Essa
semana me deparei com uma bela foto de alamandas na página da Carol
Mazzeo. Dizia ela:
“Alamandas.
Leva o segundo lugar nas flores preferidas na minha vida. E acabei de
me dar conta do porquê: assim como Hibiscos, elas não precisam ser
mortas pra trazer beleza. Vasos e canteiros: o cultivo com zelo.
(...)”
A
imagem remeteu-me direto à Zuleica; eram também as preferidas dela
e foram plantadas na casa de Ubatuba. Através das flores amarelas,
ela queria resgatar um pouco daquilo que se perdera, quando as mesmas
flores existiram na casa de vovó Lili, na distante Passos de tempos
inocentes. Era ali, no Parque Vivamar, que as flores plantadas junto
ao muro da frente, numa tentativa de fazê-las cair para o lado de
dentro, ou de fora conforme o plantio, tentavam esse resgate.
Com
o tempo, ficus plantado à frente da casa – pela associação de
moradores do bairro que queria padronizar, além das calçadas de
grama, a árvore às portas – o ficus enorme ensombreava toda a
frente, e a partir daí o emaranhado de galhos verdes das alamandas
tinha cada vez menos flores. Ainda assim trançávamos ramos,
amárravamos arames, tentando conduzi-los, e os que subiam acima do
telhado do portão, conseguindo raios do astro luminoso, nos
brindavam finalmente com as flores que na infância tinha ouvido
chamar-se “peido de velha”.
Num
daqueles dias, em férias, aproveitando a raridade dos dias sem chuva
naquela Ubatuba ainda bucólica e horizontal, resolvi comprar um
caminhão de pedras roladas. Quando elas chegaram, Zuleica
assustou-se, assim como Jair e eu mesmo, tal a quantidade e tamanho,
e lá fui eu, seguido por Jair, e depois por Zuzu, a transportar
todas as pedras. Cercamos, fazendo contorno e desenhos, todo o
jardim; o canteiro lateral esquerdo que ia dos fundos até o muro da
frente, pleno de hibiscos e uma outra arvorezinha de folhas
verde-amarelas, a qual não sei o nome, mas era a festa dos
beija-flores; depois um círculo, formando um novo canteiro a fazer o
contorno da castanheira, chapéu de sol, mariola, sete copas, ou como
queiram chamá-la. O canteiro do lado direito, onde os bastões do
imperador viriam a florir tanto quanto as marias-sem-vergonha e as
alpínias, ou para quem gosta de sobrenome: as Alpinia purpurata Red
Ginger Lily.
Na
frente, outros dois canteiros, um para a buganvília, que depois de
morrer vítima de uma ventania em que foi arrancada deu lugar a um
círculo de margaridas, o outro desse arbusto dos beija-flores e umas
samambaias,
além das onipresentes sem-vergonhas, as Marias. Como pedra não
faltava, surgiu mais um e ali plantei um coqueiro anão.
Ainda
restavam pedras, e assim as alamandas da frente ganharam também seu
“guarda-corpo”, pois tudo precisa de contorno nessa vida. Depois
de tudo colocado em seus devidos lugares, os canteiros ao meio do
gramado ficaram mais belos, mas... faltava alguma coisa, pois estavam
baixos, fundos, e assim, comprei um caminhão de terra de jardim...
Mas dessa vez contratei dois rapazotes, que a terra era muita e a
chuva viria a qualquer instante. E deu tempo, ficou tudo belo,
florido, vívido.
A
imagem da Zuleica carregando algumas pedras, dentro de sua força
feminina e frágil, jamais me saiu da cabeça. E as alamandas se
tornaram a sua lembrança mais física, agora que ela nos deixou; e
assim toda vez que as vejo floridas, lembro dela, e penso poder
plasmá-las e que ela as receberá onde quer que esteja.
Foto: Internet.
Bela homenagem, ela com certeza recebe as alamandas plasmadas.
ResponderExcluirA poesia se faz presente nas coisas mais simples,um olhar,um sentir o cheiro de uma flor,resplandecendo na memória:vidas
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