quinta-feira, 5 de março de 2015

Alamandas


Essa semana me deparei com uma bela foto de alamandas na página da Carol Mazzeo. Dizia ela:

“Alamandas. Leva o segundo lugar nas flores preferidas na minha vida. E acabei de me dar conta do porquê: assim como Hibiscos, elas não precisam ser mortas pra trazer beleza. Vasos e canteiros: o cultivo com zelo. (...)”

A imagem remeteu-me direto à Zuleica; eram também as preferidas dela e foram plantadas na casa de Ubatuba. Através das flores amarelas, ela queria resgatar um pouco daquilo que se perdera, quando as mesmas flores existiram na casa de vovó Lili, na distante Passos de tempos inocentes. Era ali, no Parque Vivamar, que as flores plantadas junto ao muro da frente, numa tentativa de fazê-las cair para o lado de dentro, ou de fora conforme o plantio, tentavam esse resgate.

Com o tempo, ficus plantado à frente da casa – pela associação de moradores do bairro que queria padronizar, além das calçadas de grama, a árvore às portas – o ficus enorme ensombreava toda a frente, e a partir daí o emaranhado de galhos verdes das alamandas tinha cada vez menos flores. Ainda assim trançávamos ramos, amárravamos arames, tentando conduzi-los, e os que subiam acima do telhado do portão, conseguindo raios do astro luminoso, nos brindavam finalmente com as flores que na infância tinha ouvido chamar-se “peido de velha”.

Num daqueles dias, em férias, aproveitando a raridade dos dias sem chuva naquela Ubatuba ainda bucólica e horizontal, resolvi comprar um caminhão de pedras roladas. Quando elas chegaram, Zuleica assustou-se, assim como Jair e eu mesmo, tal a quantidade e tamanho, e lá fui eu, seguido por Jair, e depois por Zuzu, a transportar todas as pedras. Cercamos, fazendo contorno e desenhos, todo o jardim; o canteiro lateral esquerdo que ia dos fundos até o muro da frente, pleno de hibiscos e uma outra arvorezinha de folhas verde-amarelas, a qual não sei o nome, mas era a festa dos beija-flores; depois um círculo, formando um novo canteiro a fazer o contorno da castanheira, chapéu de sol, mariola, sete copas, ou como queiram chamá-la. O canteiro do lado direito, onde os bastões do imperador viriam a florir tanto quanto as marias-sem-vergonha e as alpínias, ou para quem gosta de sobrenome: as Alpinia purpurata Red Ginger Lily.

Na frente, outros dois canteiros, um para a buganvília, que depois de morrer vítima de uma ventania em que foi arrancada deu lugar a um círculo de margaridas, o outro desse arbusto dos beija-flores e umas samambaias, além das onipresentes sem-vergonhas, as Marias. Como pedra não faltava, surgiu mais um e ali plantei um coqueiro anão.

Ainda restavam pedras, e assim as alamandas da frente ganharam também seu “guarda-corpo”, pois tudo precisa de contorno nessa vida. Depois de tudo colocado em seus devidos lugares, os canteiros ao meio do gramado ficaram mais belos, mas... faltava alguma coisa, pois estavam baixos, fundos, e assim, comprei um caminhão de terra de jardim... Mas dessa vez contratei dois rapazotes, que a terra era muita e a chuva viria a qualquer instante. E deu tempo, ficou tudo belo, florido, vívido.

A imagem da Zuleica carregando algumas pedras, dentro de sua força feminina e frágil, jamais me saiu da cabeça. E as alamandas se tornaram a sua lembrança mais física, agora que ela nos deixou; e assim toda vez que as vejo floridas, lembro dela, e penso poder plasmá-las e que ela as receberá onde quer que esteja.

Foto: Internet.

2 comentários:

  1. Bela homenagem, ela com certeza recebe as alamandas plasmadas.

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  2. A poesia se faz presente nas coisas mais simples,um olhar,um sentir o cheiro de uma flor,resplandecendo na memória:vidas

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