quarta-feira, 15 de abril de 2015

Algumas palavras sobre transplantes de órgãos.



Atualmente, pelo menos dois amigos esperam por transplantes.
Foi neles que acordei pensando nessa madrugada. Rins, fígado...
Pedaços de outros corpos que podem proporcionar uma qualidade de vida melhor, que podem salvar-lhes as suas.
Todos os dias, esses mesmos pedaços, são enterrados e queimados aos montes, por aí... Acompanham corpos que apodreceram sem servir a ninguém, os que serão queimados sequer servirão de comida aos vermes.
Esses amigos sofrem, física e nem sei dimensionar (e quem poderia?) o quanto, mentalmente, por não recebê-los, por sabê-los deteriorando naturalmente, por sabê-los virarem cinzas, por saber que em processos de embalsamamento, muitos vão simplesmente para latas de lixo, e sequer serão utilizados para pesquisas médicas que salvariam vidas. Vidas como aquelas que se acabaram de ir, deixando inanimados os corpos dos quais faziam parte; vidas dos que agora se julgam donos desses corpos já sem vida, que podendo doá-los e salvarem a outros (e a si), optam por perdê-los, optam pela podridão, condenando assim ao sofrimento e à morte os que poderiam sobreviver com os nacos de carne perdidos.
A culpa é da dor que sentem? A dor que sentem é maior do que a dos que esperam? O dilema da escolha é psicologicamente mais brutal do que a quem sabe que para viver precisa de um pedaço do outro, e que para recebê -lo a forma mais comum é que “esse outro”, esse “doador”, precise morrer?
E se você, ao morrer, preferirá que esse seu pedaço apodreça junto com o resto, que seja queimado, tornando-se apenas cheiro de carne queimada e pó, ou que salve a vida de alguém?

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