E
era ela também escritora, de um renome menos consagrado que o do escritor ao
qual falamos na semana passada; ganhadora de certo concurso literário,
apressava-se quando parabenizada a frisar que o fato da premiação nada tinha a
ver com sua amizade com um político, conhecidíssimo por ficar instalado anos a
fio na cadeira do executivo e, depois, confortável também no espaldar nobre do
corpo do júri, à sombra de sua fama acadêmica. Afinal, enquanto alguns ainda
lhe chamassem pelo cargo ocupado no auge da vida acadêmica, outros insistiam em
chamá-lo professor, especialmente aqueles que também tinham lida na academia.
Embora, já há tempos ele não fosse nem uma coisa e nem outra.
Bem,
nossa personagem de hoje tinha também assento confortável sob a sombra do conselho
da instituição que acolhia a biblioteca onde eu trabalhava, e do alto de seu
trono me liga a fim de recomendar o filho de um amigo que viria fazer pesquisas
para seu mestrado, doutorado, ou seja lá que título fosse (já faz mais de
década e o tipo de monografia a ser escrita é irrelevante para o andar da
narrativa que não se pretende julgada pela academia).
Enfim,
disse a ela os horários e dias de funcionamento da unidade de informação para
que o mesmo pudesse vir para as pesquisas que fossem necessárias: nossa
biblioteca estava sempre de portas abertas.
Em
contrapartida, ouço do outro lado a voz fina embaçada por tosses curtas: pois
sim, ela sabia dias e horários, ligava apenas para recomendar o tal filho do
amigo, a fim de que ele fosse muito bem atendido.
Ofendido,
mas não de todo resignado, apenas respondi que ali todos eram bem atendidos,
fossem ou não amigos de membros do conselho.
Assim
encerramos nossa conversa.
O tal rapaz?
Nunca apareceu naquela biblioteca.
Foto: Djair - Sombra projetada sobre a calçada - Batatais - SP, 2013.
E esse povo que dorme e nem sabe se acordará...O ego sempre vem na frente...Pobre de nós!
ResponderExcluirE Amém,né?Ainda bem que o dito cujo não apareceu.
Beijão,Dja!Dani.