Igreja matriz de Ubatuba. Foto: Pref. Mun. Ubatuba |
Mesas
de madeira, comme il faut, luz difusa, nunca
lotado, garçom atencioso… Mas não era apenas isso, não era a
comida com porções bem servidas, dentro de um preço honesto, e nem
pelo sabor digno de agradar palatos mais enjoados; não era pelo
vinho, ou pela decoração que me deixava com vontade de levar várias
peças para casa, nem pela abundância do verde em vasos; aliás, era
por todo esse conjunto sim, mas o que muito me atraia para o charmoso
bistrô era que ali aconteciam, enquanto saboreávamos nossos pratos,
no meio do saguão, ladeado por nossas mesas…
aulas
de tango, às sextas e sábados a noite. No máximo dois pares a cada
hora, com direito ao casal de professores de mostrar passos e dançar
com os alunos. E ali embevecidos com a dança em seu gestual
libidinoso, a música naquele tom que acaricia os ouvidos, comíamos
mais devagar e apreciávamos o tinto sem pressa.
Para
mim, que nunca aprendi a dançar, nem com as aulas de dança de salão
e toda a paciência de Laura, nem com o incentivo de Patricia,
aquilo, sim, era uma festa para os sentidos. O melhor programa para
as noites chuvosas do balneário.
Por
tudo isso, o espaço se cristalizou e eternizou-se em minhas
lembranças. O frequentamos todas as vezes que fomos a Ubatuba,
várias ao longo do ano, a cada pequena folga obtida ou roubada à
labuta. Até que um dia ele fechou. E aí, uma pequena tristeza
nublou nossos olhos, como o céu de Ubatuba onde tanto chove, e
lamentamos aquela “perda”.
Hoje,
me veio à mente o rapazote que víamos sempre a tomar aulas, com a
parceira bem maquiada e vestida, assim como ele, a caráter para a
dança. E o simpático professor, pouca coisa mais velho que ele, a
ensinar um passo. Da mesa, sorrimos ao escutá-lo: “_Mas isso é
muito descortês, eu me recuso a fazer isso com uma dama.” No que o
professor chama a professora-assistente, e diz: “vou te mostrar, e
aí, você vai mudar de ideia”. Toma nos braços a colega, numa
volta passa-lhe a perna por trás da sua, como se fosse um golpe a
dar-lhe uma rasteira, e ela, levantando a perna, inclina as costas
como se fosse cair, amparada por seus braços, enquanto uma das mãos
segura a de seu condutor, retorna à posição ereta, enlaça com sua
perna de polvo as daquele que a conduz e saem a rodopiar um sobre o
outro. Apenas uma coisa nos faltou: coragem para aplaudir!
que texto lindo,senti como se estivesse vendo,gostei muito,barabéns e um abraço
ResponderExcluirMemoria viva, emocao a flor da pele! Lindo
ResponderExcluirBj Le