E a glória,
que só vem na velhice, nos serve como conforto.
Embora as
“flores de cemitério” nos encham (como um canteiro bem semeado) as costas das
mãos e os rostos, tingindo com suas pintas circulares, marrons em diversos
matizes, a denunciar idades, sofrimentos e noites em claro, por festas, por
alegrias, por tristezas, preocupações, crises ou insônias sem motivo...
A
glória tardia nos proporciona certo prazer intelectual com o qual resolvemos
que sem essa maturidade ela não se aproximaria, pois enquanto o corpo apodrece
o intelecto só aí está maduro. Traz alguma fama, resquício de vaidades que a
mesma madureza não sana.
E
que mais essa “glória”, esse “reconhecimento” traz? O que diz?... Que é real?
Ou é a pura “maya” hindu? Que vemos
apenas nós mesmos, para nos consolarmos com as dores, as rugas, as dobras, os
odores que surgem e com os quais não sabemos lidar sem deprimir?
E
é por isso que nos contentamos e ávidos nos saciamos com amores e amantes de
ocasião que vêm junto ao prêmio que nos consola. Usamos os corpos que nos usa
para pegar carona nesse momento fugaz que é qualquer reconhecimento de
intelectualidade, de sagacidade ou expertise.
E
ao usarmos nós, desse expediente, damos a nós mesmos o atestado que não os
temos.
Oh, Glória...
Que por pura falta de história buscamos com avidez pérfida, é o que temos... A
consolação de que em breve o troféu será em forma de coroa de flores, em
cerimônia à luz de velas... Esperamos seja concorrida, e que de preferência
estejam presentes algumas carpideiras. Ai de nós, pobres velhos iludidos com
prestígio e fama mais fugidias que qualquer fluídica inspiração.
Foto: Djair - Senhor a meditar em praça na Cidade de Goiás (Aliás, conhecida como: Goiás velho.) - GO
Puxa, hoje você tá triste mesmo... O problema é que a reflexão é verdadeira...
ResponderExcluirPesado. Muito pesado. Reflexões assim são necessárias para que pensemos na nossa velhice e na dos outros.
ResponderExcluirLuiz Otávio Pereira
Reflexão pesada pois somos ocidentais na maneira de ver a vida, porém verdadeira e pelo mesmo motivo tristonha. Lindo o texto maduro e enxuto ... quase um Dalton Trevisan rsrsrs bj Elenice
ResponderExcluirToda essa decadência crescente que a velhice traz, juntamente com a soturnidade, depressões, tristezas, muitos "ites" e poucas alegrias, sejam o preparo para o ressurgimento de um Fênix... Uma vez liberto do velho casulo, que teceu ao longo de sua vida, ele renascerá com esplendor e alegria, fruto do que tenha plantado de melhor... Afinal a existência seria muito pesada, sem esperança e sem poesia, se não houvesse um "to be continued"... bjs
ResponderExcluirTriste de quem vive a vida apenas como um consolo da morte.
ResponderExcluirTexto lindo,profundo e bastante reflexivo!
Beijão,Dja!Dani.