quinta-feira, 23 de maio de 2013

Coisas de escola II - O hospital


Ao final do quarto ano primário tínhamos que fazer o Vestibulinho, para ter acesso ao ginásio, tão sonhado. Naqueles anos 1970 não havia escola para todos e esses recursos eram aplicados a largo. Também não havia esse amontoado de escolas particulares – como hoje em que há mais de uma por quarteirão em certos lugares, tanto que a algumas universidades digo: Aquela é a melhor faculdade do Bairro... Mas muitas vezes, é só da quadra.
O colégio pretendido por todos era o Polivalente... Ficava bem mais distante, mas que fazer? era o melhor... Evaldo, meu colega desde o segundo ano, com o qual repartia a carteira dupla, e eu estávamos ansiosos... Na semana da prova, desmaiei, ou quase isso. No domingo, meu pai ao estranhar a quietude e entrar no quarto encontrou-me em estado catatônico. Eu sentado, olhos abertos, babando... Não lembro nada que se passou naquele dia, lembro apenas de ter acordado no dia seguinte (não sei se era o seguinte ou outro) debaixo do chuveiro, a tomar banho. Uma enfermeira ou auxiliar me explicou o que havia acontecido; devo ter ficado meio dopado...
Problemas renais, disseram. Não sei qual... nunca mais tive, mas àquela semana fiquei internado, nada de sal, muito embora algumas das enfermeiras me dessem escondido da sopa dos outros meninos da pediatria. Lembro que me divertia muito com eles, éramos cerca de 4 ou 5, e apenas um, que tinha a perna inteira queimada e não podia levantar-se, não participava de nossas anarquias naquele parque de diversões asséptico. Afinal, éramos crianças, sem ter o que fazer a não ser repousar e brincar, já que não havia classe hospitalar ali. Aliás, àquela época nem se pensava sobre isso, pelo menos não abaixo da linha do equador.
À tarde, minha mãe vinha me visitar, à noite, voltava com meu pai; traziam-me gibis, doces, batata frita sem sal... Uma das vezes, um pudim (de leite) inteiro, que ela lógico mandou-me dividir com os coleguinhas e com as moças da enfermagem.
A cada colega que recebia alta ficávamos tristes em separarmo-nos. Já nossos pais se alegravam e esperavam fossemos os próximos. Não lembro os nomes dos demais, apenas de Rômulo. Mas a perna queimada do outro colega também está presente em meu arquivo de memórias, assim como o fato de ter sido devido a brincar com álcool. Lembro-me também de seu rosto cheio de sardas, ornando com o cabelo ruivo.
Saí de lá e fiz o tal “vestibulinho” na “Escola Estadual Alberto Giovannini” e passei com boa classificação. Lembro ter errado a pergunta sobre a lei do divórcio, que não soube ser autoria do Nélson Carneiro; isso em conhecimentos gerais, mas as que acertei não me lembro de nenhuma... São daquelas coisas que ficam gravadas, como a de conhecimento gerais que, mais de 30 anos depois, ao fazer prova de concurso público encontrei: causa da morte de Cássia Eller, cantora: Erro médico. Desta vez acertei-a por gostar da cantora, a qual cheguei a assistir shows.
Evaldo, meu colega de tanto tempo, foi para o Polivalente e daí nos distanciamos... Às vezes penso que, se voltar um dia àquela cidade, àquele bairro, talvez o encontre naquela ruazinha, na lateral do Grupo Escolar... Devaneios improváveis...
Como muita gente, amigos ou não, dele fica uma lembrança boa.

7 comentários:

  1. Grande Djair. Lembrei de uma coisa da infância que tem a ver com hospital também. Uma vez na entrada do hospital me chega uma ambulância e uma criança com o rosto todo desfigurado, tinha sido cachorro. Eu que ao passar na rua, ao ver um cachorro tremia de medo, fiquei com mais medo ainda. Isso marcou demais. Criança em hospital é uma triste combinação. Essas seriam as amizades instantâneas que marcam a gente pro resto da vida. Um abraço amigo.

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  2. Nossa Baratta, que trauma. No meu caso a cena mais triste àquela época era mesmo a da perna do garoto, que era super alto-astral, amenizando a propria situação. Por esse tempo também fui mordido pelo sheik, cachorro da vizinha, D. ritinha, mas não deixei de ama-los por isso.

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  3. Ana Angélica França Carlin Você é de me causar inveja. Ainda fala na maior modéstia que não se lembra das alternativas das quais acertou, mas lembra da que errou! Moleque! Faz mais de décadaaaaaaaaaaaaaaaaaas...

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  4. É, algumas coisas a gente acaba por gravar. rs Principalmente aquelas onde falhamos. rs

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  5. Coisas de Escola... de todas, as que me lembro mais e com mais alegria foram as que se passaram nos 2 anos em que estudei na minha vila lá em Minas Gerais. Diferentemente de todas as crianças de lá eu entrei na escola com 6 anos porque já era alfabetizada e porque meu pai era afilhado da diretora.
    E ainda hoje me lembro que ao final de todas as aulas minha professora do 2º ano que também era minha madrinha nos contava histórias. Longas histórias de principes, princesas, Mouras tortas...
    Bons tempos os das nossas infâncias.

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  6. Ah Simone, antes todos tivessem professores assim, são essas histórias que depois nos farão leitores! :)

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  7. Boas lembranças..Sou muito saudosista,principalmente,se tratando dos tempos escolares.É algo muito estranho nos distanciarmos daquelas pessoas que faziam parte do nosso viver diariamente e,de repente,se vão para nunca mais..A vida e seus meandros..O que fica é a doce lembrança desses bons tempos vividos.A felicidade se revelava nesses momentos encantados.

    Beijão,Dja!Dani.

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