Gosto de pessoas doces, de gente que sorri, sorri com lábios, sorri
com os olhos. Gosto de gente que tem medo, que sabe guardar segredo;
adoro gente que olha no olho, que não precisa fazer pose, que não
vê graça em fazer cara de mau como é comum entre jovens que
necessitam afirmar masculinidade que às vezes nem tem, e por isso
capricham na cara de mau; também não gosto de gente sem sal, e
antes que te apercebas da rima pobre, esclareço que trata-se da
gente do tipo a boazinha, o subserviente.
Tenho inveja de quem escreve bem, morro de inveja de quem toca algum
instrumento, de quem tem ritmo, na voz, no corpo, na alma; eu
desprovido deste dom desafino até quando aplaudo, já que minhas
palmas em geral acontecem em descompasso às da claque.
Me despertam pena os sem chance, os que nunca terão revanche, os sem
estudo, os sem emprego, os sem água do nordeste, os alagados do sul,
os sem teto, os sem terra, os garotos e garotas de frete
desempregados. Os que causam escárnio.
Me dão medo os bandidos, os viciados, os falsos, os que têm
complexo de inferioridade, porque estes sempre vão puxar para baixo
os demais, já que não conseguem vir à tona, como náufragos, como
os que se afogam acabam por matar seus salvadores, aqueles que não
conseguem subir e estão sempre a denegrir alguém a fim de que estes
possam estar no mesmo nível em que se encontram: o baixo. Como
todos, tenho medo do mau encontro, nunca sabemos como, quando e onde
ele pode acontecer, ou de que forma se pode dar. E assim morrendo de
medo, mas resistindo, não coloco grades nas janelas, não subo
muros, e confio que o mau encontro não se dará.
Então em vez de pensar no mal possível, melhor pensar no bem. No
bem que me pode acontecer, no bem que posso fazer a outro,
especialmente aquele bem mais fácil de fazer, que é o bem que
fazemos àqueles que gostamos. Fazer bondades, como dizia tia Tereza,
a quem não se gosta é mais difícil, e sentimo-nos como a colocar
uma máscara de otário, mas se são verdades todas as retóricas
sobre elevação espiritual, sobre o bem e o mal que voltam, não
custa tentar no mínimo ser justo. Afinal, de quanta gente não
gostamos, não vamos com a cara e de repente depois de uma conversa
com aquele mudamos de impressão?
O oposto também acontece, é onde digo sempre que desconfio das
amizades feitas muito rapidamente. Mal se conhece e o outro já se
diz nosso maior e melhor amigo, e as vezes por momentos até o
acreditamos e sentimos assim. Mas como plantas de floriculturas, que
crescem e florescem à custa de adubos químicos sem enraizar-se
completamente, rapidamente sucumbem, e mesmo transplantadas
dificilmente voltarão a ser tão vistosas. Assim também o é com o
trato dessas relações, um olhar mais atento, uma frase reveladora,
um ato... e você percebe que o azul celeste ganha tons plúmbeos. E
aí, já não é mais primavera ou verão na relação, que pode se
manter outonal, ou cair na mais rude frieza e escuridão do inverno;
torna-se uma relação cordial, que é o que teremos.
Foto: Djair - "O senhor dos gatos" Castelo de S. Jorge - Lisboa - Portugal
não temos tempo a perder... não tenho medo de encarar; as pessoas que nos virão; e que se irão; as que limparei da lista; importante as que ficarão.
ResponderExcluirUauuuuuuuu muito lindo este texto. Também sou desafinada em tudo. Dias atrás estava cantando no único lugar possível, quando meu filho bate na porta do banheiro e diz: Paraaaaaa se desafina muito faz parte. grande abraço e Parabéns.
ResponderExcluirCarminha
Lindo texto Dja, identifiquei-me com ele!!! São reflexões que todos deveríamos fazer, são os aprendizados que a vida nos proporciona, então melhor pegarmos a onda e simbora! Adorei!!! bjss
ResponderExcluirNossa,que delicadeza de texto!
ResponderExcluirSe a maioria do ser humano soubesse apreciar as coisas mais
vitais,olharíamos com mais vivacidade para fora e,principalmente,para dentro de nós.
Beijão,Dja!