quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Intimidade

Do que é feita a intimidade?

Acredito que seja de vivência, de parcerias, de compartilhamento. Seja de ideologias, gostos, experiências. Afinidades que são descobertas aqui e ali, aumentando admiração, respeito e provocando a inevitável vontade de se estar junto, de compartilhar mundos, idéias, cores...

Foto: Djair - Anjos barrocos - Igreja de S. Francisco - S. João del Rey - MG

 A experiência adquirida nestes percursos me mostra, cada vez mais, que amizades construídas de forma muito rápida e ruidosa se dissolvem com a mesma facilidade. E é incrível a necessidade de algumas pessoas de se mostrarem íntimas sem de fato o serem, e a efemeridade destas relações, pelo menos comigo que “tenho a paciência curta”.
E os “causos” são muitos e diversos. Uma vez estava eu a planejar uma festa, que daria em minha casa, já tinha formado na cabeça a lista de convidados, a decoração, o que servir, etc... Uma pessoa de minhas relações à época, ao ouvir-me comentar que daria a tal festa, saiu-se com o seguinte comentário: “_nossa, já estou me vendo lá, te ajudando a receber as pessoas...”
Resultado: não dei a festa.

De outra feita me prepararam uma surpresa, muito bonita por sinal, com um conjunto de trovadores a cantar músicas selecionadas dentre meu gosto musical, com indumentária diferenciada, instrumentos e tocadores afinadíssimos. Dias depois, uma das pessoas que participou da cota do presente, saiu-se com: “_Foi o presente mais caro que já dei pra alguém!”

Devo comentar? Bem, só vou dizer que devia ser uma forma, não muito nobre, de demonstrar uma amizade e afeto que, na realidade, não me eram assim tão dedicados.

Em outro momento, uma pessoa que me jurava amizade, que me adorava, e que tinha todas as afinidades, deste e de outros mundos, comigo rompeu a amizade certa vez porque eu não quis convidar uma terceira pessoa, amiga daquela, para passar o natal na minha casa. E olhe que eu não disse que não poderia trazer o tal fulano, mas apenas que eu não iria convidar uma vez que a pessoa em questão se aproveitava de uma terceira pessoa amiga e que era influenciável e carente a ponto de emprestar cartão de crédito para pagamento de compras que nunca eram ressarcidas. Teria eu obrigação de recebê-la em minha casa? Acredito que além de não ter, a vibração dela não estaria de acordo com as dos demais. 

Claro, houve casos em que achei que uma pessoa seria meu amigo por muito tempo, talvez para sempre, e depois disso, passada uma primeira impressão, que às vezes dura meses, vendo de perto as falhas de caráter, os jogos com pessoas e fatos a fim de tirar proveito pessoal, distanciei, e passei cada vez mais a evitar. Estranhamente, as pessoas às vezes ou não notam ou ignoram esses sinais de distanciamento. E em casos assim dá vontade de falar: “mantenha a distância,” e de exigir o comprimento de um braço, como na organização de filas nas escolas públicas brasileiras à época da ditadura. Deve ser como se portam no exército...

Teve uma vez, inclusive, ao trabalhar em uma empresa para a qual já tinha prestado serviço há alguns anos e onde conhecia uma pessoa, mais de ver que de falar, e mesmo de avistá-la pode-se contar nos dedos de uma única mão as vezes que isto aconteceu, ao chegar para os primeiros dias de trabalho, soube que a tal pessoa era minha melhor amiga de infância, acreditavam que tínhamos comido no mesmo prato, tal grau de intimidade aquela demonstrava para comigo, e todos na empresa, através dela já me conheciam, sabiam quem eu era, meus gostos, relacionamentos, competências e acredito que até a cor da cueca que eu usava na ocasião.

Você faz o quê? Eu afasto-me rapidamente. Detesto pressões, detesto prisões. E quanto mais se insiste na participação em amigos-secretos, e festa de finais de ano, menos vontade tenho de ir. Rabugice? Pois muito bem, que seja! Já dizia minha mãe, eu ainda adolescente, que quando eu ficasse velho ninguém iria me suportar e eu morreria só. Que venha a morte! E por favor, só apareça no velório se for íntimo de verdade.
 

7 comentários:

  1. Caro Djair, gostei muito do texto, me fez lembrar das famosas vaquinhas para compra de presentes. Eu não entro nos amigos secretos acham que sou anormal rs rs,. Que venham as boas e sinceras amizades sem tropeços.Abraços

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  2. É, já dei um basta me "distanciando" (embora veja todos os dias...) de pessoas assim. Só porque trabalha junto com vc acha que pode prestar atenção nos seus telefonemas e sair fazendo comentários. Acha que tem que saber tudo da sua vida... Uma vez subiu junto com um entregador de flores e quase pegou o cartão pra ler quem havia me mandado! Não gosto, não quero e agora não conto mais nada. Faço de birra mesmo, rs. E como dizem alguns amigos meus: intimidade é uma merda, rs rs rs

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  3. Intimidade é você me visitar no hospital, me ver com a cara lavada, vestida de saco de estopa e ainda assim voltar todos os dias. E não me acordar quando eu estava dormindo.
    Meu adorável insuportável!

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  4. Amizade...falsidade...
    Muitas vezes elas estão muito unidas. Nos doamos inteiramente a amigos que no final te desapontam, mostram a cara, desvendam o verdadeiro caráter. O que eu não suporto é ter um amigo que não confia em mim. Amigo verdadeiro confia sempre, porque te conhece, simplesmente.

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  5. É tão gostoso construir sem pressa, ir se conhecendo sem invadir e ser invadido...acho que isso, nos dias do imediatismo, não existe mais... Resultado: ninguém conhece ninguém, ninguém se importa verdadeiramente com o outro. Sou de outra época ou de outro planeta, sei lá, gosto de ir sem pressa, o que vem rápido vai rápido! bj

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  6. Para ser verdadeiramente meu amigo é preciso respeitar uma distância segura de minha pessoa, além de respeitar tantas outras coisas.
    Eu tenho verdadeiro pavor de invasão. Talvez por isso posso contar nos dedos de uma mão os a migos, amigos mesmo, que tenho...e ainda sobram dedos..rsssss

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