Opiário
( A Mário de Sá
Carneiro)
Fernando
Pessoa/Álvaro de Campos*
“Quantos sob a
casaca característica
não terão como eu
horror à vida? (…)
Se ao menos por
fora fosse tão interessante como sou por dentro!”
Em épocas de
redes “sociais”, a
superficialidade mascarada de felicidade estampada nos out-doors
virtuais, onde os sorrisos não são a única coisa inverdadeira, não
apenas os dentes, mas até mesmo as almas, passaram por processos de
clareamento.
Odes às
liberdades e à democracia, salve a diferença e soltem fogos à
diversidade, desde é claro, seja a diferença de quem proclama todas
essas glórias.
O discurso da
liberalidade sempre foi muito bonito e fácil, já a prática… Bem o
sabemos... nota-se pela quantidade de deputados de extrema direita (à direita de quem? Do demônio?) com posições reacionárias e exacerbando ao mesmo tempo que disseminam preconceitos
e ódios, e que assim são eleitos com sufrágios suficientes para catapultá-los às estrelas, ainda que muitos não ousem dizer á luz do dia que foram eles que os elegeram.
Ah, a prática
cotidiana do respeito ao outro, ao pensar diferente, ou, pior dos
piores: ao agir diferente, o sair da pasteurização, e ai então
tomam forma os piores dos preconceitos, aqueles que vêm disfarçados:
“_de alma branca”;
“_Ah, se pelo menos ela se vestisse um
pouquinho melhor...”;
“_Mas ele devia pintar o cabelo para não
parecer tão velho”;
“_Não tenho nada contra, só não quero na
minha família.” E aí, complete-se com seu preconceito preferido,
cor, opção sexual, etnia, ou
àquela mais próxima: mora em tal bairro, na cidade dormitório, ali ao lado, e que, definitivamente, não é a sua. Também pode ser por origem, país, região, aquela que
preferir denegrir pela pobreza, pelas características físicas, ou pelos políticos que
servem de embasamento para criticar dinastias enquanto o próprio
“critico” vota num mesmo candidato há 10, 15, 20 anos...
E regurgite-se, e
destilem-se outros venenos sob forma de piadas e escárnios. O que interessa é
que na foto da rede social você apareça feliz.
Parece feliz...
É...
Será?
* O eu profundo e
outros eus. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976 p.195
Foto: Djair - Flor do baile - símbolo da efemeridade da beleza, já que a flor dura apenas uma noite.
É a pura hipocrisia! Vê-se a verdade nesses exatos comentários que você falou. Aí eu repito: meu sonho é o dia em que não haverá nem heterossexuais nem homossexuais, apenas duas pessoas que se amam. Aquele senhor negro, aquela senhora loira tenha a mesma entonação de aquele rapaz de blusa verde. Sonho utópico?
ResponderExcluirE viva o pau de Selfie! Que mer...!
ResponderExcluirAh o ser humano... em algum momento todos nós "escorregamos na maionese", na condição de pecadores comuns que somos... diria que quase ninguém escapa dessa condição não, pois diversos são os amores, dores e valores que cada um traz dentro de si... bjuss
ResponderExcluirQue bom que existe o "Prajalpa"!
ResponderExcluirQue lindo ler um texto substancial e reflexivo!
Parabéns,Dja!
Dani.