E
desde quando recordar é viver? Quem o disse, foi apenas porque aquilo que
recordava era saudade, era saúde, era saída, era o sal.
E se o que
recordava fosse apenas uma pulsão de morte, de desagrado, de desamparo, de
desgraças cotidianas de ressentimento? E de desagrado em desagrado torna-se
profano o que outrora foi sagrado e nisso não há saudade.

Recordar
também é morrer... Talvez por isso os velhos vivam tanto de lembranças. Porque
morrem... E por isso tantas e tantas orações, repetidas com fé, com fervor, e como
quem não quer dizer nada... nos terços, nas rezas, nas velas. Nas que iluminam, nas que são acesas sobre
bolos, como ampulhetas que se emprestam o papel de contar o tempo, o que passou
e o que lhes resta.
Um grão de
lembranças, outro de saudades, saudades do tempo em que não esqueciam rostos,
nomes, talhes... Saudades de lembrar os fatos não saudosos, mas os de agora,
que se perdem enquanto a memória só traz
com nitidez lembranças antigas.
Não, recordar
não é viver. Sobretudo quando se quer esquecer.
Foto: Djair - Colunas - adorno - Igreja matriz da cidade de Goiás (Goiás Velho) - GO