sábado, 2 de dezembro de 2017

Desconhecer o Conhecido


Existem aulas que dão sono, outras, nem sequer isso. Apenas se olha para o relógio, que durante esse tempo diminui sua marcha. As mentes, essas divagam… Escrevem-se trabalhos de outras matérias, poesias, fazem-se desenhos, rabiscam-se letras, símbolos, garatujas as mais diversas, escrevem-se cartas, fazem contas e listas de compras. Redigem-se até textos para blogs que tratam de conversas fúteis e mundanas que não levam a nada.

Há aulas dadas com paixão e conhecimento, mas nenhuma didática. A verborragia sem pausas não dá tempo para digerir tanto. Cansa-se de tanto ouvir, sem que se possa realmente absorver, conflitar, questionar e gerar seu próprio ponto de vista, ou aceitar aquele apresentado. E se o aceitamos é mais por cansaço. Talvez um cansaço daquele mesmo tipo que faz o fiel crer no pastor, sem questionar posicionamentos, interpretações e dogmas.

Muitas vezes se detém títulos e conhecimento, mas já dizia Sócrates, segundo Platão. O mal de alguns homens é justamente o de se julgarem, que por serem expertos em alguma coisa específica se acharem conhecedores, sábios e capazes em todas as outras. Ter conhecimento sobre algo não quer dizer que se saiba transmitir. Ou pelo menos, não da melhor maneira, da forma a despertar interesse e fazer o outro querer buscar mais sobre aquilo, apaixonar-se.

Mas existem aulas de verdade, dadas com paixão e uma tal dinâmica que faz querer ouvir mais, onde se participa, se discute, discorda-se, diverte-se; e principalmente se absorve de uma maneira suave, prazerosa, viciante, tanto e tal que quando acaba, achamos que foi cedo, que queríamos mais um pouquinho, que aquilo devia ser discutido em uma mesa de bar, ou na mesa de casa mesmo, as com um copo de vinho a mesa, beliscando um queijinho, e fazendo o assunto render e ao esgotar-se já emendar noutro, e em outro, e…

E por que? Oras porque foi prazeroso ao ponto de a ligarmos com outros signos de prazer ao qual estamos acostumados. Porque quando há a pausa habitual, você mal se aguenta para fazer um comentário, pergunta, ou dizer à que aquilo lhe remeteu. Essas são as melhores, as que fazem valer a pena, que produzem ideias, geram conhecimento, que será transmitido depois num bate-papo, numa observação em um museu, sobre uma obra específica ou uma coleção, num café durante um bate-papo informal, numa troca de ideias durante um almoço, após ter sensações diversas ao assistir a um filme. O élan que nos transporta àquele conhecimento se dará espontâneo, inesperado, em qualquer lugar, pois já pertence a nossa experiência. São esses professores que ficarão e serão citados com carinho, com um sorriso nos olhos, nos lábios, no rosto, sendo lembrados por muito tempo. É esse conhecimento que ficará e será transmitido, pois é vivo.



Imagem: Sócrates e seus discípulos - Imagem da internet - disponível em: http://www.duniverso.com.br/wp-content/uploads/2016/02/socrates-filosofando-com-seus-discipulos.jpg 


13 comentários:

  1. A princípio, lembrou-me das aulas de ecologia, na faculdade. Adorava a matéria, mas o professor fazia eu e os demais alunos dormirem. Lembrava um pouco o Suplicy, no seu falar. Mas, professora que eu ficaria por horas a fio em suas aulas, era a de filosofia, no magistério (que também lecionava psicologia e sociologia).

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    1. Ah, esses que nos apaixonamos pela verve, são os que ficam, os que fazem valer a pena.

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  2. Gostei do texto, faz indagar sobre o que achamos sabemos e postamos a ensinar. Espero que sua recuperação esteja sendo boa. Agora menos fotos de jantar aqui, almoço acolá e por aí vai rsrs

    Fabio Massanti

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    1. Obrigado! Mas quanto as fotos de almoço e jantares... Não sei porque, eu continuo comendo. Com menos sal e gorduras, mas comendo! Rsrsrs

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  3. Vc continua desenhando nas aulas meio paradas? Rsrs...entrei no túnel do tempo qdo eu sentava atrás de vc e ficava vendo vc desenhar durante a aula....

    Silvia Gentile

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  4. Rsrs....vc deveria fazer um livro de contos com os seus desenhos...cada desenho tem uma história: a história da aula chata kkkkk

    Silvia Gentile

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  5. Gostei!! A verve continua firme e forte.

    Elenice de Castro

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  6. Muito bom Dja

    Elisabete Candida da Silva

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    1. Obrigadão Bete, compartilhamos muitas dessas aulas, não? rsrs
      Beijo

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  7. Em geral, essas são dadas por um tipo que apenas apresenta a lista de chamada ao final da aula. Como forma de prender, se não a atenção, ao menos os corpos ali, a seu redor

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