quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Seu cadarço está desamarrado?


E assim, o que era fastio se fez fome.
 A paciência para com o outro torna-se cada vez mais escassa, talvez isso explique o alto número de divórcios hoje em dia. Mas não é só o fim dos casamentos; entenda-se por divórcio rompimentos de todas as espécies. Quantos amigos você achou que levaria para  a vida toda e hoje não tem a menor vontade de encontrar? E por que? Falta de paciência talvez, por estar mais centrado em si próprio e o que não é espelho não te interessar?
Enquanto está tudo bem, ótimo, os sorrisos e gargalhadas são mútuos, e quando a coisa aperta? Doença, desastre, crise, tragédia? Ah, também... Sente-se a dor do outro, se condói com suas perdas, muitas vezes até carregando também a dor alheia. Mas e quando não há crises ou grandes comemorações? A cumplicidade é suficiente para manter o contentamento com a simples existência serenada pela rotina? Se há cumplicidade, não é preciso assunto novo, por mais salutar que ele seja? Os velhos planos, as mesmas músicas e o pão nosso de cada dia, ali são suficientes? A presença do outro não vai exigir novidades, apenas o calor de estar junto? Primeira? Segunda? Terceira? Marcha a ré? Não importa, a companhia que aprecia a paisagem lá fora, tecendo comentários do quão bonita é, do quão árida parece, da falta que faz algo ou do que embelezaria ainda mais, é o suficiente para tornar a viagem menos cansativa e aí, a monotonia do “transcorrer”,  é dividida, pesa menos?
A cumplicidade, a intimidade, o entrosamento não é feito às pressas, demanda tempo, demanda vivência, realocação e ajustamento de parâmetros, fazendo das diferenças afinidades, e procurando entender o que não se concorda em prol de uma convivência mais próxima, pacífica, duradoura. Muitas vezes se têm convivências extensas, mas sem nenhuma profundidade, sobretudo em locais de trabalho. É comum ouvir: trabalhamos juntos desde... Mas e daí? O que se sabe sobre o outro, sobre o que pensa, sobre seus gostos, medos e sobre o que pensa quando tem insônia? O outro se sente só? Seguro? Mascara seus complexos em um texto rebuscado de certezas e afirmações que não convencem a ninguém? Em uma impostação de voz estudada que não combina com o gestual? Não, isso não é amizade, isto é convivência. Amizade é quando se confia a ponto de mostrar suas fragilidades, não obstante tenha quem faça eternamente o número do frágil e coitadinho, e esses me cansam. Como devem cansar a muitos outros. Não é a personagem e sim a pessoa real que buscamos, por isso muitos laços se desfazem rápida e irremediavelmente tão logo um olhar mais crítico analise o comprometimento.
Relacionamentos são assim, geralmente quem cobra carinho, presença e licitude, não sabe proporcioná-los, então os laços se desfazem, às vezes viram um nó cego, às vezes um longo cadarço a fazer tropeçar. Às vezes é só ter paciência e reatá-lo.
 
Foto: Djair - Ex-votos - Sala dos milagres da igreja da Ordem Terceira do Carmo, também conhecida como igreja do Senhor dos Passos - São Cristovão - SE (Como muios laços, estão por um fio).

12 comentários:

  1. Como sempre, muito bem escrito, ousando revelar inquietações que muito de nós experimentamos mas que, com um pouco de paciência, suportamos e não chutamos o balce de uma vez.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns!!!! despertando profundas reflexões...




    Alex...Araújo!!!!

    ResponderExcluir
  3. Maravilhoso texto. Ando impaciente assim também. Hoje a coisa tá mais ou menos assim. Vamos marcar pra assistir um filme todos juntos? E o recluso diz: Ah, eu baixo daqui, vc baixa daí, cada um assiste e falamos o que achamos por sms! hehe. Não existe mais convívio. Os cadarços hoje são feitos de linha 10, quando não arrebentam provocam ferimentos...

    ResponderExcluir
  4. Como sempremuito bom e dando umas chaqualhadas (risos). Acredito que falta sim cumplicidade e saber como esta o outro ou simplismente ouvi-lo e não procurar resposta só ouvir.Meu casamento acabou há anos e lembro e bem quando dizia: Sua mãe se intromete e outras coisitassssss
    Na realidade não existia amor. Comodiz esta musica. que Toquinho canta

    "Para viver um grande amor direito, não basta apenas ser um bom sujeito.
    É preciso também ter muito peito, peito de remador.
    É sempre necessário ter em vista um crédito de rosas no florista",

    Obrigada pelo texto. Abraços

    Carminha

    ResponderExcluir
  5. ahhh cadarços os frágeis e fortes cadarços... muito bom!! Le

    ResponderExcluir
  6. Ah,esse texto foi um tapa na minha face.
    Eu ando assim,com mil cadarços desamarrados.Esse comodismo que me vejo hoje está sendo fatal.
    Hoje em dia as relações andam muito superficiais,porque não dizer,volúveis..Na minha opinião,a grande maioria das pessoas,não sabem criar laços e,se criam,cortam na primeira bobagem que surge.Confundem colega com amigo,e aí..Decepção.E há aquelas amizades que imaginávamos serem inabaláveis,e..o vento levou pra nunca mais.
    Enfim,hoje me encontro como já dito,com inúmeros laços desatados e sinceramente,não sei se os reato ou se os retiro de vez do meu sapato.

    Beijão,Djair!Excelente texto,como sempre!
    Dani.

    ResponderExcluir
  7. Muito bom o texto Djair!
    Relacionamentos em geral são complicados, mas é como dizem se fosse fácil não teria graça. Acho que todas essas nuances é que fazem as coisas valer a pena (ou não) e ainda fazem com que o laço se fortaleça (ou não). rsrs
    Abraço

    ResponderExcluir
  8. Pobre de mim que ando sem paciência para conhecer gente, que não tenho paciência para mimimi nem para assuntos de política, para assuntos de comoção social, para livros da lista da veja para o self-service cultural dos cultos, belos e inteligentes.

    Pobre de mim cujos cadarços se desamaram a cada passo. Cuja cabeça com seus pensamentos tortos pode estar por um fio como os ex-votos da foto, que não tenho a fé representada nas cruzes penduradas na sala de milagres...

    Pobre de mim. Que sou roto e esgarçado.

    Deixe-me reler e pensar mais, e de novo, e de novo sobre isso...

    ResponderExcluir
  9. Ja sofri tanto com "cadarços" que deram nós... alguns desatei ,outros se desgastaram tanto que mesmo tentando ( e olha que tentei viu ! )concerta-lo , percebi que quando a uma das extremidades se desgasta, desistir é mais acertado do que ficar perdendo tempo e paciência com concertos que terão efeitos provisórios.
    Hoje , analizando minhas relações, posso dizer que tenho pouquíssimos amigos, mas todos escolhidos a dedo. Talvez ao invés de cadarços, posso considerar que tenho hoje amizades de velcro rs. Para muitos que gostam de ostentação, talvez seja algo demodê; mas muito mais prático pra mim , que ja não tenho tempo para supérfluos! Não tenho tempo nem paciência diga-se de passagem ! rs

    Bjs Rosangela.

    ResponderExcluir
  10. Djair, é preciso ter serenidade para lidar com amizades antigas, novas e desfeitas. Texto ótimo para reflexão. Parabéns!
    Luiz Otávio de Lima Pereira

    ResponderExcluir
  11. OLÁ
    MENININO
    Concordo que para um relecionamento durar tem que ter compreensão de ambas as partes num relecionamento a dois e se possivel morar em casas separadas e quanto a amizades amigo, amigo mesmo aceita o outro do jeito que é ,logico que quando tiver que dar uns toques para o bem do outro , acho sempre bem vindo.
    bjs
    Menininh!!!!

    ResponderExcluir

Será muito bom saber que você leu, e o que achou.
Deixe aqui seu comentário