sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Caminho dos Pilões

Tinha hortênsias no jardim, laranjeira no quintal dos fundos, além da cerca de madeira nova havia uma pequenina cascata que fornecia água ao bairro.
Da varanda avistávamos ao longe a Serra do Mar, era um horizonte pleno.
Brincávamos na rua, e eu, que sempre gostei do do fogo, acendia fogueiras em tempos juninos e em outros quaisquer.

 
As galinhas de casa eram poedeiras, assim como as marrecas.
Poucas casas havia nessa época e só um ônibus servia o bairro. A alguns quilômetros uma fábrica de sardinha em lata, antes da curva que dava acesso ao rio, que nos proporcionava tardes prazeirosas sob o sol.
Na mata do morro “catávamoscoquinho a valer por entre manacás e a flora 'multimilionária'.

 
Depois de termo ido embora dali, a fábrica foi desativada. Dois anos depois havia sido invadida por sem tetos. Pouco mais de uma década passou até que eu retornasse ao lugar... Uma favela instalou-se a partir da antiga fábrica de sardinha.

 
As casas antigas do bairro, poucas restaram. E estas, em lugar dos amplos quintais, abrigavam puxadinhos e cortiços. Não há mais jardim na que residi. Hoje é uma igreja evangélica com casa do pastor ao fundo e outra depois desta. Não tem mais acesso à cachoeira, mais sei que ainda existe e resistente, abastece o bairro.

 
Mesmo o rio virou pequeno córrego e a enorme ponte de ferro que atravessávamos temerosos com receio de cair, enferrujada e decadente, quase não tem água a receber sua sombra. Acredito que mesmo os bagres, cascudos e carás tenham sumido, assim como os amigos do tempo pré-adolescente.
Das casas mais belas, as que não foram demolidas, quase nada resta do original. Porque voltar?


5 comentários:

  1. Caminho dos Pilões - Meu pai já fazia chistes: "Um bairro que é um caminho" dizia ele a sorrir. Era um antigo bairro de Cubatão - SP, já na divisa com S. Vicente, era praticamente aréa rural.

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  2. ... que lástima !!!
    Outro dia estava pensando sobre isso com relação a cidade onde nasci e cresci.
    Há quem diga que o "progresso" chegou lá. Mas este, veio sem dó nem piedade, acabando com as belezas naturais que haviam lá , pra dar espaço a empresas, residências e pavimentação asfáltica.
    As cachoeiras lindas permanecem lá, porém hj é de propriedade particular, onde foi criado um pesque e pague ( e pague mesmo que não pesque nada ) rs
    Os muros de 80cm, que antes eram só pra embelezar as residências, aumentaram em função da segurança.
    Policiais fazem ronda em tempo integral. Há combate ao tráfico, há combate ao abuso infantil, há brigas pelo poder, há desemprego, há quem queira sair de lá e não pode , há quem gostaria de voltar e sente que não vale a pena e há quem tem esperança de que td pode ser melhorado.
    Isso é o progresso !

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  3. Djair, esta história me fez lembrar do filme narradores de Javé. os moradores tinham que contar a história do Vale de Javé. Por que?
    Estava perdendo o belo, .....Lindo filme beijos

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. pelos amigos q tb um tanto tristes , a as mudanças ti recebem d braços abertos e contentes por ter com quem comentar relebrando tempos d autrora. Que saudade,que saudade..........

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