quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Palavras, prajalpas e expressões

Expressões idiomáticas são coisas que me agradam, sejam de uma determinada região, de um gênero, de uma pessoa comum que no falar preguiçoso e moleque, malemolente cria o próprio linguajar.
 
Muitas vezes acabo mesmo por adicionar à minha fala as expressões de outrem, como fiz com a de Chico, marido de Katya, minha grande amiga que mora em Recife. A passeio na cidade, ele foi buscar-nos de carro à saída do metrô e, no percurso até sua casa, ao parar no sinal, foi requisitado por uma pedinte, a quem respondeu simplesmente: “_hoje não!” Perfeito!!! Em geral o que fazemos nessa situação? Mentimos... Dizemos não ter trocado, o que nem sempre é verdade. Já dizer: “hoje não!” entende-se: Hoje não vou dar, quem sabe, em outro momento (por estar com ânimo de espírito diferente), pode ser que eu lhe dê. Não se está a mentir e encerra-se o assunto.
 
A própria Katya me brindou pela primeira vez com a expressão “até uma horas”, que em Recife é sinônimo de “muita coisa”, ao sair com: “Nossa, tem suco até umas horas”, depois de fazer uma jarra imensa de suco. Depois ouvi em várias outras situações e acostumei o ouvido a ela.
 
Uma vez ao trocar a água do motor do carro em um posto de gasolina, onde sempre abastecia, ao indagar o preço do serviço, que pareceu dar certa “mão de obra” ao atendente, ele reponde: “A casa cobra X.” Ou seja: “O preço do serviço é “X” mas se quiser dar uma gorjeta, eu agradeço.”
 
Em Passos, sudoeste de Minas Gerais, bom dia, boa tarde e boa noite, como vai você?, tudo bem?, se resume a "Bãooooo!" Já em Oliveira, ao sul do mesmo estado o mais comum é: “Oiiii Beeeem, CE tá boa/bão?”

E o lanche da tarde é sempre um: "Toma café com quitanda!"


 
E tem, ainda, os ditados, muitos dos quais eu herdei de minha mãe que se saía com alguns como: “Tem pobreza e tem “mundiça.” Ou de outras pessoas, como seu João, um senhor septuagenário que conheci na Bahia, à época que era técnico em piscicultura. Este senhor sempre morou na roça, em fazendas pelo interior e tinha o linguajar que pode soar rude a ouvidos mais delicados, como quando dizia (referindo-se a quem gastava demais ou simplesmente farolava): “É... quem tem tempo, caga longe.”
 
O próprio termo “prajalpa” que nomeia o blog, absorvi quando freqüentava os Hare Krshna do templo de Santos, onde residia  à época, e que freqüentemente usavam a expressão quando os assuntos começavam a ser menos proveitosos a um devoto. “Olha a prajalpa...” Também deliciava-me com eles em situações como quando um devoto chegava cansado da jornada de vendas e divulgações dos livros e falava para o devoto interno (que cuidava do templo): “Faz uma vitamina para Krshna, vai...”, uma vez que todo alimento é oferecido a Krshna para purificação e só depois consumido pelos devotos. Ou quando um que não gostava de salada de pepino com casca dizia: “Mas você vai ter coragem de oferecer casca para Krshna??”
 
No Ceará, a primeira vez que fui a Fortaleza, estranhei o “Macho” anterior a uma indagação a alguém do sexo masculino, tanto quanto o Siá que também podia surgir como “siazinha”(de sinhá), precedendo a pessoa do sexo feminino.
 
E por ai vai... O Leitê quente de manhã do Paraná, o “Tri” e o “Bah!” que é mesmo tri-legal no Rio Grande do Sul!
 
Tive uma empregada cuja filha dançava no "bailé"... Afinal, bailé era coisa de baile, mas quem sou eu para corrigir? Viva o neologismo!
 
Recursos lingüísticos e termos que beiram o dialeto são tão comuns em nossa língua e a fazem mais rica e bela. Basta estar de ouvido atento.

Foto: Djair - Tia Vicência: "Toma café com quitanda!" Casa de Tia Maída - Quebra Cangalha - Oliveira - MG.

10 comentários:

  1. Ouvi muito...
    Em Tocantins, visitando minha irmã: Bora lá (ir embora), banhá (tomar banho) e tantos outros termos regionais em tantos outros estados. Acho que são essas diferenças que fazem nosso país tão belo e tão rico. Né meu?
    O farol está aberto. Vou indo!

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  2. Que gostoso poder ouvir estas palavras. Vem a saudade de mina mãe.....venha se banhar, vou te dar um crok ....enfim é isso viva a oralidade, ....

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  3. Dias desses eu ouvi de um curitibano a expressão: No mínimo o sujeito tá fora da casinha! Achei tão engraçado que prometi passar minhas próximas férias no sul.
    Bora lá, pego a BRIOI e sigo reto toda vida!

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  4. Nossa, agora você tocou num assunto que me agrada muuito ! rs
    Eu fico encantada com essas expressões, especialmente as mais antigas, vindas dos nossos pais ou avós e seus amigos da mesma geração. rs Eu poderia passar horas e horas, quietinha , só ouvindo as conversas ...sem que eles percebam rs.
    Aliás, esse mesmo assunto ja foi abordado entre meus irmãos e eu. Todos confidenciaram que tem preferência por certas visitas que frequentam a casa dos meus pais , justamente pela conversa que ouvimos qudo eles se põem a falar rss.
    Eu particularmente tenho dois casais preferidos . E geralmente eles aparecem na casa da minha mãe logo cedo, ou porque vieram até o posto de saúde "tirar ficha" pra consulta, ou porque vieram "pra física" (ginástica para o grupo da terceira idade rs )e depois deram uma passadinha pra tomar um chimarrão com meus pais.
    Pra variar ,sempre que eles chegam eu ainda estou na cama e, de lá , fico só ouvindo o bate papo e rindo sozinha rs; me recuso levantar e perder aquele momento, pque sei que a conversa vai mudar com a minha presença rs. Que coisa gostosa ! Que idade maravilhosa...que amizade bonita ! E que humor expontâneo mesmo falando das mazelas da vida rsrs!
    Tem horas que faz-se aquele silêncio na cozinha sabe... e eu penso : Será que eles ja foram? Mas eu nem ouvi se despedirem ... E derrepente do nada começam a falar novamente rs, e eu percebo que só estavam pensando no próximo assunto , enquanto a cuia de chimarrão passa de mão em mão rs.
    E no meio da conversa , meu pai fala do pé de Brinco de Noiva que ele cultiva cuidadosamente, pque os " cuitelinhos " aparecem ali todas as manhãs por causa da flor.rs
    Falam da melhor lua para o plantio,falam de "mio tardiu"...
    Meu pai:
    _ "Carpi até pra diante daquele fumero brabo e parei... me começo um ardume nas paleta, e eu vim pra casa!Mas ja fiz uma chapoerada...parece que foi me carmando mais! "
    Visita:
    _ "Mas porque o senhor não tira uma ficha e vai cunsurtá? "
    Minha mãe:
    _ "Pois eu ja falei pra ele tira uma ficha... "ualis" (ou então...) que pague particular mesmo e vai ver o que é essa dor nas paleta que ele tem , mas não , prefere ficar tomando essa " chapuerada" pra não gastá! "
    Meu pai :
    _ "Aaah bobiá pra lá! Se cunsurta com esses "barra de bosta" daí ??? Vão me dar uma sibalena e me manda pra traz ! "
    Minha mãe:
    _ "...pois então que sofra ! "
    Visita :
    _ "pque o sinhor num esprementa í na física junto cunóis ??? "
    Meu pai :
    _ " Bem capaz mesmo ! Fica servindo de paiaço dos outros inquanto a "prefessora" diz : " ergam os braços... agora se apóiem no ombro do cumpanhero e puxem uma perna pra traz...agora faça massagem nas costas do outro." ...Ahhh bobiá pra lá...(risos )
    Minha mãe:
    _ " Creeeedo que home bobo , pois isso tudo faz parte da físicaaaaaaaaa ! Tudo pra ele ele pensa que tão querendo fazer ele de bobo....credo !!! "
    Visita:
    _ " Pois eu digo que ia sê bão pro sinhor cumpadre! Eu memo me livrei daquele inchume nas pernas depois que comecei í na física! "
    Segue o silêncio ... e o meu pai se calando pra não discordar mais uma vez da visita . Mas segundos depois engatam outra prosa rs . E sempre vem a frase que eu adooooro escutar :
    " O QUE "SINIFICA" ISSO JAIREEEE !!? "
    ( essa frase é ótimaaa !rs)
    É a comadre da minha mãe contando das pirraças do compadre rss... " Ele se imburra comigo devarde comadre! "
    E logo o compadre se defende. rs
    ...
    Como é bom escutar eles "prozear"
    Só espero que isso tudo não se perca. Ou que pelo menos demore para acabar, pois essa nova geração vê isso como vergonhoso.Falar errado... Vemos netos corrigindo avós, porém ja trazendo na ponta da lingua um dialéto totalmente estranho para eles , mas que esta na moda. ( quem não fala assim não é descolado vôooo! )
    E assim segue o mundo e seus encantos culturais! :)

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  5. Pare de bulir comigo porque não me coso com vosmecê, seu malcriado! (com o "l" bem pronunciado). Homenagem póstuma à cearense de Orós Dona Sebastiana, minha avó.

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  6. Eu gosto do modo como falam no Ceará pra você imaginar algo bem grande ou bem feio ou ... Eles dizem: "Pense numa coisa ..."
    rsrsrs, e você fica quieto, só imaginando como é a coisa rsrsrs, mas bailé não é um tanto engraçado? rsrsrs

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  7. Fiquei lendo que a Ro escreveu e viajei. Ro que saudades quando iam na minha casa para tomar café e conversa, ai ouvia de tudo.....foi para mim o melhor tempo de aprendizagem.Juntava tio, tias mãe e:
    -meu tio bença minha filha, antes de eu pedir
    resposta da minha mãe: Ja falei para essa cendeira te dar bença mané........
    _-Mané fala: Deus te faça Feliz....e assim por diante.

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  8. Eu gosto das expressões do interior de São Paulo, onde meus pais nasceram. Mas adorei o:
    quem tem tempo, caga longe, rs rs rs
    bjs

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  9. Ah, que djilícia! Texto mais gostoso do mundo. Um beijo, seu lindo! Graciele

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  10. Ahh tens razão De, são muitas muitas expressões e regionalismos nessa nossa terra rica. Pra lembrar algumas ai seguem: mais magra de bacalhau de porta de venda; o defundo era maior ou menor [alguém com roupa de tamanho inadequado] e por último um qualificativo que eu adoro "paletó de caga em pé" [quando o tal paletó está curto além do necessário] e calças pula brejo [nomeadas modernamente como pescador] rsrsrs tudo muito saboroso. bj Le

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