quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sobre a copa e o orgulho nacional

Domingo próximo encerra-se mais uma Copa do Mundo de Futebol.

Para o Brasil, terminou mais cedo, há praticamente uma semana... Ao primeiro impacto da derrota para a equipe holandesa, o país pareceu murchar. Até a manhã que antecedeu a eliminação da equipe brasileira, por onde se passasse haviam pessoas acompanhando jogos, bandeiras nas janelas, ruas enfeitadas nas cores pátrias, que eram onipresentes no vestuário das pessoas, pelas ruas, ônibus e metrô. O assunto invariavelmente esbarrava em “copa”.

Discussões sobre quem entende mais, homens ou mulheres, as zebras, bolões e seus ganhadores...

De repente, silêncio. Como o que antecede o gol. Só que desta vez o silêncio continuou. Como um engasgo...

Em um editorial, li que talvez fosse “enfim” o sepultamento “de uma vez por todas” do ufanismo brasileiro que sempre desperta em época de copa do mundo.

Não creio. Faz parte da cultura nacional. E mesmo os menos interessados pelo esporte em questão, como eu, que gosto mais do “furdunço em torno de” a cada jogo ganho pela seleção, deixam dentro de si um pouco de esperança quanto à vitória no próximo mundial e certo orgulho de ter chegado até ali e vencido mais uma etapa.

Há exceções, claro, até mesmo aparentemente antinacionalistas. Fanáticos de certo time, que não teve um só representante na seleção, alegaram torcer para a Argentina, que tinha jogadores que já haviam jogado em seu time. Mas seria verdade essa “torcida” ou apenas um discurso repetido em massa, plantado por um fanático em grau maior, apenas para marcar posição ao preterimento do técnico em favor de jogadores de outros times, ou para esconder a fustração pela perda da seleção que muitos achavam iminente, e depois dizer: “Eu não estava torcendo pro Brasil mesmo!”?

Lembro que, há alguns anos, coordenando as bibliotecas de uma instituição de ensino superior, a cada mês, entre exposições e atividades culturais, decorávamos as bibliotecas de acordo com as datas folclóricas do período, procurando assim manter vivas tradições nacionais, como por exemplo Cosme e Damião, que a cada ano perde espaço para os halloweens da vida. Ou ciclo do milho que começa com o plantio no dia de S. José (19/03) e termina na colheita, no dia de S. João (24/06). Mas enfim, calhou de termos Copa do Mundo naquele ano e resolvemos decorar também as unidades com esse motivo.

Na biblioteca de Sociologia os alunos se revoltaram e rasgaram e destruíram enfeites, pois o futebol é o ópio do povo, e afinal eles iam (ainda vão) fazer a revolução. Mas, fora isso, no centro acadêmico da mesma faculdade, uma TV transmitia os jogos para alguns de nossos “Ches”.

Uma propaganda de página inteira no jornal de sábado anunciava: "Brasil, nunca deixaremos de acreditar em você, faltam X meses para o hexa."

Agora o assunto se volta para as Olimpíadas 2016 e a Copa do Mundo de Futebol de 2014, ambos no Brasil. Muitos são contra, pelos gastos, pela corrupção, por motivos políticos. Sou a favor. Pelos empregos que serão gerados, pelas obras, principalmente de infra-estrutura, que hão de permanecer após os eventos. Afinal, Barcelona não passava de uma cidade portuária com os infindos problemas que os portos acarretam a estas cidades, mas soube capitalizar a Olimpíada e reinventar-se a ponto de hoje ser uma das cidades mais modernas do mundo. Cabe a nós aproveitarmos a oportunidade de melhoria de nossas cidades, ao invés de destruir as coisas belas que já tivemos, para dar lugar a avenidas, como o Palácio Monroe (que foi construído para a Exposição Internacional de Saint Louis, em 1904, a primeira obra de arquitetura brasileira reconhecida internacionalmente).

Adaptando o verso do poeta-cantor: Que a força da grana seja usada para erguer, e não para destruir coisas belas.

4 comentários:

  1. Concordo. Também não ligo muito pra futebol, mas ainda prefiro ver a comoção nacional diante de um esporte do que diante de todas essas barbáries.
    "Que a força da grana seja usada para erguer e não para destruir coisas belas".
    Olimpiadas e Rio de Janeiro ...

    ResponderExcluir
  2. Parece que todos nós não somos ligados ao futebol... he he......... Mas na época da copa, quando o Brasil joga, algumas vezes fiquei na rua. É uma experiência ímpar: durante o "jogo" uma corneta aqui, outra ali, mas impera o silêncio na maior parte do tempo, no entanto, quando o Brasil faz um gol, uma onda de gritos belíssima vem em sua direção, que faria esses que acham que "futebol é ópio do povo" mudarem de idéia.

    ResponderExcluir
  3. Melhor discutir se o tecnico errou ou não do q discutir se aqui deveria ter pena de morte...não aguento mais tanta violencia...não bastasse a urbana, somos atacados pela violencia das ideias....

    ResponderExcluir
  4. Adorei o post! Mesmo tendo lido com um certo atraso... Concordo em tudo! Assisti um dos jogos do Brasil aqui no trabalho, sozinha, para evitar ficar presa no trânsito, e qdo ouvi o grito das pessoas que estavam no Vale do Anhangabaú chegando até minha janela, como numa "ola sonora", foi de arrepiar! Eu só gostaria que as pessoas tivessem esse mesmo espírito nessa época de eleição tb, que juntas pudessem torcer (e ajudar a tornar real) para que fossem eleitos políticos de bem (eu acredito que existam)... Mas será utopia? bjs

    ResponderExcluir

Será muito bom saber que você leu, e o que achou.
Deixe aqui seu comentário