Os anos
1970 já iam pela metade naquele Melo Viana, bairro de Coronel
Fabriciano. Tínhamos uma Minas pacata, à exceção dos dias de
jogos de Atlético e Cruzeiro, aí então era dia de algazarra de
buzinas e carreatas que se revezavam ora com bandeiras listrada de
preto e branco, as minhas preferidas, ora de bandeiras azuis com suas
estrelas brancas... Pois bem, estava no segundo ou terceiro ano
primário, lá no Padre Deolindo Coelho, e já tinha então um certo
cangote grosso, conforme dizia meu pai, o que me permitiu ver o
entretenimento que por aqueles dias se dava ali, na esquina mesmo da
Dr. Euzébio de Brito com a avenida cujo nome se apagou da memória e
cuja preguiça me impede de abrir o google (a panaceia para
esquecimentos e falta de conhecimentos), a bem de que não irá
alterar o curso da prosa.
Neste
citado terreno da esquina, onde não existiam muros e os pés de
mamona floresciam ao lado do riacho ainda não canalizado, e onde
depois se construiu o Escritório de Contabilidade de D. Aparecida e
o consultório odontológico de seu marido, Joaquim Gomes Alvernaz,
por aquela época vereador, tendo se candidato também a prefeito
logo em seguida. Mas essas são outras estórias, portanto, voltemos
ao terreno ainda semivirgem... Foi nele que veio instalar-se a tenda
da Monga, a mulher gorila.
Em
polvorosa, toda a gurizada ficou louca para ver, saber, sentir a
experiência; o tempo já me tirou os sons e as cores referentes ao
que comentávamos e as impressões dos mais velhos que já tinham ido
ver. Ora, molecotes como nós, os pequenos, só podíamos ir
acompanhados de um adulto, e assim manhosos implorávamos aos pais
para nos levarem.
À
noite, a brincar de esconde-esconde e outros piques, na rua,
praticamente sem carros, onde éramos livres, espreitávamos querendo
achar frestas e botando reparo na cara das pessoas que entravam e nas
das que saíam.
E meu
pai, a me fazer gosto, levou-me lá em uma dessas noites. Não lembro
de ter outro menino da aula, nem colega de colégio, lembro apenas
dele, meu pai, de camisa branca, de manga comprida, calça preta, os
cabelos com seus pega-moças, como ele chamava masculinizando o nome
dos cachos que lhe formavam pontos de interrogações, de ponta
cabeça, à testa.
Chegada
a hora, uma loura, não podia ser diferente, cabelo preso num rabo de
cavalo, encorpada, num tempo em que curvas eram sinônimo de beleza
(e não a magreza anoréxica destes dias), biquíni de vários tons
de brilho onde o verde se destacava, e eis que de repente, como
diria o poeta, não mais que de repente, salão escuro, todos em pé,
pois o espetáculo era curto e não carecia de sentar, as únicas
luzes voltadas para a moça, que começa a ter o corpo coberto por
pelos escuros, lentamente, mas não tanto que se perceba os truques
de espelho, até se transformar em... Monga, a mulher macaco!
A bela
transformada em fera, um gorila, enorme, para meus olhos infantis.
Lembro que encostei-me mais a meu pai, juntando o corpo a suas
pernas; ele colocou a mão em meu ombro, dando-me segurança,
afastando o medo. Ele estava ali, logo, eu estava protegido, e depois
do susto, um sustinho.
A Monga,
balançando as grades, tenta fugir ao cativeiro. O apresentador pede
calma, “atenção, não emitam sons para que ela não fique
nervosa! Calma Monga, calma, lembre do que aconteceu em tal cidade –
já não lembro qual era – onde você feriu 3 pessoas, calma....”.
E aos poucos a Monga se tranquiliza, poderia dizer que lhe foi dada
uma banana, mas isso já não sei se ocorreu ou sou eu que invento...
E assim,
diante da plateia, Monga, a mulher gorila, já serena, volta aos
poucos a ser a blonde girl, de formas torneadas,
dentro de seu biquíni de pedrarias.
Em casa,
a mãe esperava, que aquela programação não era para senhoras.
Quer saber como foi e conto de olhos esbugalhados a experiência.
Pergunta-me se fiquei com medo: “_Só um pouquinho, o pai tava
lá!”
Foto: internet: http://www.mamajuana.com.br/monga-ganha-versao-inovadora-no-parque-guanabara/
que final fofo!!!!
ResponderExcluirSil
<3
ExcluirDelicia! A mulher gorila da minha infancia era programa obrigatorio no parque q aparecia na cidade. Ahhh boas memorias. Lindo. Bj
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ResponderExcluirDelicia! A mulher gorila da minha infancia era programa obrigatorio no parque q aparecia na cidade. Ahhh boas memorias. Lindo. Bj
Ah, acho que ela percorriam o Brasil inteiro tal a caravana Holliday anônimo... Bjs
ExcluirNunca vi um espetáculo da 'Monga,a mulher gorila'...Mas,hoje em dia tem tantas 'mongas' à solta por aí...Nem precisa-se pagar ingressos pra ver.rsrsrs
ResponderExcluirBeijão,Dja!Dani.
kkkkkkkkkkkkkkkkk E dão muito mais medo, né Dani?? rsrs bjs
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