sexta-feira, 27 de abril de 2012

Erga a taça...

 Bem, vamos a mais um texto sobre vinhos, como nos últimos dias tinha trocado comentários e impressões sobre a bebida extraída das uvas, segundo a Bíblia por Noé ao descer da Arca no Monte Ararat, algumas dessas impressões vou transpor para este texto; espero que ele não fique um porre, pois porre de vinho é um horror.  Aliás , como deve ter sido o porre e a ressaca de Noé, que inclusive  deveria ter espremido as uvas bem antes, afinal 40 dias de chuva, sem um vinhozinho, sem música,  deve ter sido literalmente... Um porre!
 Uma vez disse a Pitonisa de Malbec: ‘cada garrafa de vinho que acaba é como um amor que vai embora.’ E é verdade, mas o vinho, pelo menos nesse caso sai ganhando em relação aos amores. Substituímos as garrafas com maior tranquilidade e o vinho nos dá muito menos dor de cabeça. 
Citações a pitonisa, frases dignas de oráculos, Noé, o texto está a ficar um tanto messiânico, e se assim parece vamos chutar o balde de gelo, que vinho tinto se serve a temperatura ambiente, de Paris no inverno, fique claro.
No Cântico dos Cânticos, livro poético do antigo testamento,  a mulher esperava o amado com vinho de romã: dar-te-ia a beber vinho perfumado, licor de minhas romãs.”* Escrito por Salomão, o sábio rei, que reza a lenda, chegou a possuir 900 concubinas; disse dele que tomava o afrodisíaco vinho de romã para fortalecer-se. Tá aí um vinho que tenho vontade de provar. Não tanto pelo afrodisíaco, mas mesmo pelo sabor, aroma... Ao que se indica, ainda hoje tomado em Israel e por famílias judaicas que o fabricam. Creio que deva tratar-se de algo próximo ao licor, como o vinho do Porto; aliás, caso receba em casa os reis de Inglaterra, reza o protocolo que a única bebida que deve ser oferecida a eles é justamente o vinho do Porto. Inclusive, Portugal recentemente ganhou a batalha pela exclusividade de direito ao nome de “vinho do Porto”, que estadunidenses teimavam em se apropriar, embora o famoso vinho seja produzido apenas naquela cidade lusitana que lhe empresta o nome. Aliás, tive oportunidade de conhecer na casa de Vitor em Lisboa o vinho da ilha da Madeira é menos conhecido, mas tão delicioso quanto. E olhe que o querido amigo não se atém ao vinho da Madeira, aprecia o tinto de boa cepa, e compra seus 300 litros por ano, de uma só vez, direto no produtor, garantindo qualidade.  Vez ou outra, conta que na adega onde os estoca uma ou outra garrafa “estoura” e a sujeira está feita. Mas que se há de fazer, senão abrir uma garrafa intacta para beber, enquanto se limpa o estrago feito pela garrafa que se foi:  afinal, não adianta chorar pelo vinho derramado.
No Piauí, produz-se licor de caju, que se assemelha ao do Porto, licoroso, de intenso vermelho, mas não tão difundido como a cajuína que encantou Caetano. Mas voltemos ao vinho.
Dia desses, enquanto tomava minha taça junto ao teclado, brindando com Wania que tomava seu Malbec do outro lado da cidade,  comentei com outro amigo, Rafael, que descrevia o vinho que tinha em casa, mas não bebia...  A garrafa estava fechada... e aí, já sob os efeitos do tinto, argumento que: “dentro de cada garrafa de vinho mora um espírito angustiado que só é liberado depois que se abre a garrafa, sente-se o cheiro, aprecia-se o vermelho a cair com suavidade e sensualidade na taça, aí então ao primeiro toque do líquido na língua o pequeno ser atordoado desperta, mas só é inteiramente liberto quando a garrafa chega à metade, a alegria dessa libertação faz com que também transbordemos em sorrisos, esperanças, e alegrias... Mantê-las fechadas é crueldade.”  (Sim, transcrito ipsis litteris, portanto perdoe a viagem de um espírito embriagado.)
 Um conhecido, certa vez, querendo arvorar-se conhecedor (afinal, é daqueles que tudo sabe, tudo conhece, e tudo dele é o melhor),  falava em tom alto (embora ainda à primeira taça, o tom era o da arrogância e não do etilismo): “Nossa, esse Proseco está ótimo!” Olhei para garrafa e confirmei a suspeita: Era um Lambrusco! Branco! Mas Lambrusco! Ninguém tem que conhecer, aliás, quem no Brasil conhece de fato sobre vinhos? (e aí me refiro não a sommeliers, que o fazem por obrigação da profissão, mas nós mortais que apenas apreciamos a bebida.) O que é um bom vinho? Aquele que me agrada o paladar, o olfato... ponto! 
* Cântico dos Cânticos, Livro 8, verso 2.

10 comentários:

  1. Deu até sede, não abri o vinho ontem, mas certamente que o abrirei hoje...

    Grande texto, como sempre os sabores vem a mente.

    Abraços

    Rafa

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  2. SAUDEEEEE =]

    alan costa ....

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  3. É isso mesmo, o melhor vinho do mundo é o que te apetece o paladar! Mais um belo e diveridíssimo artigo!

    Helder Lopes

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  4. Concordo com o Helder Lopes...um bom vinho é aquele que apetece nosso paladar, mas...não podemos excluir a hipótese da aprendizagem, afinal, o paladar é um sentido como qualquer outro e deve ser aperfeiçoado na medida do possível. Do Vinho do Porto aos frisantes passando pelo famoso "sangue d'boah" (rsrsrsrsr). São experiências que enriquecem nossa alma e, por que não dizer, aquecem nosso coração.Buscar a sutileza, a compreensão, compreender as sensações....somente ai você esta apreciando um vinho não importa se ele é licoroso barato ou algum prosecco.
    Sergio Prado

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  5. Ei Djair que sabe falar das coisas do vinho e da amizade! O vinho combina com amigos, boa conversa e também com amores que vão, que chegam, que pairam, não é? Sim, eu adoro uma boa taça de vinho branco ou tinto e assim como você acredito que o bom vinho é aquele que me agrada o paladar - nem seco, nem doce, nem ácido demais - mas confesso que essa é uma paixão relativamente recente, pós-separação/ções, numa fase 'nova' quando o vinho se tornou também um bom companheiro de silêncios, de trabalho, de leituras...um bom companheiro, mas sem excessos, que fique claro....mas também uma boa companhia nas novas amizades, no prazer dos encontros com amigos, na conversa jogada fora sem compromisso, apenas verdadeiramente afetuosa e divertida!!! ...um brinde DJ!!!! E que venham sempre novas garrafas e novos encontros e muitas conversas!!!! Wânia

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  6. Parabéns pelo texto, Djair. Também gosto de vinhos. Tenho me esforçado para beber vinho com naturalidade, sem "endeusá-lo", assim como bebo um copo de cerveja ou os sucos de minhas frutas favoritas.
    Luiz Otávio de Lima Pereira

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  7. Só tenho uma coisa a dizer: preciso libertar um espírito angustiado que tenho numa garrafa que ganhei no Natal ainda! E como disse a Myrna, tin tin!

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  8. Menininho
    Tudo bem?
    Depois de ler esse texto vou no fibnal de semana comprar um vinho!!!!
    RSRSRSrs
    Ainda mais com esse tempo!!!
    Bjs
    Rita

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  9. Pai, traga para mim um cálice (de vinho)!!
    Beijos

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