sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Alegres tristezas


             A tristeza não tem razão, ela chega e se instala simples assim. 
 
            Tem coisas que a deflagram, lógico. Um chefe escroto, uma falso amigo, uma traição de qualquer nível, trabalhos enfadonhos, leituras feitas por obrigação onde o autor é prolixo em texto chato e demasiadamente técnico... Se bem que há quem goste dos textos técnicos, como há os que apreciem em romances apenas a técnica e não a sensibilidade mostrada em nuances, aquela gama de sabores que o bom autor traz e que é capaz de nos entristecer também, mas de forma diferente, aquela tristezinha gostosa chamada nostalgia. Que acontece até com e sobre lugares que não conhecemos, coisas que não vimos.

            A tristeza chega no crepúsculo, tarde da noite, ou no alvorecer. Ela não se faz de rogada, íntima que é, não bate à porta. Chega! Pronto!

            Em geral, dura pouco, se bem que há os que se apegam a ela, e erguem-lhe um altar, fazendo com que fique ali, e se ela quer ir embora, ajoelham, rogam, imploram para que fique, pelo menos um pouquinho mais. E ela vaidosa, desfaz malas e deita-se ao lado de seu fiel servidor. E ai ele cultivando-a se entrega, nada está bem, nada presta, não vou para este ou aquele compromisso pois não estou bem. Ah, adoraria, mas hoje não. Ah, gostaria muito, mas hoje não vai dar. Ah, sabe o que é, já tenho compromisso... e tem mesmo... O de cultuar a donzela de olhos fundos. E ela sentindo-se tão amada envolve cada vez seu servo, os braços longos como que se transformam em tentáculos e vão deslizando sutilmente e prendendo o incauto como trepadeiras que se agarram a árvores

            Às vezes você a curte por um dia, ou dois, e nesse dia, pode ter certeza, vai aparecer gente para fazer você ficar ainda mais triste. Do mesmo jeito que urubus são atraídos por carniça, existe gente que sente cheiro de tristeza, poder-se-ia dizer inclusive que alguns são viciados nele, e estão sempre rondado, em círculos vão se aproximando, se chegando, e cada vez mais perto querem saber o porquê, como, onde, como e o que aconteceu para te deixar triste. Afinal a qualquer momento vão poder evocar essas lembranças quando estiveres bem, no intuito de trazer a tristeza de volta. É a única forma que eles têm de se sentir felizes, é sentindo que alguém não está bem.
  
            O poema famoso do Neruda diz: “Estou triste, porém, sempre estou triste, venho de seus braços, para onde vou, não sei...” Que tristeza mais bela, a tristeza que faz criar poemas, imagens, músicas. O filme mais triste que vi foi “Dançando no escuro.” E alguns não gostaram exatamente por ser triste. Oras, de que serve um filme se não provoca sentimentos, se não transmite conhecimento, seja ele qual for. Em outro poema famoso, esse de Vinícius, lemos: “Tristeza não tem fim. Felicidade sim.” Os dois poemas foram musicados, fizeram sucesso enquanto música, ou seja, não sou apenas eu a cultuar vez em quando a tristeza. Adoniran Barbosa já a saudava com seu bom dia e a convidava a sentar-se e beber de seu copo. Vejam só quantas coisas belas a tristeza propicia. Tão belas que fazem da tristeza pura alegria. A alegria de ver que um sentimento dito negativo suscita a arte a apoderar-se dela e transformá-la em beleza!


14 comentários:

  1. Qdo vejo um filme triste sempre digo: o filme é triste mas é lindo! E vc traduziu isso que sentimos qdo disse que de nada vale um filme que não provoca sentimentos... E sobre nostalgia.. ah, que saudade de não sei o quê, quando e porquê! bjs e bom carnaval!

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  2. Parabéns! Muito bom e verdadeiro. Leve, falando de tristeza, sem deixar ninguém triste! Um grande beijo moço talentoso!

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  3. Tá bem legal, começa triste e dá esperança no final.

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  4. Gostei muito,,,,,,,,domodo que escreveu e na hora lembrei de:Vladimir Maiakóvski

    Amei.........obrigada
    DESPERTAR É PRECISO

    Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.
    Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
    Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.Carminha


    Vladimir Maiakóvski

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  5. Olá, gostei como sempre o Sr. com palavras dificies que me deixam cada vez mais inculta, pena que não fico tão bela. Mas prefiro os causos as coisas do interior é mais divertido. Chega de tristeza. Saudades

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  6. Olá querido amigo...gostei...leitura agradável...nos faz voltar no tempo mas tambem nos faz pensar...creio que há mais alegrias que tristezas na vida mas nos empenhamos em realçar sempre a tristeza que dá pena enfelizmente.
    Beijo grande no coraçao poeta da vida...Soni@

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  7. Para mim a tristeza nos convida a reflexão o que considero importante para nosso auto-conhecimento e evolução. Quando assistimos um filme triste dificimente o esquecemos e até temos vontade de revê-lo, ao contrário de uma comédia afinal, não conseguimos rir da mesma piada duas vezes. Adorei o texto!!!!Beijos, Ra

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  8. Boa tarde, Djair!

    Não sou muito de sentir tristeza, aliás, a combato de todos os modos pensados ou impensados!
    É que quando fico triste, é para arrasar quarteirão, estilo dramalhão mexicano, dos soluços e choros! rsrsrs
    O gênero "Ai, como eu sofro!", não foi feito pra mim... Cultivo o riso fácil e já fui chamada de "boba-alegre" por isso. Até prefiro assim!... rs
    Claro que, como bom cronista que é, Djair, você nos conduziu para um lado bem interessante de sua narrativa, de que a tristeza é ótima matéria-prima para grandes obras, dos amores e o caos, dos navios que partem, dos romances irreconciliáveis...
    Admito que muito se produziu sobre a dor e até já me fiz valer de alguns momentos assim para escrever.
    Mas irônica que sou, acompanho a linha Fernando Pessoa, quando ele disse: "O Poeta é tão fingidor/Que finge ser dor/ A dor que deveras sente!...", isto é, se preciso de uma tristeza para escrever algo, pego uma dor que tenho (ou tive) e transformo aquela dor real em fictícia. Aí, todo mundo pensa que é uma criação, mas deitei e rolei numa tristeza que está ( ou esteve) ali, em algum lugar!... rsrsrs

    Um abração daqueles!!!!
    Adoro suas crônicas e você já sabe!!!!

    Mary:)

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  9. Me lembrou um certo clima do Bonjour Tristesse da François Sagan, embora n tenha nada a ver com a estória, talvez o clima triste com un certo ar blasé cara de riviera francesa [rsrs] ... muito bom. Abraço, Le

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  10. A tristeza é um momento em que alma adormece, e não que acordar por um motivo qualquer,as vezes o sono dela é profundo, longo, e as vezes é rápido passageiro, mas sempre chega sem avisar, e amolece um corpo em movimentos...seu texto detalhou minuciosamente este sentimento silencioso, que arregaça o coração de uma forma tão impiedosa que causa dor. aDOREI..

    Aproveito para lhe agradecer a vista em minha casa blog, seras sempre bem vindo...abraços e obrigada

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  11. Olá
    Menininho
    Esses dias me senti triste ainda não consegui supera-la.Porem sei que nesse caso há uma saida para que a alegria volte.Vou encontrar com a "ela" em breve.Cada texto seu Menininho retrata um pensamento meu e esse foi mais um!!!
    BJS
    MENININHO

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  12. Muito bom. Dos melhores que você já escreveu Dja. Parabéns!! ; )

    Alini

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  13. Excelente texto que cai como uma luva no meu estado hoje. Abraço meu amigo.

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Será muito bom saber que você leu, e o que achou.
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