A tomar um chá para
acalmar-me o coração, afinal, esse já enfartado e maltratado, de modo que
qualquer dorzinha me chama a atenção.
Vinicius de Moraes tem um texto de 1943, que adoro, intitulado “Obom e o mau fã”. É engraçado como os maus fãs se reproduzem mundo afora como
baratas, conforme diziam os estadunidenses sobre nós, os cucarachas.
Pois bem, entre os inúmeros e-mails da universidade – que,
na maior parte só servem para encher a caixa de entrada - havia um que era
mesmo bué da fixe. Tratava da exibição de um filme. Um documentário espanhol, narrado
por José Mujica. 81 minutos, 2016. Imediatamente interessei-me. Marquei o
e-mail como não lido e estrelado, para não o perder de vista. Marquei na
agenda, dia horário, e até adiei em um dia, entre outros motivos, não apenas
esse claro, mas também ele, uma ida a Lisboa. Ok. Será mesmo fixe e instrutivo.
Correria com os trabalhos do mestrado, muita correria e
tensão com os trabalhos do mestrado, extrema correria, tensão e preocupação com
os trabalhos do mestrado. Sobretudo em dias de total desânimo.
Mas é hoje o dia do filme. Pausa nas leituras e trabalhos
e vamos lá. Será culturalmente enriquecedor, e uma pausa nas correrias e no
desânimo. Estou mesmo a precisar. Almoço a correr, pois, está em cima da hora.
Chego um tanto esbaforido, mas a tempo.
Ninguém de publico ainda na sala. Ótimo que não
atrasei-me. Também faço eventos e esse é um momento de tensão, quando o público
ainda não chegou e os convidados da apresentação lá estão.
Sento à quinta fila de cadeiras, Vinicius aprovaria.
Converso com o responsável pela exibição, que vem de
Leiria, onde ocorre um festival de documentários. Falamos sobre isso e sobre o
cinema, como é cá, no Brasil... Somos interrompidos, chega mais uma pessoa, se
diz professor, e está estarrecido por não haver público. Que ele mesmo nos
próximos vai trazer alunos, para ser avisado... Muito bem. Também acho o desinteresse
da malta grande. O gajo senta-se na quarta fila... Pax-ciência...
Pois então, o cidadão abre lá seu laptop e começa a... Sei
lá... Trabalhar? Vai ver que não preparou as aulas que tinha a dar... Pode ser
isso.
Resolve-se começar a exibição, afinal a espera já passa
15 minutos além do horário, e nisso chega mais um rapaz. Simpático, senta-se à
sexta fila.
Luz apagada, exibem-se os trailers da mostra de cinema
documental que ocorre nos próximos dias. São cerca de uns cinco, e nada do gajo
desligar o notebook. Começa o filme... O notebook ainda ligado. Queria mesmo
ver o filme, mas já começo a irritar-me. Pois é, sou o estrangeiro enervado...
Então... Saio do lugar e vou sentar-me ao meio da terceira fileira. É mau. Muito
em cima da tela, e com meus olhos biônicos – sim, os dois foram operados – a imagem
não é tão boa vista dali. Percebo então o apagar da luz da tela do computador
do outro... Ok. Ótimo, posso voltar a sentar-me acima...
Pego o casaco, o guarda chuva, e volto para minha querida
quinta fila, logo, estou novamente atrás do tal “professor” – não me perguntem
de quê, bons modos é que não é. Pois bem.... E corre-me o frio na espinha a
pensar que poderia ser de cinema, ou som e imagem, já que há ali esses cursos.
E penso em Luciana Araujo, Maria Rita Galvão, Adilson Mendes, Arthur Autran,
Roberto Noritomi e outros tantos colegas que são ou foram professores de cinema,
e mais que isso realmente gostam da luz sobre o ecrã.
Sento-me
e começo a curtir o filme.
Passam-se apenas alguns minutos, ainda não deu tempo de
pegar gosto pelo filme, e a raiva ainda está presente, quando o gajo, saca o
celular, e então a luz deste, como um sabre de luz Jedí, invade a sala. Afinal,
o outro não pode deixar para ficar a teclar no WatssApp depois do filme. Não, tem que achar que a sala
de cinema é a sala de estar da casa dele. Bem, sou um enfartado, é melhor
perder o filme que a vida, pego novamente o casaco e o chapéu de chuva e saio
da sala irritado, triste e com raiva por perder o filme mas com uma raiva maior
pela falta de educação da humanidade. Rogo mentalmente mil pragas e ódio
eterno. E raiva de mim por não ser do tipo que faz logo um escândalo e manda
desligar aquela porra.
Muito
já se anunciou o fim do cinema, primeiro era a televisão a acabar com ele
depois era o videocassete, em seguida seu exterminador era o DVD logo perdendo
para a TV a cabo, mas o que vai realmente acabar com o cinema são seus
frequentadores.
Rimos muito com seu texto, eu, Vera e Sônia.kkkk prefiro perdendo filme que a vida foi otimo kkkk. O bom desse episódio foi que rendeu este belo texto!!!
ResponderExcluirPois é Elem. Não tem jeito, onde vou passo raiva, por isso o coração deu defeito!
ResponderExcluirO próximo curso terá que ser no Tibete. Rsrsrsrs Você pode imaginar o estrago se o gajo tivesse levados os alunos .kkkkk Beijos
ExcluirSou assim... ou pior!
ResponderExcluirCom certeza! Os frequentadores cada dia mais sem noção! Que pena! Mas que gostei do texto mais que isso, fiquei irritada só com seu relaro e acho que, como sofro de “boca grande” eu teria falado sim, sob pena de arrumar uma inimizade rsrs bj
ResponderExcluirPois é Lê, senti mesmo vontade, mas ando sem ânimo até pra isso. Deve ser da idade... Bjs
ExcluirPois eu sou o "tipo que faz escândalo", até porque todos temos alguma responsabilidade em educar, aquele que não tem. Outra coisa amigo, o coração se ressente também do que deve ser dito e é engolido.. Quem sabe, apesar da bronca, dá para dar um puxão de orelha "com amor".. rsrs.. Mas adorei o texto!!.. bjs
ExcluirMe identifiquei com este texto, qdo fui assistir a casa de papel. Ao contrário da até o fim entre risos e conversinha desproporcional.
ResponderExcluirSaí irada. Desejando não ter vontade de voltar nunca mais.
Jovane
Pois é Jô, o problema do cinema é esse seus maus frequentadores, a falta de educação generalizada. Porque afinal vão eles ao cinema?
ResponderExcluirPerfeito! Joga no Facebook que talvez chegue ao mal educado
ResponderExcluirZi
O primeiro desabafo foi lá, Zi.
ExcluirBjs
Não sei se rio ou choro. Acho que os “lanterninhas” tinham que voltar às salas, mas não para a função anterior e sim, como professores de ensino fundamental, recolher os celulares e somente entregá-los no final da sessão.
ResponderExcluirPerfeito Rô. Assim deveria ser. Vamos lançar uma campanha?
ExcluirOutro dia fui assistir os Vingadores. O carinha ao lado, provavelmente já tinha assistido ou só estava acompanhando a namorada, sem interesse e não desligava o celular. Como eu queria muito ver o Thor eu não saí da sala não! Olhei bem feio pra ele umas duas vezes e ele guardou. Hahaha
ExcluirEu teria batido no ombro do dito delicadamente e teria pedido para desligar... não tinha ninguém lá. Pelo que entendi poucas pessoas foram assistir...ele deve ter ido pra fugir do frio....kkkkk
ResponderExcluirPassou Dja....fica calmo....bjss
Hum-hum... Cada um age de um jeito Sul.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLindo texto, Sobretudo o último parágrafo.
ResponderExcluirObrigado Diô. Abraço
ExcluirSempre com bons textos! A raiva fez produzir bom conteúdo. Hahahahaha
ResponderExcluirObrigado, você é suspeita. rsrs beijos
ExcluirDjair, queria muito estar lá com vc, já armaria um barraco, não tenho paciência para isso, falta de educação. Fui a alguns meses atrás assistir uma peça de teatro lá em Indaiatuba. Peça Ubu Rei, que já havia assistido por outra companhia de teatro quando era adolescente e minha mãe fazia parte do elenco,uma criatura na minha frente resolveu gravar toda a peça pelo celular, sai de lá irritadíssima, pois fiquei com os olhos doendo por causa da claridade do celular e com dor de cabeça. O teatro estava lotado e eram cadeiras numeradas, nem pude trocar de lugar. Fora o Barulho. Triste isso.
ResponderExcluirPois é Claudia, uma vez em São Paulo, no show da Banda mais bonita da Cidade também tinha um pessoal assim, bem na frente, e quem está atrás que lixe, se vê ou não não é problema do mal educado que está a frente... E assim as atividades que deveriam ser de lazer vão se tornando de estresse... Ai de nós.
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