segunda-feira, 12 de abril de 2010

Penedo II


Penedo deixou-me tão feliz, que é preciso que eu ainda fale mais sobre ela...

Soube da existência desta cidade, anos atrás, por Marcello, um grande amigo que hoje mora em Salvador, e pelo Cacá, que era amigo deste e hoje mora no céu.


Mas fora isto, nunca li sobre ela em catálogos ou revistas de viagem, não que seja um consumidor voraz destes, mas enfim, creio não haja muita divulgação mesmo, e aí, imaginem a surpresa, de encontrar lá um casal amigo. Aliás, dupla surpresa, já que conhecia a ambos, de lugares diferentes e não os sabia casados. Jaelson e Bete foram ótimas companhias de passeios pelas ruas de Penedo e até à foz do rio S. Francisco. Para chegar à foz, tivemos que ir a Piaçabuçu e alugar um barco. Imaginem, senhores leitores, a delícia, um barco médio, amigos, sol, (bóias e coletes salva-vidas) e um rio imenso em largura e comprimento, margeado por coqueirais... Depois de 45 minutos, chega-se a um ponto de praia fluvial, formada por dunas onde o sol torna a areia dourada, e com um pequeno lago que desemboca no rio e, acredito, forma-se a partir dele quando a maré sobe e o mar empurra a água do rio (que durante o percurso, Jaelson volta e meia provava a fim de ver se já estava salobra).


Banha-se no lago, e até Jair avesso à água, ousou entrar. Bete foi a única que não o fez, mas depois, ao adquirir uma imagem de S. Francisco, sentiu-se na obrigação de cumprir o ritual local: entrar no rio, mergulhar a imagem por três vezes na água e fazer um pedido. É este o batismo da imagem. Eu fiquei mesmo com o tatu de madeira de um artista local. As cocadas vendidas ali, com sabores de frutas, maracujá, goiaba, etc. são das melhores que já comi, feitas com coco ralado em pedaços grossos. O bolo de mandioca, então, já não é um dos melhores, é o melhor!

Chegam-se barcos grandes de companhias de turismo, e eu fico ainda mais feliz por nosso barquinho pequeno, sem som alto, sem rapazes a querer mostrar músculos e moças a mostrarem corpos, e gente a berrar. Realmente acho que estou cada dia mais misantropo... 
Na volta a Piaçabuçu, comemos peixe em um dos restaurantes da margem do Nilo, ops, do S. Francisco... A comparação vem da vida que o rio dá a essas cidades, proporcionando lazer, água e alimento -  lavadeiras ali tiram o sustento, homens e mulheres pescam, e assim tem garantida proteína em seus lares. Sem falar na travessia do rio pela balsa e pelos barcos, que imprime um outro tempo e um outro ritmo para a cidade.

Pegando a balsa ou um barco em Penedo chega-se a Neópolis, antiga Cidade Nova, e também a Santana do S. Francisco, antiga “Carrapicho”. Do outro lado da margem, resolvemos ir a pé de uma a outra, já que não as separam mais que cinco quilômetros. E eis que entre elas., para minha surpresa, existe uma vila operária, bem grande, com igreja, e inúmeras casinhas brancas com janelas azuis. A última que tinha visto assim era a Fabril em Cubatão, uma charmosa Vila às margens da Serra do mar, que foi sendo desativada pela Companhia Santista de papel nos anos 1980, o que foi uma pena; foram sendo fechadas e deixando-se deteriorar até ruir, e onde antes havia lindas casinhas brancas com janelas verdes, tem-se hoje uma favela.

É tradição em Penedo o “café nordestino”, como jantar. Mandioca cozida acompanhada de carne, frango, peixe ou  lingüiça. Toma-se com café com leite, ou suco... Ah, e os sucos... Acerola, umbu, cajá-manga... Não se pode dizer qual o mais gostoso...

Qualquer lugar que eu visite, se tem um mercado, faço questão de conhecer, é lá que está o povo, e se vai ver como ele vive, o que come, como age. O de Penedo está em reforma, há dois anos, e parece faltar pouco para acabar. Então o comércio do mercado fica na rua, próxima ao prédio que o abrigará. O show de variedades de frutas e farinhas é inenarrável, e como tal, nem vou tentar fazê-lo. O queijo de coalho, de lamber dedos, antes de pegar o próximo pedaço. A quantidade de oferta de amendoim de vários tipos e tamanhos me diz que a terra por ali é boa para seu cultivo.

Entre o mercado e o rio há um centro poli-esportivo onde o concreto impera, e que seria muito mais agradável se tivesse árvores em seu conjunto. Aliás, em Penedo não encontramos grande arborização nas ruas, e quando há, as árvores são podadas de forma bem “sui generis”, copa baixinha, cortada reta, como se o facão lhe tivesse arrancado o escalpo a um só golpe. E um palmo ou pouco mais abaixo desta copa, lhe é também tirada a ramagem.

O orgulho com o passado da cidade é imenso, as fotos bem preservadas do intenso comércio à beira-rio são documentos de um passado de efervescência financeira, as do festival de cinema provam a vida cultural ativa, e podem ser apreciadas tanto no museu local , na como casa de Penedo, onde ouvirás em tom orgulhoso sobre a suposta paixão do imperador Pedro II pela cidade, que teria proferido frases como: “Aqui deveria ser a capital da Província”, e quando em passagem rumo ao exílio: “Já que estou em Alagoas, porque não me levam ao Penedo?” Ah, realmente as citações históricas sem fonte conhecida são mesmo uma delicia, não?


Fotos: Djair - Rio S. Francisco, Visto a partir da rua do banheiro
                  - Vista da margem do S. Francisco, próximo à foz, do lado alagoano.
                 - Igreja da Vila operária, com as casinhas ao fundo, entre Neópolis e Santana do S. Francisco - Se, pertencente à fabrica de tecidos Peixoto.
                 - Ficus na calçada, podado à moda Penedense.
                 - Um dos muitos palacetes da cidade de Penedo.

8 comentários:

  1. Lembrei-me de quando estive em Aracaju, visitei Canindé de São Francisco. De lá, pegamos uma escuna para um passeio pelo Rio São Francisco, passando pelos imponentes Cânions do Xingó. É de se ficar embasbacado com suas paisagens paradisíacas de paredões rochosos que chegam a ter 50 metros de altura. A parada para mergulho nas águas verdes e cristalinas do Rio São Francisco é inacraditável. Não fui até Penedo, mas depois de ler seu post, fiquei com vontade de conhecer essa cidadezinha. Obrigada pelas dicas!

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  2. Gostei mais deste...vc está com saudades!!!!! Ficou lindo!!!!

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  3. Ler esse texto me deu vontade de fazer duas perguntas:
    1. Como descobriu essa paixão por viajar?
    2. Será que você não está na profissão "errada"?

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  4. Vá sim Teresa, com certeza também irás amar essa cidadezinha acolhedora.

    Vitor: Provavelmente começou aos 45 dias de vida, vindo do Piauí para São Paulo, na época a escala era em Belo horizonte, e o aeroporto em São Paulo fechado por mal tempo fez com que meus pais pernoitassem em BH, foi minha primeira viagem já "nascido", anterior a isto tinha vindo à Sampa no ventre materno, possivelmente com dois ou três meses de gestação já que minha mãe enjoava muito e não suportava a comida do hotel.
    Pode também ter sido herdadda de meu pai que sempre adorou viajar, tanto que foi ao Piauí onde conheceu minha mãe.

    Profissão errada? De forma alguma, talvez lugar errado para exercê-la amplamente.

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  5. Cleber Luis (Graciliano)22 de abril de 2010 às 12:56

    Nossa quero cocada estou com agua na boca aqui =)

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  6. Ah!! Estou planejando a tanto tempo ir a Penedo e essa vontade vai e volta e hoje voltou. Quem sabe não realize essa vontade em julho...nas férias! bj grande grande CrisCamizão

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  7. Vontade de pegar um avião pra maceió hj à noite, chegar lá de madrugadinha alugar um carro e ir pra Penedo ser feliz. Adorei o relato, Djair. faz tempo que ouço falar da cidade, mas ainda não tinha lido um texto tão singelo e inspirador como esse seu. Um beijo.Graciele

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  8. Viajei,Dja!
    São essas riquezas culturais que temos que presenciar.Essa simplicidade rica que habita os quatro cantos do nosso Brasil.
    Lugares simples,pessoas simples..é disso que se faz o real Brasil.Nossa terra,nossa cara,nossa identidade..então vamos explorar as belezas do nosso país,reconhecermo-nos nas história.

    Ai,esse bolo de mandioca..

    Beijão,Dja!Dani.

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