segunda-feira, 25 de maio de 2020

As luzes da ribalta.



A luz da lua sobre Lisboa, e suas luzes artificiais.
A luz do Sol
Que doura os corpos
A luz da Lua
Iluminando as trevas da noite
A luz das estrelas
Que iluminam as ideias dos poetas
As luzes dos postes
A iluminar ruas vazias, vadias.
As luzes das revoltas, das ideias, do sentido figurado
Que acenderam os ideais dos revolucionários
A luz divina
Que ilumina oráculos, profetas e santos
As luzes do Palco
Quando grito: “Bravo!” Ópera, circo, teatro, ah, a arte...
A luz das passarelas
Para iluminar as magrelas
As luzes piscantes que acompanham sirenes
É a luz sonora que leva doentes, que busca meliantes
As luzes dos faróis em alto mar
Lembram teus olhos, pois indicam salvação e fazem marujos gritar: “Terra à vista!”
A luz fugidia dos pirilampos
Que alegram crianças e românticos: “Olha o vaga-lume!”
A luz d e uma sala, garagem, quarto, do bar, de qualquer lugar

Leitura. Silenciosa,  em altos brados. 
A luz no fim do túnel
Que nos falta
As luzes mais belas
Iluminam Lisboa e o crepúsculo no cais de Floriano
As luzes coloridas
Meus enfeites de natal
As luzes coloridas no céu
O arco íris, a aurora boreal, e quem sabe... uma nave espacial. Especial!
As luzes dos prismas
Falsos arcos-balenos
A luz de uma ideia
Eureka!
As luzes das velas para os mortos, para os santos
O poder do ritual
As luzes das fogueiras
Iluminam sábios, queimam mulheres, homens e crianças. Nem só de Joana D’Arc arde uma fogueira
As luzes dos fogos no ano novo
Rimam com champanhe
As luzes, tantas luzes
na era obscura em que vivemos...
Falta Luz!

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Outras Mães



E anteontem - escrevo esse texto numa terça-feira -, foi dia das mães no Brasil (uma semana depois de em Portugal). Pois...
As redes sociais encheram-se de fotos das mães de todos (ou quase). Das mães com os filhos quando crianças, quando adultas, tiradas no dia, na hora da postagem, ou de mães quando estavam grávidas, de mães presentes, de mães falecidas. E de mães que não se podem visitar em dias de peste como os atuais ou das que foram visitadas e quiçá infectadas pelos filhos que não se importaram tanto assim com suas mães.
Pixação na "Quinta das lágrimas" - Coimbra - Portugal
Nos portais de internet e jornais, histórias de mães. As que estão na linha de frente de frente da saúde e não poderão passar o dia das mães com seus filhos por estarem de plantão |(oras, todo ano não há médicas e enfermeiras de plantão nesse dia? E em todo e qualquer outro tipo de trabalho que exija o trabalho ao domingo? Enfim...) Histórias de mães que perderam seus filhos, de mães que deram seus filhos e lutam para reavê-los...
Só não vi histórias de mães que não amam seus filhos, que os abandonaram e não se arrependem, que só os tiveram por não poder resistir a uma trepada gostosa sem prevenir-se, que os tiveram para cumprir a “obrigação de esposa” diante do desejo do marido ou que os tiveram porque queriam um bebê para metê-lo na cara dos outros como sinal de sucesso no casamento, de mães que nem sabem quem é o pai de seus filhos... De mães que mataram seus filhos por sua opção sexual, por não cumprirem os desígnios delas, porque estavam drogadas, porque o companheiro não as aceitava com uma criança de outro, o mesmo motivo que leva tantas a abandoná-los... Ah, o poder de uma pila boa...
Também não vi histórias de mães de vários filhos que dedicam seu amor apenas a um deles. E não me venham dizer que as mães amam os filhos igualmente, que isso é história que nem os bois dormem mais com ela. Como disse meu orientador na época do mestrado, num de nossos inúmeros encontros de amigos e não de professor e orientador: “Nem toda mãe é boa”, estando Mário Caeiro até o topo de razão. Sem esquecer que também não o são pais, maridos ou esposas, mas o mito “mãe” talvez seja o que mais choque quando colocado nesses termos puros. A aura de santidade em torno “dela” é uma mística poderosa, um tabu que é negado pela cultura judaico-cristã e que precisa ser desconstruído. Haja anos de terapia para se livrar desse fantasma da mãe boa, quando ela não o é. Ainda assim, elas recebem ligações e presentes nesse dia e o árduo trabalho de desconstrução - salvo casos absurdamente claros onde ela própria passa anos a desconstruir essa mística – nunca é conclusivo.
Grafite em Prédio da Amadora - Portugal
Não, não vi nenhuma dessas outras histórias sendo contadas, mas conheço muitas delas. A desconstrução da ideia de mãe é tão difícil, penosa e inconclusiva como a da destruição de Deus, o Deus bom e de amor que envia pestes e guerras, que destrói os inimigos (mas não é ele o mesmo Deus de seus inimigos? O Deus de amor e bondade?).
Lembro de uma pessoa a quem conheci e foi ele, e mais os cinco irmãos, juntos ao pai que os criou, abandonados pela mãe quando ela encantou-se por um músico. Também conheci a ela, mantida por meu conhecido mas que dedicava todo o amor maternal apenas a um neto que com ela vivia, aprendiz de bandido..., a ter todo o amor que nela existia. Como essa pessoa dizia: já vi mãe abandonar uma, duas crianças e ficar com aquelas que podia, mas abandonar todas era o único caso de que ele (magoado) sabia.
Conheço mães para quem sobra todo o tipo de cobrança para com um dos filhos, enquanto é extremamente permissiva para o outro, que aliás tira de um para dar ao outro. Mães que com um é só carinho e com outros tem a irritação de uma gata admoestada. Quem fala sobre essas mães? Apenas aqueles que as tem assim, que se enternecem, ainda assim, com suas lembranças de algum dia bom, ou com a imagem de uma fotografia, mas que muitas vezes já desistiram(?) de esperar um carinho de mãe.
Também conheço o contrário, daquelas que criou filhos alheios e a eles dedicaram todo o amor que foi negado pelos que geraram. Mães que se não adotaram de vez, adotaram no coração. Mas essas, a mais das vezes, aparecem nos programas de tv em especiais desses dias ou quando o “filho” torna-se alguém famoso. E a não-mãe? Não é preciso falar também sobre ela? Até para que ela, reconhecendo-se nesse papel, o assuma de vez ou quem sabe tente ser menos anti-mãe? O papel da má, nas histórias, é sempre o da madrasta; engraçado é que conheci na maioria das vezes madrastas que eram amadas como mães.
Lembro de uma ou outra história terrível; em uma delas se dizia a duas crianças que a mãe falecida voltaria para buscá-las. Morto o irmão, dizia a menina que foi a mãe que veio buscá-lo e a próxima seria ela...
Mães... há de todo o tipo. E é necessário que todas gozam o direito ao dia das mães...