segunda-feira, 11 de maio de 2020

Chuvinha


         Lá fora cai uma chuvinha fina, outrora a chamávamos “garoa”. São Paulo já foi inclusive a “terra da garoa”, isso bem antes de ter pavimentado todo o solo, ruas todas de asfalto e quintais com ladrilho; afinal, confunde-se cimento com progresso, e as pessoas hoje, as que ainda têm algum quintal, têm preguiça de plantar, e ainda mais, de varrer ou apanhar uma folha que caia; melhor cortar tudo e depois reclamar de calor, de alagamento, de pestes...

Cebola, sem importar-se com a chuva.
Na infância, a garoa durava semanas, e minha mãe colocava nossas roupas escolares, que eram poucas, - dois uniformes pra ser exato, um no corpo e um a lavar ou secando - para secar atrás da geladeira ou da tampa do fogão. Eu sempre gostei da chuva, espírito de papagaio... Adorava ir para o beiral da varanda e vê-la cair, a chuva de molha tolos, como se diz em Portugal. Ver a serra do mar ao longe, o prédio da Light encoberto, o asfalto molhado a refletir a luz fosca de um sol encoberto, em frente à casa que ficava num pavimento mais alto, pois tinha porão...

Agora, enquanto escrevo, aprecio as flores do jardim; o gato Cebola lá fora não importa em molhar-se, brinca e entreter-se com qualquer inseto, com qualquer folha. Já estive no vão da porta com um copo de café quentinho na mão a vê-lo nesse jocoso “dolce far niente” que só os gatos dão-se ao direito.

Enquanto a chuva cai, traz-me reminiscência de outros tempos, quase outra vida; o último banho de chuva, em Ubatuba, com Alessandro e Luciano; a enxurrada ao voltar pra casa certa vez, onde o táxi deixou-me a meio caminho por conta da água alta, naquela São Paulo descuidada; do correr várias vezes da chuva até dar razão a Jair, “entre chegar molhado e cansado e chegar só molhado” passei a preferir também o segundo.

E assim acompanho o cair da chuva com esse texto, a água cai melhor e com mais facilidade que as palavras, mas as lembranças transformadas em letras que tornam-se frases, orações e parágrafos em seu ciclo próprio casam-se bem com a chuva.

7 comentários:

  1. Jair está certo... melhor aproveitar a chuva...pra mim, chuva é benção, é vida e pelo jeito o Cebola também pensa assim rsrs... aproveita a chuva Dja...e toma uns pinguinhos de chuva por mim... São Paulo está na seca...como sempre, o seu texto me fez ficar imaginando a chuva caindo lá fora...deu saudades...bjs

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    1. Rsrs já passou a chuva Sil. Tenho escrito com pelo menos uma semana de antecedência, e este na verdade tinha mais de 15 dias de escrito. Os últimos dois foram escritos no mesmo dia. O da próxima semana ontem... :)
      Obrigado pelo comentário tão Gentile

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    2. 💕😘😘😘 dá um beijo no Jair...😘😘😘

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  2. Aqui na Amadora já choveu algumas vezes hoje. As flores dos canteiros estão desabrochando, deixando um lindo tapete florido. Bjs

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    1. Ah, a profusão de flores daí. Um inverno de verdade faz toda diferença pras plantas, o repouso, e depois aquela explosão. Que saudades daí caçulinha. Aproveite bastante. Feliz co. Seu comentário e as lembranças que ele evocou.

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  3. Como sempre fazendo-me lembrar das nossas conversar ou melhor das suas histórias na caminhada pós almoço rsrsr, eita saudade. bj

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    1. Ah, como eram bons nossos almoços seguidos da caminhada cheia de risos, música e histórias. Eu sempre falando mais que o homem da cobra.
      Obrigado por comentar e me levar de volta a nossas caminhadas.

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