Ontem finalmente fui assistir “Bohemian Rhapsody”, já escrevi aqui sobre alguns filmes. Não sou
especialista em cinema, apenas gosto de e de vez em quando algum filme me toca
a ponto de querer falar sobre ele, de escrever sobre ele.
Bhoemian Rapsody não é um
grande filme. É um belo filme. As canções sobretudo já o fazem valer a pena.
Toda biografia puxa um pouco a brasa para a sardinha do biografado, para além
disso, a velha fórmula do cinema e dos grandes ídolos, são ídolos por morrerem
no auge, sexo, drogas, Rock’n roll baby!
No mais uma história conhecida,
o mocinho que enfrenta o mundo entra na sua solidão e se dá mal. Como se a
liberdade fosse algo a merecer sempre um castigo.
A cena mais picante é um
beijo entre dois homens, nada que novelas já não tenham mostrado, ao menos no
Brasil, em horário nobre. Daí eu não entender a revolta de parte do público
paulista de quem houve notícias na imprensa e nas redes sociais de terem vaiado
o filme por descobrirem ser o biografado homossexual. Mas que tipo de idiota
desinformado não sabia disso e vai assistir ao filme? Enfim, quem não tem
segurança de sua sexualidade está sempre incomodado com a dos outros.
A referência a apresentação do Queen no Rock’n Rio me
dá alegria e uma pontadinha de orgulho...
Nos anos 1980 lembro que se
atribuía a Mercury a declaração de ter tido mais amantes que Elisabeth Taylor. Já
não lembro se ouvi ou li em uma dessas revistas de TV e fotonovelas que minha
mãe lia, contigo, ilusão, Grande Hotel...
Também não traz grandes
informações sobre Freddie. Pouco sobre a família, se atem bem mais a banda, e
as músicas, e aí está grande parte de seu mérito, não o vitimiza, não explora a
doença, não faz o que a revista veja fez com Cazuza. E difícil não lembrar
também daquele tendo assistido o filme sobre ele, oficial... autorizado pela
família... Aliás a mesma que não cumpriu seu desejo de cremação e queima das
letras inacabadas. Mas deixemos aquele descansar em paz.
Lembro do dia que Freddie
morreu. À época eu ainda assistia o jornal Nacional, que começava as 20h. No
rádio desde bem mais cedo tocavam suas músicas, como é normal fazerem a cada
morte de cantor famoso. Na sala minha mãe e eu, era uma casa alugada, numa rua
chamada João Chico, que me faz lembrar o Rhadanatha, amigo Hare Krsna a me zoar
dizendo que nem pra morar numa rua com nome decente... Ao final do Jornal, uma
matéria longa sobre Freddie e seus últimos dias, recluso, sem querer levantar
bandeiras em um tempo que a soropositividade valia por uma sentença de morte, aliás,
mesmo já não sendo até hoje mete-nos medo, medo da morte, da doença de um
preconceito ainda maior que o que enfrentamos diariamente, e imagens, muitas
imagens, e música, dança, alegria, daquele que morreu triste, e quase só.
Lembro de chorar e minha mãe dizer não entender como eu chorava por alguém que
eu não conhecia e que estava do outro lado do mundo. Bem, agora estou do outro
lado do mundo, e talvez ela não me conheça, será que chora se eu morrer?
Não sei, talvez eu chorasse
pela solidão do outro, por ele ter tudo, ter sido tudo o que quis e não mais ser
nada naquele instante. Talvez eu tivesse mais empatia a época. Talvez porque já
tivesse gosto por quem luta, enfrenta, faz, trabalha, vive. Não sei... Não era
propriamente um fã do Queen, embora gostasse das músicas, nunca segui sua carreira,
nunca tive pôsteres no quarto como de Marina e Cazuza. Mas ali, senti tristeza
por sua partida. O mundo ficou menos alegre desde então, isso é inquestionável.
Enfim... Chorei.
Quando deleta-se uma conta,
numa rede social, é como que se fizesse um suicídio diante do grupo de pessoas
que o seguem, que acompanham (ou muitas vezes não, apenas ocupam ali um espaço
com uma pequena fotografia a fim de lembrar aos outros sua existência), o seu
dia-a-dia, suas fotos, sua pretensa vida social e ativa, seus pensamentos,
gostos, critérios, martírios e enfados cotidianos.
A exclusão dessa página é
como se dissesse a eles: não aguento mais, nem a mim, e nem a vocês, e é por
isso que vou-me embora. Não seria talvez para Pasárgada, pois lá até o rei já
deve ter sido destronado e nem sequer se dava a conhecer, quanto mais a ter
grandes amizades.
Ao sair, sempre se lembra de quem antes
abandonou a rede, como no “corvo” de Allan Poe “outros amigos voaram antes e
não voltaram jamais”.
Muitas vezes, a maioria das
saídas é só por um tempo. Muitas vezes excluem-se apenas as páginas falsas, que
fazemos para diversão ou para o que não temos coragem de dizer sem máscaras, ou
que conforme vamos dizendo sem as tais, essas já não fazem sentido, e então mata-se
o heterônimo. Aí então seria o assassinato de uma persona latente dentro de
nós? Não, não chegamos às faces de Eva nem à genialidade de Pessoa, mas sim, a
cada ambiente, a cada espaço, somos um, temos um id e um superego sempre em
guerra, e a cada vez um marcha à frente, por isso vários somos, nem sempre
gostamos desses que nos formam e por eles também somos tomados, a poesia bela
que escrevemos ou a rispidez que enrijece os músculos da face. E ultimamente o “livro
de faces” é grande fomentador dessas nuances, por isso o suicídio (ainda que aí
possa ser temporário) das nossas personalidades sociais. Na “rede”, muitas
vezes sente-se enredado.