“Tem dias que a gente se sente, como
quem partiu ou morreu.”
O
Verso é de Chico, o Buarque de Holanda, é bom falar, vá que confundam com o
Xavier, o de Assis, o das Chagas ou pior, o Picadinho... Mas voltando ao verso
e aproveitando o cinza do dia, que anuncia chuva mais tarde e nem por isso
perde o abafado que faz o dia moroso e pesado.
Quem não tem dias que não tem vontade de levantar da cama? Quem não
passa mal em alguns dias, e um “passar mal” no sentido de não aguentar a si e
aos outros muito menos; e quer mais
curtir a tristeza a depressão, a “percundia” – como diz minha tia Tereza, em
casa, sem ninguém perturbando?
Porque
não cultuar a tristeza de forma salutar? Deixar que ela penetre até os ossos, e
fria, densa, manifeste-se em lágrimas, em poemas sem nenhum valor literário,
mas ricos nas propriedades do ridículo, do desabafo, da terapia e que de quebra
podem ser rasgados libertando o coração, queimados se o triste em questão é
chegado a um efeito especial (pois que nessas horas os melodramas podem ser
vividos sem vergonha), e curtidos exorcizando a tristeza que de outra forma
viria em algum momento envenenar o pulmão (já que segundo a medicina oriental é
ali que as doenças geradas por tristeza se manifesta)? E porque não com um gim
tônica na mão ao som de fados? Já ao terceiro (gim e não o fado) costumo
sentir-me melhor. E é hora de trocar os fados de Amália e Mariza pelos
tangos-fado de Cristina Branco.
Só
assim depois a alegria terá um apimentado a mais, e os risos não serão tão
fúteis, e os momentos de sol terão brilho maior. Não há receita para alegria,
para felicidade, mas ainda é um bom remédio deixar que a tristeza venha e
depois expulsá-la porta a fora, varrendo todos os seus resquícios, como se
limpa a casa, passando pano molhado pra refrescar e tirar pó e sujeiras dos
cantos. Até porque não creio em alegrias constantes como naquelas de comerciais
de margarina. Afinal, depois daquele lindo café, alguém vai lavar a louça,
recolher o cocô do lindo cão que está ali ao lado, e o iogurte pode não cair
bem e dar uma cólica daquelas na beirada do umbigo, seguida de aquosa e fétida
diarreia.
E antes que venham conclusões precipitadas, a respeito de eu estar triste, hoje estou bem alegre, apenas resolvi escrever sobre tristeza, pois é um sentimento também salutar, embora já tenha dito o poeta compositor: É melhor ser alegre que ser triste.
Como sempre reflexivo, introspectivo e digo não por sua característica, mas porque seu texto entra dentro da gente, fazendo parte da nossa alma... Filosófico, porque levanta discussões dignas de mesas redondas e inspirador, porque nos faz olhar a tristeza com outro ponto de vista...
ResponderExcluirEsse aqui, balançou... quase verteu uma lágrima mista de felicidade e tristeza, pois é isso que as vezes a depressão permite a confusão de sentimentos...
Nota? esse aqui não vou dar um valor... Sabes o que acho da tua obra, mas cada palavra faz sentido e tem todo um significado...
Um grande abraço
Rafinha
Tristezas não pagam dívidas é o tíulo de um filme.
ResponderExcluirGostei.
perfeito....
ResponderExcluirALAN COSTA =]
Parece nouvelle vague bonjour tristesse e outros... também gostei muito
ResponderExcluirDjair,
ResponderExcluirEu acho que a alegria e a tristeza andam juntas sempre, nunca estará 100% alegre ou vice versa. No caso da tristeza deixem sozinhos para chorar e não ficar consolando é pior, a própria pessoa tem que se refazer para melhorar. Parece que lava a alma e purifica, tira o peso e lá prá frente voltará a sorrir, daí sim dar um aconchego e estar junto.
ótimo post.
abs.
Roberto Iabe
O mesmo digo para estar sozinho.
ResponderExcluirQuerer estar sozinho de vez enquanto não é doença.
Abs.
Olá querido Djair...acho que a tristeza faz parte da nossa vida...assim como a felicidade é feita de momentos...há momentos que a tristeza bate e bate forte...deixemos que queime tudo que nos dói na alma e depois que esse fôgo apagar virá a alegria de ter queimado as coisas ruíns que nos faziam tanto mal...a tristeza é boa na sua justa medida porque uma pessoa triste o tempo todo ninguem aguenta né??
ResponderExcluirComo sempre me delicio com teus "contos"...obrigada por dizer por nós aquilo que nao conseguimos ou nao queremos expressar.
Beijao com imenso carinho...amo vc meu amigo...Soni@
Djair, ontem assisti a um filme que gosto muito, Divã, inspirado em livro da Martha Medeiros(nunca li nada dela, talvez o faça um dia), com a excelente Lília Cabral. Logo no início do filme ela diz algo assim “se eu disser que tive problemas, não foi por falta de felicidade"...e então ela relata sua história, seus amores, seu casamento, a perda da mãe, o relacionamento com o pai, os filhos, o trabalho....relacionamentos que tem beleza, alegria, mas também tristezas, e acho que a beleza do filme é mostrar que a tristeza é algo intrínseco a toda essa experiência de viver. No Divã ela vai remexendo as lembranças, vivendo outras histórias, outros amores e perdas e no final do processo não sai nem mais feliz nem menos triste, mas sai outra, renovada....acho que é essa é a melhor mensagem do filme e também do seu texto: somos tudo junto e misturado, felicidade com tristeza, vice-versa e ao contrário. Tem dias que minha felicidade me dá tristeza porque tenho o desejo infantil de que aquele estado dure indeterminadamente, tem dias que a tristeza toma conta de mim e no final faz com que eu me sinta feliz comigo mesma por me permitir ser triste e ficar em casa, sozinha (de pijama, de preferência!) ...por isso adorei seu texto. Senti que estou menos só nessa montanha russa que dá tantas voltas e leva a gente de baixo para cima, e de cima para baixo sem cessar. beijos! Wânia
ResponderExcluirDjair,
ResponderExcluirNo pain, no gain. Sofra, aprenda e evolua... Realmente tristeza é boa! Um abração!!!
Eu sou daquelas que deixam a tristeza ficar,ficar,ficar..Porque é preciso viver o luto,não adianta pular etapas,fingir uma cura.As pessoas têm medo de mostrarem-se frágeis.Vivem tal como caracois,com medo até chorar.
ResponderExcluirA tristeza é uma das formas mais sinceras de mostrar-se humano;despir-nos em toda nossa plenitude,uma plenitude fragilizada.
Beijão,Djair!Dani.
Querido Djair
ResponderExcluirSempre sensível e fugindo do lugar-comum, seu texto chama a atenção para uma questão séria: a necessidade imperativa de estar sempre "bem", "feliz" e "de acordo" que a sociedade capitalista e de consumo nos impõe, vide a tonelada de livros de auto-ajuda que encabeçam as listas de mais vendidos. Por que será?
Amei o texto Tio Djair. Confesso que nunca havia parado pra ler, mas estou perplexa com tamanha naturalidade das palavras. Bjs ;)
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