quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O riso largo de cada dia nos dai hoje...



            Hoje em dia, todo mundo se acha humorista, basta uma rápida olhada pelas redes, e voilà, lá estão eles... Alguns de fato com tiradas excelentes, outros com sofríveis e pretensas colocações que mais irritam que fazem rir; aliás, a pretensão em um texto é o que há de pior. Tanto que os mais pobres em talento são aqueles que se levam muito a sério, e aí, a falta de humor do rir de si próprio é pior que o humor forçado e sem graça das impostações antinaturais.
            Dia destes, irritei-me com uma peça onde o fácil riso era arrancado a fórceps via escatologias e perpetuação de conceitos, e pior, pré-conceitos. Mas enfim, era o que tínhamos para  o dia, e pelo menos no que tange à representação, era muito bem encenada.
            Mas o que de fato me levou a falar sobre isto hoje, foram saudades de “O Boca”. Nos anos 1980, ainda circulavam pelo país exemplares da imprensa nanica – assim chamada a mídia impressa fora de grandes editoras, os pequenos jornais, revistas e zines que surgiram durante a ditadura militar, época de repressões e censuras, quando apenas os “resistentes” se atreviam a escrever textos fora do padrão conservador, de política, religião e ordem moral. Não sei se “O Boca” na verdade se encaixaria nesta produção, já que era apenas uma folha de sulfite impressa dos dois lados e distribuída nas ruas do Gonzaga, em Santos.
Cheguei a fazer assinatura do “semanário” e adorava recebê-lo pelo humor que se encaixava ao meu senso de riso; infelizmente, o projeto não foi adiante e durou pouco, mas acordei lembrando dele, do primeiro número que me caiu às mãos. A memória dos que envelhecem fica mais saudosa mas perde detalhes e me trouxe à cena o texto que talvez a muitos não desperte hoje sequer um esboço de lábios, mas à época dos planos cruzados sob a batuta de “Sir Ney” (entre outras alcunhas era como “O Boca” se referia ao presidente desta república), ria-me da manchete: “Dom Pedro I confessa: 'Gritei só para soltar a franga!'” E ainda mais do texto que narrava que... “D. Pedro lavava as roupas da marquesa de Santos às margens do riacho do Ipiranga, quando esta o mandou lavar também a trouxa de roupas de uma amiga dela, do Rio de Janeiro, uma tal de Imperatriz Leopoldinense. Cansado de tanto esfregar, D. Pedro pensou: só me restam duas alternativas, ou lutar ou gritar e fugir para Portugal com meu caso, à época Roberto Leal. Como não sabia lutar, resolveu gritar e fugir, pegando um voo para Lisboa pela TAP – Tamancos Aéreos Portugueses...”
 Lembro ainda que no aeroporto ouviu-se o anúncio: “As Galinhas Argentinas informam a hora certa...” Mas o resto do texto perdeu-se no tempo e o resgate mnemônico perde às vezes as melhores partes...
E ai, como eu não acho graça na maioria das coisas que vejo com tal fim, o leitor também pode não ter achado a mínima neste texto; pax-ciência é o que temos pra hoje...
Oremos.
 
Foto: Adriana Loche a gargalhar.

5 comentários:

  1. E por falar em rir de si mesmo, por isso, talvez, em vez de creme dental utilizaste creme de barbear para limpar "A Boca". Apenas para lhe provocar autorrisos, bravados em altos-risos...

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  2. Não achei graça na historieta de O Boca, não, mas o seu texto é legal. Melhor O Boca falando de história do Brasil do que a maioria dos humoristas de hoje enchendo o saco com idiossincrasias da classe média - parece que só sabem olhar o próprio umbigo...

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  3. Rsrsrsrs só vc, mesmo. Gostei muito.

    Ou Lutar ou gritar

    carminha

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  4. Eu rio de tudo,até de coisas que não deveria.Me acho um pouco debochada(mentira,sou MUITO debochada),e tenho de cessar isso dentro de mim..Parar de rir de tudo e sorrir pra todo mundo igual uma besta quadrada.

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  5. Roberto Leal como amante de D. Pedroca foi tuuuudo de bom.

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