Quando criança brincávamos de cabana,
meu pai mesmo as construía para nós, de madeira, de zinco... e até brincávamos
juntos às vezes, primeiro em construir depois não sei em quais brincadeiras,
isso a memória levou... Até que, aí
pelos meus 5 ou 6 anos, tínhamos feito uma que se constituía de 4 rolos
fechados de folhas de zinco (como colunas a segurar uma outra folha aberta por
cima), à porta da saída da cozinha. Hoje pergunto-me de onde veio esse
material, talvez já estivesse lá, já que meu pai acabara de comprar aquela
casa, aliás, muito bonita, branca, janelas azuis, a imitar o período colonial,
com um quintal enorme. Lembro de termos ido limpá-la e ali conhecemos dona
Rosa, vizinha, que fazia balas decoradas lindas e deliciosas, e sempre que
fazia (muito poucas vezes, para criança, nunca suficiente) dava-nos uma porção.
Naquele dia lavamos tudo, o chão era de cimento, e tivemos que esperar ainda
que colocassem os tacos e depois passarem o tal sinteco que eu não sabia o que
era, só estava doido pra mudar. Então, quando o passaram, fomos lá ver, estava
tudo brilhando, mas tínhamos que esperar mais uns dias para sair o cheiro do
produto... Enfim, como o texto não é sobre a casa, voltamos à cabana...
Naquele dia, estava lá
a brincar, e não lembro o motivo, só lembro que minha mãe brava falou que sabia
que eu estava brincando de cabana porque não podia brincar de “casinha”. Acho
que foi a última vez que brinquei ali...
Tempos depois, bem
depois, já pelos 9, 10 anos, quando fui ao Piauí pela primeira vez, tinha 10
anos, junto com colegas que fizemos naquelas férias, as meninas Nitonha, Niêta
e Ducarmo e outros guris e raparigas de quem já não recordo o nome,
chamaram-nos (a mim, ao caçula de minha mãe, meus primos, enfim, à rua quase toda) pra brincar de “cozinhadinha”.
A brincadeira se resumia a fazermos palhoças com talos e folhas de palmeiras
(carnaúba e babaçu) bastante abundantes ali, no quintal da casa de Niêta, para
onde cada um levava algo para fazermos a tal cozinhadinha. Claro, eram as
meninas que cozinhavam, já faziam isso em casa ajudando as mães. No quintal
imenso tinha uma cova onde repousavam os restos mortais de um irmãozinho dela
que morreu bebê; sim, por ali ainda era permitido. Lembro que no dia da
cozinhadinha, o pai dela pintou o cabelo na varanda do quintal, com uma pasta
de carvão macerado numa tigela.
Minha mãe comprou
bastante carne para levarmos, achou que era o que mais ajudaria, lembro que tudo
ficou muito gostoso, cozido na lenha dentro da choupana que erguemos e onde,
claro, eu era o pai na brincadeira.
Do lado da casa de
Niêta ficava a usina beneficiadora de arroz, ao fundo do quintal dezenas de
quilos de palha seca faziam montes que desciam o pequeno morro a se formar em
direção a um grande declive no fim do terreno, fora a montanha de cascas que se
amontoava na saída por onde a máquina as jogava com um grande sopro.
Brincávamos muito ali, mas aquele dia não podíamos, pois tinham tacado fogo na
palha...
O filho mais novo da
minha mãe, por ignorância de como se dava a coisa e por teimosia, resolveu lá
ir. A palha de arroz queima por baixo, deixando a parte de cima intacta até que
o fogo chegue à superfície, o que pode levar dias dependendo do montante. Para
encurtar a história que não é de suspense, acabou ele por ir brincar num desses
montes, onde a palha queimava por baixo, e queimou o pé inteiro. Deve ter sido
uma dor desgraçada, fez uma enorme bolha que não sei quanto tempo durou. E assim
teve fim a felicidade do dia. Preocupações, corre-corre, mas depois cicatrizou
e talvez ele sequer se lembre disso.
O que houve é que
nunca mais tivemos cabanas, cozinhadinhas ou casinhas.
Foto: Djair - Minha casinha, hoje.
Adorei, principalmente "sua casinha hj". finalmente consegui ler pelo computador e o comentário saiu, aleluia! Sempre leio seus textos pelo celular e não consigo comentar de jeito nenhum. Ontem, quando vi a msg no whatsapp, fiz um lembrete para hj abrir no computador, rs. Beijos e saudades!
ResponderExcluirObrigado Rô. Outras pessoas também já comentaram que não conseguem fazer comentários pelo telemóvel.
ExcluirFeliz que gostou.
Obrigado
Querido Djair depois do comentário acima estou a fazer uma nova tentativa, agora no meu computador e vamos ver se funciona!
ResponderExcluirDisse a você que a grande vantagem dessas memórias de infância é que nós estávamos lá vivendo e sentindo os cheiros e os paladares! Que delicia de texto! Grande beijo
Pois é Lê. Deu certo. Deve ser algum "bug" do blogger.
ResponderExcluirSim e esses cheiros e sabores tornam-se únicos. Bjs
Eu brincava de comidinha...rsrs mas não era de verdade, como a sua..era tudo de faz de conta...poxa, deve ter sido muito legal brincar mas cozinhando de verdade.. aqui em São Paulo não era assim...que delícia de lembrança, Dja..e me trouxe as minhas lembranças das panelinhas e pratinhos minúsculos que pra mim eram tudo de bom!!!💕 Bjs
ResponderExcluirSó vi as meninas brincarem de fazer "cozinhadinha" no Nordeste Sil. De resto o que vi pelo resto do Brasil elas tinham xicrinhas para o chá das bonecas e panelinhas de plástico, etc...
ExcluirSim... até hoje tenho saudades de um jogo de 'travessas de plástico' que eu ganhei qdo tinha uns 6 anos, acho. Eram idênticas as que a minha mãe tinha em louça. Até a cor, meio acinzentada. Tinha travessa para carne, peixe, sopeira..eram lindas!!! Morro de saudades delas
ExcluirEu brinquei de cozinhadinha tbm, muito boas lembranças.
ResponderExcluirÉ uma delicia este seus texto fico a imaginar sua fisionomia a contar rsrsrs e essa memória pelo amor parabéns. bj também pro Jair.
ResponderExcluirObrigado querida. Essa acho que nunca narrei oralmente, mas as imagens são tão nítidas na lembrança..
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