domingo, 1 de março de 2015

Miss Daisy

Como diz minha mãe, “se o espiríto não me mente e a verdade não me falha”, seu nome era Daisy, miss Daisy. A professora de inglês da oitava série. Lá mesmo na velha “Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau...” Àquele ano, sabe-se lá por que cargas d'àgua, a porta da classe tinha sido cortada ao meio, tornando-se uma cancela, para onde corriamos às horas de toque da campainha que anunciava a troca de matérias, consequentemente dos professores. E por isso éramos apelidados de meninos da porteira.
Miss Daisy foi nossa professora de inglês naquele ano, depois de anos da professora Isamar, a velhinha jocosa, alegre e querida, agora tínhamos ali uma jovem bonita, agradável e de grandes atributos como se verá. Já era quase final do primeiro semestre e, ao contrário do que se pudesse pensar, vivíamos àquela semana, pelo menos, dias quentes.
À “cancela” esperamos a jovem que já povoava imaginários pueris em seus primeiros mênstruos. Morena, magra, estatura mediana, cabelos lisos, olhos grandes e de cintura acentuada, o que na moda da magreza cada vez maior já não se encontra. A voz era gostosa de se ouvir e a simpatia fazia meninos pensar que eram homens e suspirar em seus delírios púberes. Mais eis que ela não tarda, vem pelo corredor sorrindo, com andar sinuoso, e adentra com seu delicioso “good morning darlings!”
O brinde àquele dia à rapaziada boquiaberta; aliás, as bocas além de abertas estavam também a salivar, ou... completamente secas.
Miss Daisy se nos apresentava com uma blusinha de alcinhas, de tecido leve, vaporoso, fresco e completamente transparente. Sem sutiã; em meio a uma horda de barbáros, digo, de alunos adolescentes e em ebulição hormonal. Mas o presente à classe não era apenas a blusa, mas ao fato de ela não usar sutiã naquela ocasião, pelo menos.
Quis o destino que para tomar o ponto ela viesse se sentar em uma carteira à frente, na fileira à minha direita, de onde volta e meia fazia algum pequeno comentário comigo, o mais próximo dela. O exercício no quadro a que colegas iam responder não chamava atenção, mas as duas tenras peras envoltas em seda negra prendia o olhar atento da população masculina. A aula durou pouco, aqueles cinquenta minutos se passaram em não mais que dez.
Nova correria à porteira, mesmo antes dela sair, todos a querer vislumbrar a arte esculpida em carne. E a responder o bye bye com a alegria eufórica de quem tirou um bilhete premiado. Após sua saída, os comentários, em que até as meninas comentavam, atiçando-nos a exacerbarmos o laudo da vistoria.
A alegria estava instalada, ah, a juventude... D. Lenir, a professora de português na aula seguinte, sacou do seu famoso bordão: “Meus filhinhos, ô meus filhinhos, vão se acalmando, vão bebendo água.” Sem entender o que se passava e sem deixar o gerúndio de lado.
Na semana seguinte, na quarta, quinta, ou sexta-feira que o valha, que minha memória não é tão precisa, mas enfim, no dia da nova aula de inglês, todos a postos, olhares atentos, sentidos mais que aguçados, com a disputa pelo lugar à porta já ocorrendo no corredor mesmo, e eis que ela surge. Linda, cabelos soltos, sorrindo abundantes dentes, os lindos olhos famosos pelo tamanho a brilhar e... uma gola cacharel que ia até o pescoço. Não se divisava sequer o formato de seus ombros ou a cor amadeirada de seus braços, as mangas compridas. Havia esfriado. O clima, os ânimos, a paixão.
Logo depois entramos de férias; na volta Miss Daisy havia sido substituída por D. Marisa. Bahiana classuda, morena, cabelos negros, rosto bonito, elegante, cintura finissíma como se desafiasse os glúteos de proporções épicas e formato afrontador, como uma musa de Goya. Sempre de vestido, tailleur, saia comprida... Tínhamos agora, depois da Maga desnuda, a Maga vestida!


Foto: PatCarla - Carol Mazzeo (e seu belo par de seios).

5 comentários:

  1. Voltei mais de trinta anos no tempo graças a vc meu amigo. Lembro-me desses "causos". rsrsrs

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  2. Como eu poderia esquecer da professora Lenir? De vez em qdo me deparo com ela. Mas outro dia, parece que deu um branco nela, ou melhor dizendo amnésia . Rsrsrsrs. Ela parou em minha frente me olhou meio esquisita e me perguntou: Vc já foi minha aluna? Respondi que sim meio atônita. Achei estranho ela não ter me reconhecido, porque não havia mto tempo ela parou para falar comigo e junto dela estava a mãe das gêmeas Elenita e Elenivalda e ela ficou me elogiando, que eu era a melhor aluna de Literatura. eu ainda disse para ela que nem tanto assim, porque vc quem se tornou escritor, mas tbm pudera. O mérito é seu..
    Beijos

    Dalva Vieira Souza

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  3. Djair, obrigado pelo texto. Fez-me viajar para um outro tempo também. Outra escola, outro lugar. Mas algo assim nos chamava a atenção. Olhares fixos e "babantes".

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  4. Lembrei de uma professora de português do ginásio, D. Elma. Devia ter uns quarenta e tals e sempre usava camisas com mangas bem largas. Vez ou outra ia para as aulas sem o sutiã e podíamos "contemplar" os seus cabisbaixos seios. Ainda que não fossem como os das Misses Daisy e Mazzeo, geravam uma aula inteira de buxixos.

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  5. Professoras...dos mais variados estilos...Umas com 'tantão',outras com 'tantinho',mas o que importa é ensinar bonitinho.rs

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