ele que seguiu às cartilhas. E depois vieram outros de autores e títulos que se perderam na memória e lembrarei no futuro, quando não puder lembrar o que se passou há cinco minutos. Isso se Deus não permita que o Alzheimer vier visitar-me. Mas, lembro bem de alguns textos e personagens que davam cor e sabor a eles.
Lembro de um texto que detestei, uma turma estava à mesa de uma lanchonete e o personagem, de cabelos vermelhos e cheio de sardas, era descrito como o Gordo... “O gordo tirou meleca do nariz e colocou embaixo da mesa dizendo: O lado de baixo da mesa é feito para colocar meleca...”
Mas lembro também de outro texto delicioso, pura aventura, que discorria sobre o prazer de andar de bicicleta, onde o personagem descia correndo pela Alameda Nothmann, o vento batendo no rosto da personagem a fazer-lhe os cabelos esvoaçarem...
O tempo passou, a quinta série chegou, e com ela: “A Ilha Perdida” de Maria José Leandro Dupré. O primeiro livro de romance, assim, inteiro... Era o livro de férias, para ser lido nas férias de julho. O primeiro... As letras não eram grandes, as gravuras, como chamávamos as ilustrações, muito poucas. Mas... Que delícia... Não foi preciso mais que poucas páginas para apaixonar-me. A história de Eduardo, Henrique, Simão e o macaco Lucas, fisgou-me por inteiro.
Áquele ano, fomos passar as férias na casa de minha tia Hercília, em Guarapari, no Espírito Santo. A viagem de trem, de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço mineiro à Vitória, capital capixaba, margeava o Rio Doce. Hoje não sei a quantas anda o rio, mas à época, anos 1970, era largo, portentoso, de águas barrentas, correnteza forte, inúmeras ilhas fluviais... E nelas imaginava os personagens, recriava “A Ilha Perdida” e, na utopia que criava, enlevado pelo prazer do livro que levava às mãos e alternava com a paisagem, também eu era personagem.
Outros livros vieram, à mão cheia, centenas deles, várias histórias, mil nuances... Mas este, o primeiro, ficou para sempre gravado à alma. E é por ele e por professores queridos que vieram depois, Dona Maria das Graças, e Profa. Lenir no Schmidt, Tamina Oka Lobo no Nobel, que incentivaram-me a ler, a escrever, que, no “frigir dos ovos” como diz minha mãe, tornei-me bibliotecário e estou aqui a escrever. Obrigado por ler.
Foto: Internet - Divulgação
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