sexta-feira, 1 de julho de 2011

Avareza não põe mesa

D. Coleta era uma velha ranzinza, mal humorada e miserável. Ô velha miserável!!! Dessas que ficam sem comer para guardar o dinheiro, e a custo disto e de outras economias tinha um bom baú, como se dizia antanhos...

A custo de seu humor de doente do fígado, da grosseria que tornou-se hábito e da avareza que lhe dava fama, os vizinhos e parentes se afastavam como se fosse de uma leprosa, os amigos não os cito pois não há registro de que houvesse algum. Era daquele tipo que você diz: “_Bom dia!”  e ela é capaz de responder: “Onde? O que tem de bom num dia destes?” Enfim, era já uma figura folclórica, dessas que fazem sucesso em novelas que trazem personagens de maus bofes, mas com tal comicidade (que ela em verdade não tinha) que acabam agradando e viram logo os reais  protagonistas do drama.



Pois bem, D. Coleta levava sua vida solitária a cuidar de seus pertences, suas galinhas e a contar o dinheiro que tinha.

Ninguém sabe quando desapareceu, ninguém deu por falta... Ninguém lembrava dela, ou da última vez que a viu, só perceberam quando o telhado da casa começou a apinhar-se de urubus. O telhado mais negro que ocre denunciava algo errado. Aproximaram-se para ver o que havia de errado e o putrefato cheiro era insuportável, era de fato o mensageiro da suspeita, ela devia mesmo estar morta. 

Para arrombarem a porta e tirar o que restava do corpo os homens precisaram tomar cachaça em generosas doses. 

Dinheiro foi achado pela casa, muito, em maços, em vários locais, fendas, latas de mantimento, notas de vários valores, mas sobretudo, dinheiro que já não valia mais nada, de outras épocas, e que por já não ter valor, não contrastava com o mobiliário paupérrimo. 

Morreu só, ninguém sentiu sua falta, ninguém chorou por ela, ninguém além das beatas e do padre que fez uma oração por sua alma. E de nada lhe serviu o dinheiro acumulado, que não usufruiu,  não levou... Como diz uma outra velhinha, D. Nair: "Caixão não tem gaveta."

Foto: Djair - Tapete de Corpus Christi - Morro do Ferro - MG.

6 comentários:

  1. Como sempre adorei o Texto! *-* Bruna Hellen.

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  2. Eu tenho na minha modesta opinião, penso gente do tipó dessa pessoa é de uma ignorancia sem tamanho, merece nossso profundo desprezo!!!!
    Como diz o ditado:
    " Dessa vida nada se leva"
    E pensando bem acho que nem vermes da terra quiseram comer essa figura!!!
    RSRSRSRSRSR
    Bjs
    menininho

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  3. Belíssima percepção sobre avareza.E pensar que há muitos seres mesquinhos assim.Sinceramente,sinto pena..muita pena desse tipo de gente.Pobres coitados!
    Djair,tem um selo pra ti lá no blog,fiz especialmente para homenagear os amigos e,você,é um.Fique à vontade,querido.
    Um excelente final de semana pra ti.Bjs!Dani.

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  4. Pôxa, onde eu aperto o "curtir"? Muito bom, mas uma pena que existam pessoas como Dona Coleta por aí. Talvez não guardem dinheiro em casa como ela, ou nem mesmo cultivem o hábito de poupar, mas são dotadas da mesma avareza e correm o risco de apenas os urubus notarem sua ausência... Bjs

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  5. Bom Rô, não tem o de "curtir", mas tem o de compartilhar no Facebook, no Twitter... E por aí vai. rsrsrs

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  6. Fico pensando: Será que essas pessoas, em algum momento, se dão conta que a única coisa que têm é apenas o dinheiro e que este não é nada, logo, nada têm.

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