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Djair/Fonte D. Beija - Araxá - MG |
E o cabelo... Agressivamente
louro.
A simpatia extremada era apenas
cordialidade, à noite na pousada nenhum entra e sai, nem ruídos, nem suspiro
algum vindo de outros quartos, nem barulho de televisão alta se ouvia e o ar
condicionado silencioso... Nada de sons como faziam pensar os três envelopes de
preservativo sobre o frigobar.
Uma noite e silêncios e sonhos
tranquilos e felizes, e pela manhã... O café com leite, pães frescos, bolos,
sucos e aquela alegria desconcertante emoldurada por brilhantes olhos
perscrutadores debaixo de sobrancelhas finíssimas que têm acima a vasta
cabeleira... loura...
***
A
Dama de Araxá está lá, no museu de D. Beija; ela é negra, robusta, e carrega no
rosto, sem nenhum esforço, um enorme sorriso, constante, fácil e tão
contagiante que em minutos a temos na conta de uma amiga antiga a quem há muito
não via. O museu não é extenso, nem as obras profusas, mas a conversa flui
solta, de casos locais a lendas da região, e assim, entre a apresentação formal
do espaço e das obras que ali habitam, nos pergunta de onde somos, e aí, conta de coisas que ela mesma viu na cidade
da qual viemos quando cá esteve há poucos meses. Os risos fluem fartos com as
gafes de viajantes que ela diz ser coisa de caipira.
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Djair/Fachada do Museu D.Bbeija - Araxá - MG |
Oferece
água e café, imediatamente aceitos mais no intuito de prolongar a prosa que
pela própria sede ou necessidade exigida pelo vício em cafeína.
A
visita termina, como se fosse uma visita na casa de amigos, com adeuses e votos
de voltem em breve, e de fato o desejo de voltar naquele instante é sincero. E
o enorme sorriso e os olhos grandes e brilhantes da Dama de Araxá nos
acompanham pelo caminho do Barreiro.
E
ali estamos na farmácia a ouvir explicações técnicas e científicas sobre as
“poderosas” águas e lamas de Araxá, quando a sisudez formal desaparece junto à
entonação estudada quando interrompo:
_Então a lama
é boa para clarear essas manchas? – Estendo minhas mãos bordadas por manchas de
senilidade e outras tantas pelos respingos comuns de água, azeites e óleos:
coisas de quem cozinha, e outras tantas de fagulhas de fogueiras mil e fogões a
lenha acendidos apenas para estar perto do fogo, sem que os circulares carimbos
das brasas se diferenciem daquelas manchas senis ou aquelas das outras. E então
ela afirma que sim, que ajuda bastante.
E então
pergunto:
_Sabe como se
chama isto?
Ela não diz
que são manchas senis, o protocolo não permite, e ela engasga, indaga: _Como?
E eu rapidamente
respondo: _ Flores de cemitério! E lhe arranco a primeira gargalhada com o
chiste aprendido com Eliana Asche.
Nesse momento
adentra o recinto outra cliente, impaciente, com tiques de pressa e nervosismo.
Antipática. Não, não estresso, afinal, as águas de Araxá comprovam seus efeitos
benéficos. A cidade, a paz do lugar, as calçadas largas, a visão do horizonte,
estou envolvido pela calma e beleza do lugar, que nem lembro que breve terei
que voltar ao monstro com seu caos de trânsito, gente, concreto e barulho. Tudo
em excesso. Digo à vendedora que pode atender a outra, não tenho pressa,
enquanto isso, olho outros produtos.
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Djair/ Fonte D. Beija ( interiror) - Araxá - MG |
A estressada
(num lugar daqueles???) pede dois potes grandes da lama para tratamento
rejuvenescedor (não vai adiantar, penso eu), e sai apressada quase a tropeçar
no próprio nariz de tão empinado. Olho para vendedora com cumplicidade (agora
só minha) e dou som ao verbalizar maledicências:
_É, ela está
mesmo precisando, devia ter levado mais.
Nova
gargalhada; agora a moça séria já consente rir e brincar, e ri quando digo que
ela devia fazer plástica de pobre, que ela indaga como seria e eu afirmo: _ É
Simples, é só engordar que o rosto fica cheio e estica as rugas. Somem todas!
Os pequenos
pacotes de lembranças ficam caprichados, saímos do boticário alegres, com as
compras, com os chistes... Dentro dele uma moça, já entrada em anos, fica rir
dos mesmos gracejos. Sopra uma brisa fresca, o sol nos abençoa, sorrindo.