quinta-feira, 16 de junho de 2011

Tú me ensinas a fazer renda$$$, que eu te ensino a namorar.

Bem, finalmente acabou a farra do boi de compras para o "dia dos namorados”. Sim, é mais uma data comercial inventada para vender bombons, flores e o que os valha, embora hoje com o consumismo em alta e a felicidade em baixa, os presentes e os desejos sejam cada vez mais caros, tecnológicos ou “pops”. Da bolsa de grife aos “I” Sejam I pad, I pod, ou qualquer traquitana tecnológica da moda, para ser usada, ou como vi acontecerem casos próximos, apenas pra se dizer que tem...


Outro dia em uma rede social vi um comentário ótimo sobre a data, a moça dizia: “E daí que vou passar o dia dos namorados sozinha? Também não passei o dia da árvore com uma sibipiruna e nem o dia do índio com o Raoni.* ” Certamente que não, e provavelmente nem com o Paulinho Paiakan.** 

Mas o mais estranho é aquele tipo de gente que fica desesperada porque não tem ninguém para passar o dia dos namorados junto. E segue a máxima de antes mal acompanhada do que só... E tome bate-papos na internet no jogo do vale tudo para não estar só.

A mãe de um antigo amigo, divorciada por anos, arrumou namorado e, depois de batalhar transferência de emprego, mudou de estado, aliás, de região, para estar perto do que lhe parecia ser o homem de sua vida. Menos de uma semana depois estava de volta, frustrada e só. Ao pedir que lhe apresentassem alguém, nessa busca para por alguém no lugar do recente ex, acabou casando-se “de papel passado e tudo”, com o primeiro que apareceu, sem importar-se com o abismo sócio-cultural e econômico que os separava. Pois é, daí a menos de dois anos estavam já às turras e com processo de separação litigiosa. E ao arrumar nova paquera, faz com que num acesso de ciúmes, vingança ou seja lá o que seja, o companheiro ainda oficial se atire ao novo suposto namorado e o mate...

Um amigo, muito querido, abandonado pela esposa, viajou em férias para casa dos pais no norte do país; na bagagem de volta traz uma namorada com pouco menos que a metade de sua idade. Logo de cara ela se esbalda nas compras e se afasta da cama... Alertado por amigos das pequenas traições cotidianas, afasta os amigos após confrontá-la, e ela negar e finalmente transar com ele... O relacionamento acaba quando ele flagra a traição e após despachá-la de mala e cuia, começa a frequentar boates, e logo se “arruma” com uma mocinha, bem novinha, bem bonitinha, bem suburbana e beeem disponível com quem se engraça. A mudança dos rincões da cidade para os Jardins se faz sem demora. Resumindo o caso, cujos detalhes sórdidos deixamos de lado, novas traições, chantagens, e a depressão aguda se apossa de nosso querido carente que, por fim, contrai uma tuberculose, doença dos românticos e acaba por deixar sua alma voar para longe deste mundo terreno que não estava preparado para ele.

E os casos multiplicam-se a perder de vista... A amiga que descobre a dias do casamento que o noivo era casado, o canalha que pede duas em casamento em diferentes cidades, a que junto ao marido viaja sempre a trabalho para encontrar amantes mais jovens, o moralista de ultradireita que é pedófilo e corrompe as afilhadas da esposa...

Há mesmo aquela que abomina homossexuais, “que lhe roubam o parceiro e que poderia ser um companheiro maravilhoso, mas que bandeou pro outro lado.” 

E esta última lembrança se contrapõe totalmente com o que vi ontem ao assistir uma entrevista da atriz Glória Pires. Ouço-a responder uma capciosa pergunta sobre sua opinião a respeito da recente aprovação da lei de união civil entre parceiros do mesmo sexo. Se apoiava ou não. Ao que ela afirma que teve a incrível sorte de ter um relacionamento maravilhoso com uma pessoa que a completava. Já que é tão difícil encontrar alguém assim, e nunca se sabe se esse alguém vai ser um homem ou uma mulher que o possa fazer feliz, logo só poderia apoiar. 

Com ou sem dia dos namorados. Torno a repetir que, como dizia a mãe de Raimunda Pinto***, a esta mesma personagem, na peça homônima: “Casamento, minha filha: É igual topada... acontece!”
 
* Raoni Metuktire, líder dos caiapós, é um dos índios mais conhecidos no Brasil e no exterior por sua campanha em defesa do povo indígena e da floresta. Nos anos 1990 foi alçado a celebridade pela proximidade com o cantor britânico Sting.

** Benkaroty Kayapó,  cacique da aldeia Aukre dos índios caiapós no sul do Pará, ícone indígena do ecologismo acusado há alguns anos,  de junto com a esposa Irekan, ter  estuprado uma estudante, foi condenado. Paiakan, como era conhecido, chegou a ser  apontado pelo jornal estadunidense The Washington Post, como The man who would save the world. (O homem que poderia salvar o mundo.) Por sua atuação em busca de um modelo ecologicamente equilibrado na exploração dos recursos florestais da Amazônia.

***  “Raimunda Pinto, Sim Senhor!”, do dramaturgo piauiense Francisco Pereira da Silva (Chico Pereira), traz como tema o êxodo rural e conta a estória de uma jovem cearense, negra, feia, pobre, leporina (lábio defeituoso) que abandona o agreste para vencer na vida, fazendo sucesso mundo afora. 

Foto: Djair - namoradeira na janela.

6 comentários:

  1. Veio com tudo de férias em companheiro. Como sempre teu textos nos leva a refletir, para as questões dasdatas.
    Dia dos namorados que ponha um homem de goela abaixo , mas que tenha.
    Será que não podemos estar bem sós? Que sejamos felizes sem precisar te ter moletas e sim companias. Se não a morte por inúmeras denças da alma é certa, abraços Carminha

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  2. Excelente texto.
    Fico pasma ao ver do que são capazes algumas mulheres, para ter um homem ao lado, como se apenas a companhia de um homem desse validade as suas vidas. De minha parte, não sou muito exigente, contento-me com o melhor de todos.
    Beijo, amigo

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  3. Passei o dia dos namorados com a pessoa que mais amo no mundo e sei que o me ama tb, minha filha, enquanto que o cidadão meu pretende estava "fora de area",rsrsrsrsrsrsrs
    bjs
    Menininho

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  4. Querido! Que delicioso ler isso! Já começa bem a semana...

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  5. Mais um ano, podendo comentar e reler o texto, sempre bom.Abraços Carminha

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  6. Meu querido amigo Djair nem vou comentar pos vc disse tudo...só posso te deixar um grande beijo...estou me despedindo...viajo para o Brasil no próximo sábado...seja feliz pois a felicidade é feita de momentos...aproveite ao máximo esses momentos...volto só em Agosto...até lá...Soni@

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