terça-feira, 10 de outubro de 2017

Ser, Não ser, Tornar-se.

Já não sou quem eu era. 
 
Sim, pois mudamos a cada minuto, não apenas com rugas novas ou mais um fio de cabelo branco, mas o modo de ver as coisas; não no que se refere à perda de visão, cataratas, miopias e outras que se acentuam com a velhice, mas o modo de perceber as coisas, pessoas, sentimentos, ações…

Também não sou o que eu queria ser. E ser metamorfose não é questão de preferir ou escolher, é de viver, lutar, perceber, perceber-se, sobreviver… Além do “estar”, “ser”. Sem essa de “to be”, que ser é muito mais profundo que estar, pois independentemente de onde e como se “está” o que se é, é ainda maior. E embora o fato de “estar” interfira metamorfoseando o ser, ele é.

A vontade de ser outro o torna uma pessoa que não aquela que gostaria de ser, e ainda uma diferente daquela que é. Como que comunga-se de ambos e se torna aí uma terceira pessoa. Não, deixemos Freud e a teoria dos recalques fora disso, afinal, “um charuto é as vezes apenas um charuto” não disse ele mesmo?

As expectativas, correspondidas ou não, os lugares, as pessoas, os signos redescobertos, redefinidos, redesenhados, alinham pareceres claros e obscuros num jogo de luz e sombras, encerram visões açucaradas e freios controladores, a lagarta entra na solitária repressora do casulo para metamorfosear, e dali sai, tanto faz se mariposa ou borboleta; se liberta, completa, já não é lagarta.

E a barata de Kafka? E a mosca de Cronenberg?

E se a mosca pousa na sua sopa? Você a espanta ou se espanta? O que lhe causa espanto? A mosca ou o medo de ser a mosca?




Foto: Djair - Espantalho - Parque D. Carlos I - Caldas da Rainha, Portugal - 05/10/2017 - Evento: Tradições da Vila.

2 comentários:

  1. Isso me remete ao comercial o efeito Orloff, lembra? Eu sou você amanhã. Aí em uma revista não lembro se era a MAD, ou Chiclete com Banana ou as do Glauco (minhas leituras de cabeceira na aborrescência) tinha uma tira com o efeito Orloff. Um cara bebendo tranquilamente na poltrona de casa e aparecia um cara e o da poltrona (não o tão citado pelo hoje sem graça Didi Mocó Sonrisal) pergunta: Quem é você? O que apareceu do nada diz: Eu sou você amanhã. O da poltrona diz: E quem sou eu hoje caral$*#&¨@(? Isso me faz pensar no que eu sou hoje, ou o que eu vou me tornar amanhã? Sei lá,melhor eu vender todas minhas coisas e ir ser mendigo nos portões musicais de Graceland, em Memphis. Tocar um violão e com esmolas comer um sanduba vez ou outra. Abraço do Baratta.

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