Nos
anos 1980, Henfil (quem não sabe de quem se trata recomendo
googlear) tinha uma coluna na revista Isto é (Que tinha uma linha
editorial bem diversa do que se tornou hoje), e publicou ali um
verso, que, segundo ele, lhe teria sido entregue por um manifestante
que fazia parte do movimento pela campanha das diretas já (Google
mais uma vez para os desavisados).
O
verso , simples, curto, mas que encerrava em sim o sonho que era
então o direito a escolha pelos representantes dizia:
“Se
não houver frutos
Valeu
a beleza das flores
Se
não houver flores
Valeu
a sombra das folhas
Se
não houver folhas...
Valeu
a intenção da semente.”
Naquele
ano, o congresso sob a mão da ditadura não aprovou as eleições
diretas para aquele pleito, embora tenha permitido que um civil
depois de 20 anos pudesse concorrer (em eleições indiretas, friso)
à presidência do país.
Hoje
termina uma greve de 4 meses, onde se reivindicava reposição de
perdas salariais, condições de trabalho dignas e sobretudo:
respeito!
Infelizmente,
há anos o funcionalismo público, diferente de todas a categorias
profissionais, não tem uma data base, e só recebe aumento se e
quando entra em greve. Em contrapartida as greves tem sido cada vez
menos abrangentes, uma vez que há décadas a política federal
(desde o boom do tucanato neoliberal), tem sido de terceirização da
mão de obra no serviço público, extinguindo cargos e contratando
funcionários terceirizados onde as empresas contratadas a peso de
outro estranhamente muitas vezes abrem falência e deixam os
contratados a deriva, sobretudo em época de renovação contratual.
Assim, esses terceirizados não fazem greve e a maior parte dos
serviços se mantém, enquanto o serviço público é desmantelado.
Enfim,
a greve acaba hoje, a luta não.
E
se não houve de fato uma reposição sobre as perdas salariais (já
que não somos deputados ou juízes, muito menos banqueiros), se não
houve melhorias nos planos de carreira, se não houve um ganho
decente na cobertura de planos de saúde ou vale refeição, se o
governo que aí está (e que se levantou sob a égide de um partido
criado justamente devido às grandes greves dos anos 1970/80) não
mostra respeito a categoria e à luta por melhores condições de
vida e de trabalho...
Valeram
as caminhadas, valeram as pessoas que conhecemos, valeram os filmes
vistos durante o Cine-Greve, valeram as poesias no Saraus!
Foto: Fábio Massanti - Sarau da greve
Parabéns, força, coragem e persistência, um dia nós (Servidores estaduais) chegamos lá, mesmo com as intervenções na Unesp, Usp e Unicamp.
ResponderExcluirLinda a sua mensagem! Sim, ao menos houve a intenção da semente. A terceirização é uma vergonha, que se perpetua apesar das suas consequências: serviços mal feitos, mal pagos e caríssimos aos cofres públicos. Entretanto, não podem extinguir a solidarização, se a mantemos viva.
ResponderExcluirNa qualidade de ex-metalúrgico (com muito orgulho), participei de mais de uma greve. Já como funcionário público também estive envolvido em um número maior de greves.
ResponderExcluirTendo vivido nessas duas realidades distintas, me fica claro que como na iniciativa privada a greve causa prejuízo financeiro aos donos/sócios das empresas, em geral o resultado da greve era positivo para os funcionários, já como funcionário público, como o único prejudicado em praticamente todas as vezes é o povo, não resulta em nada positivo para o funcionário. Ao contrário! A mídia coloca a população contra o funcionalismo, ou quando não, despreza totalmente a greve e nem fala nada.
Com relação às pessoas que consultaram o Google (seria melhor consultar a www.ecosia.org e ajudar o meio ambiente), elas precisam mesmo é estudar história e URGENTE!!!!!
ResponderExcluirCom relação a poesia presente em sua crônica: Sempre belas e inteligentes palavras! Me delicio lendo seus textos! e: A LUTA CONTINUA!!!!
ResponderExcluir