sábado, 29 de dezembro de 2018

Cotidiano


Faço planos
Ele ri
Abraço
Ele sente abafamento
Gosto de viajar
Ele fica nervoso – mas vai...

Cozinho
Ele lava a louça
A roupa ele lava e passa.
Eu cozinho, aliás a roupa ele também cose.

A vida segue
Juntos
Ainda que sozinhos.




Foto: Djair - Vista da janela de um apartamento alugado na cidade do Porto. 
Dezembro de 2018

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Algumas palavras sobre Freedie e eu.


         Ontem finalmente fui assistir “Bohemian Rhapsody”,  já escrevi aqui sobre alguns filmes. Não sou especialista em cinema, apenas gosto de e de vez em quando algum filme me toca a ponto de querer falar sobre ele, de escrever sobre ele. 

Bhoemian Rapsody não é um grande filme. É um belo filme. As canções sobretudo já o fazem valer a pena. Toda biografia puxa um pouco a brasa para a sardinha do biografado, para além disso, a velha fórmula do cinema e dos grandes ídolos, são ídolos por morrerem no auge, sexo, drogas, Rock’n roll baby!

No mais uma história conhecida, o mocinho que enfrenta o mundo entra na sua solidão e se dá mal. Como se a liberdade fosse algo a merecer sempre um castigo.

 A cena mais picante é um beijo entre dois homens, nada que novelas já não tenham mostrado, ao menos no Brasil, em horário nobre. Daí eu não entender a revolta de parte do público paulista de quem houve notícias na imprensa e nas redes sociais de terem vaiado o filme por descobrirem ser o biografado homossexual. Mas que tipo de idiota desinformado não sabia disso e vai assistir ao filme? Enfim, quem não tem segurança de sua sexualidade está sempre incomodado com a dos outros.

A referência a apresentação do Queen no Rock’n Rio me dá alegria e uma pontadinha de orgulho...

Nos anos 1980 lembro que se atribuía a Mercury a declaração de ter tido mais amantes que Elisabeth Taylor. Já não lembro se ouvi ou li em uma dessas revistas de TV e fotonovelas que minha mãe lia, contigo, ilusão, Grande Hotel...

Também não traz grandes informações sobre Freddie. Pouco sobre a família, se atem bem mais a banda, e as músicas, e aí está grande parte de seu mérito, não o vitimiza, não explora a doença, não faz o que a revista veja fez com Cazuza. E difícil não lembrar também daquele tendo assistido o filme sobre ele, oficial... autorizado pela família... Aliás a mesma que não cumpriu seu desejo de cremação e queima das letras inacabadas. Mas deixemos aquele descansar em paz.

Lembro do dia que Freddie morreu. À época eu ainda assistia o jornal Nacional, que começava as 20h. No rádio desde bem mais cedo tocavam suas músicas, como é normal fazerem a cada morte de cantor famoso. Na sala minha mãe e eu, era uma casa alugada, numa rua chamada João Chico, que me faz lembrar o Rhadanatha, amigo Hare Krsna a me zoar dizendo que nem pra morar numa rua com nome decente... Ao final do Jornal, uma matéria longa sobre Freddie e seus últimos dias, recluso, sem querer levantar bandeiras em um tempo que a soropositividade valia por uma sentença de morte, aliás, mesmo já não sendo até hoje mete-nos medo, medo da morte, da doença de um preconceito ainda maior que o que enfrentamos diariamente, e imagens, muitas imagens, e música, dança, alegria, daquele que morreu triste, e quase só. Lembro de chorar e minha mãe dizer não entender como eu chorava por alguém que eu não conhecia e que estava do outro lado do mundo. Bem, agora estou do outro lado do mundo, e talvez ela não me conheça, será que chora se eu morrer?

Não sei, talvez eu chorasse pela solidão do outro, por ele ter tudo, ter sido tudo o que quis e não mais ser nada naquele instante. Talvez eu tivesse mais empatia a época. Talvez porque já tivesse gosto por quem luta, enfrenta, faz, trabalha, vive. Não sei... Não era propriamente um fã do Queen, embora gostasse das músicas, nunca segui sua carreira, nunca tive pôsteres no quarto como de Marina e Cazuza. Mas ali, senti tristeza por sua partida. O mundo ficou menos alegre desde então, isso é inquestionável. Enfim... Chorei.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Umas palavrinhas sobre exclusão de perfis




Quando deleta-se uma conta, numa rede social, é como que se fizesse um suicídio diante do grupo de pessoas que o seguem, que acompanham (ou muitas vezes não, apenas ocupam ali um espaço com uma pequena fotografia a fim de lembrar aos outros sua existência), o seu dia-a-dia, suas fotos, sua pretensa vida social e ativa, seus pensamentos, gostos, critérios, martírios e enfados cotidianos.

A exclusão dessa página é como se dissesse a eles: não aguento mais, nem a mim, e nem a vocês, e é por isso que vou-me embora. Não seria talvez para Pasárgada, pois lá até o rei já deve ter sido destronado e nem sequer se dava a conhecer, quanto mais a ter grandes amizades.

 Ao sair, sempre se lembra de quem antes abandonou a rede, como no “corvo” de Allan Poe “outros amigos voaram antes e não voltaram jamais”.

Muitas vezes, a maioria das saídas é só por um tempo. Muitas vezes excluem-se apenas as páginas falsas, que fazemos para diversão ou para o que não temos coragem de dizer sem máscaras, ou que conforme vamos dizendo sem as tais, essas já não fazem sentido, e então mata-se o heterônimo. Aí então seria o assassinato de uma persona latente dentro de nós? Não, não chegamos às faces de Eva nem à genialidade de Pessoa, mas sim, a cada ambiente, a cada espaço, somos um, temos um id e um superego sempre em guerra, e a cada vez um marcha à frente, por isso vários somos, nem sempre gostamos desses que nos formam e por eles também somos tomados, a poesia bela que escrevemos ou a rispidez que enrijece os músculos da face. E ultimamente o “livro de faces” é grande fomentador dessas nuances, por isso o suicídio (ainda que aí possa ser temporário) das nossas personalidades sociais. Na “rede”, muitas vezes sente-se enredado.