A paciência
para com o outro torna-se cada vez mais escassa, talvez isso explique o alto
número de divórcios hoje em dia. Mas não é só o fim dos casamentos; entenda-se
por divórcio rompimentos de todas as espécies. Quantos amigos você achou que
levaria para a vida toda e hoje não tem
a menor vontade de encontrar? E por que? Falta de paciência talvez, por estar
mais centrado em si próprio e o que não é espelho não te interessar?
Enquanto está
tudo bem, ótimo, os sorrisos e gargalhadas são mútuos, e quando a coisa aperta?
Doença, desastre, crise, tragédia? Ah, também... Sente-se a dor do outro, se
condói com suas perdas, muitas vezes até carregando também a dor alheia. Mas e
quando não há crises ou grandes comemorações? A cumplicidade é suficiente para
manter o contentamento com a simples existência serenada pela rotina? Se há
cumplicidade, não é preciso assunto novo, por mais salutar que ele seja? Os
velhos planos, as mesmas músicas e o pão nosso de cada dia, ali são suficientes?
A presença do outro não vai exigir novidades, apenas o calor de estar junto?
Primeira? Segunda? Terceira? Marcha a ré? Não importa, a companhia que aprecia
a paisagem lá fora, tecendo comentários do quão bonita é, do quão árida parece,
da falta que faz algo ou do que embelezaria ainda mais, é o suficiente para
tornar a viagem menos cansativa e aí, a monotonia do “transcorrer”, é dividida, pesa menos?
A
cumplicidade, a intimidade, o entrosamento não é feito às pressas, demanda tempo,
demanda vivência, realocação e ajustamento de parâmetros, fazendo das
diferenças afinidades, e procurando entender o que não se concorda em prol de
uma convivência mais próxima, pacífica, duradoura. Muitas vezes se têm
convivências extensas, mas sem nenhuma profundidade, sobretudo em locais de
trabalho. É comum ouvir: trabalhamos juntos desde... Mas e daí? O que se sabe
sobre o outro, sobre o que pensa, sobre seus gostos, medos e sobre o que pensa
quando tem insônia? O outro se sente só? Seguro? Mascara seus complexos em um
texto rebuscado de certezas e afirmações que não convencem a ninguém? Em uma
impostação de voz estudada que não combina com o gestual? Não, isso não é
amizade, isto é convivência. Amizade é quando se confia a ponto de mostrar suas
fragilidades, não obstante tenha quem faça eternamente o número do frágil e
coitadinho, e esses me cansam. Como devem cansar a muitos outros. Não é a
personagem e sim a pessoa real que buscamos, por isso muitos laços se desfazem
rápida e irremediavelmente tão logo um olhar mais crítico analise o
comprometimento.
Relacionamentos são assim,
geralmente quem cobra carinho, presença e licitude, não sabe proporcioná-los,
então os laços se desfazem, às vezes viram um nó cego, às vezes um longo
cadarço a fazer tropeçar. Às vezes é só ter paciência e reatá-lo.
Foto: Djair - Ex-votos - Sala dos milagres da igreja da Ordem Terceira do Carmo, também conhecida como igreja do Senhor dos Passos - São Cristovão - SE (Como muios laços, estão por um fio).