Já
não sou quem eu era.
Sim,
pois mudamos a cada minuto, não apenas com rugas novas ou mais um
fio de cabelo branco, mas o modo de ver as coisas; não no que se
refere à perda de visão, cataratas, miopias e outras que se
acentuam com a velhice, mas o modo de perceber as coisas, pessoas,
sentimentos, ações…
Também
não sou o que eu queria ser. E ser metamorfose não é questão de
preferir ou escolher, é de viver, lutar, perceber, perceber-se,
sobreviver… Além do “estar”, “ser”. Sem essa de “to be”,
que ser é muito mais profundo que estar, pois independentemente de
onde e como se “está” o que se é, é ainda maior. E embora o
fato de “estar” interfira metamorfoseando o ser, ele é.
A
vontade de ser outro o torna uma pessoa que não aquela que gostaria
de ser, e ainda uma diferente daquela que é. Como que comunga-se de
ambos e se torna aí uma terceira pessoa. Não, deixemos Freud e a
teoria dos recalques fora disso, afinal, “um charuto é as vezes
apenas um charuto” não disse ele mesmo?
As
expectativas, correspondidas ou não, os lugares, as pessoas, os
signos redescobertos, redefinidos, redesenhados, alinham pareceres
claros e obscuros num jogo de luz e sombras, encerram visões
açucaradas e freios controladores, a lagarta entra na solitária
repressora do casulo para metamorfosear, e dali sai, tanto faz se
mariposa ou borboleta; se liberta, completa, já não é lagarta.
E
a barata de Kafka? E a mosca de Cronenberg?
E
se a mosca pousa na sua sopa? Você a espanta ou se espanta? O que
lhe causa espanto? A mosca ou o medo de ser a mosca?
Foto: Djair - Espantalho - Parque D. Carlos I - Caldas da Rainha, Portugal - 05/10/2017 - Evento: Tradições da Vila.
Isso me remete ao comercial o efeito Orloff, lembra? Eu sou você amanhã. Aí em uma revista não lembro se era a MAD, ou Chiclete com Banana ou as do Glauco (minhas leituras de cabeceira na aborrescência) tinha uma tira com o efeito Orloff. Um cara bebendo tranquilamente na poltrona de casa e aparecia um cara e o da poltrona (não o tão citado pelo hoje sem graça Didi Mocó Sonrisal) pergunta: Quem é você? O que apareceu do nada diz: Eu sou você amanhã. O da poltrona diz: E quem sou eu hoje caral$*#&¨@(? Isso me faz pensar no que eu sou hoje, ou o que eu vou me tornar amanhã? Sei lá,melhor eu vender todas minhas coisas e ir ser mendigo nos portões musicais de Graceland, em Memphis. Tocar um violão e com esmolas comer um sanduba vez ou outra. Abraço do Baratta.
ResponderExcluirIsso aí Baratta,comida e música. De que mais precisamos?
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