quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Velhice inglória




E a glória, que só vem na velhice, nos serve como conforto.

Embora as “flores de cemitério” nos encham (como um canteiro bem semeado) as costas das mãos e os rostos, tingindo com suas pintas circulares, marrons em diversos matizes, a denunciar idades, sofrimentos e noites em claro, por festas, por alegrias, por tristezas, preocupações, crises ou insônias sem motivo...

    A glória tardia nos proporciona certo prazer intelectual com o qual resolvemos que sem essa maturidade ela não se aproximaria, pois enquanto o corpo apodrece o intelecto só aí está maduro. Traz alguma fama, resquício de vaidades que a mesma madureza não sana.

            E que mais essa “glória”, esse “reconhecimento” traz? O que diz?... Que é real? Ou é a pura “maya” hindu? Que vemos apenas nós mesmos, para nos consolarmos com as dores, as rugas, as dobras, os odores que surgem e com os quais não sabemos lidar sem deprimir?

            E é por isso que nos contentamos e ávidos nos saciamos com amores e amantes de ocasião que vêm junto ao prêmio que nos consola. Usamos os corpos que nos usa para pegar carona nesse momento fugaz que é qualquer reconhecimento de intelectualidade, de sagacidade ou expertise.

            E ao usarmos nós, desse expediente, damos a nós mesmos o atestado que não os temos.

Oh, Glória... Que por pura falta de história buscamos com avidez pérfida, é o que temos... A consolação de que em breve o troféu será em forma de coroa de flores, em cerimônia à luz de velas... Esperamos seja concorrida, e que de preferência estejam presentes algumas carpideiras. Ai de nós, pobres velhos iludidos com prestígio e fama mais fugidias que qualquer fluídica inspiração.


Foto: Djair - Senhor a meditar em praça na Cidade de Goiás (Aliás, conhecida como: Goiás velho.) - GO

5 comentários:

  1. Puxa, hoje você tá triste mesmo... O problema é que a reflexão é verdadeira...

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  2. Pesado. Muito pesado. Reflexões assim são necessárias para que pensemos na nossa velhice e na dos outros.
    Luiz Otávio Pereira

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  3. Reflexão pesada pois somos ocidentais na maneira de ver a vida, porém verdadeira e pelo mesmo motivo tristonha. Lindo o texto maduro e enxuto ... quase um Dalton Trevisan rsrsrs bj Elenice

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  4. Toda essa decadência crescente que a velhice traz, juntamente com a soturnidade, depressões, tristezas, muitos "ites" e poucas alegrias, sejam o preparo para o ressurgimento de um Fênix... Uma vez liberto do velho casulo, que teceu ao longo de sua vida, ele renascerá com esplendor e alegria, fruto do que tenha plantado de melhor... Afinal a existência seria muito pesada, sem esperança e sem poesia, se não houvesse um "to be continued"... bjs

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  5. Triste de quem vive a vida apenas como um consolo da morte.
    Texto lindo,profundo e bastante reflexivo!

    Beijão,Dja!Dani.



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